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No Dia do Saci, gincanas são utilizadas em ambiente pedagógico para estimular o conhecimento de lendas e culturas brasileiras

Outubro é parecido em muitas escolas no Brasil. Logo as salas estão decoradas em roxo e laranja, varais com pequenas abóboras e morcegos adornam as paredes, e as crianças planejam suas fantasias de bruxas e de vampiros. O Halloween, comemorado no trigésimo primeiro dia do mês, é uma festa de origem celta que se popularizou e ser mercantilizou nos Estados Unidos, migrando então para o resto do mundo. E ainda que seja uma comemoração divertida, tem pouco a ver com as raízes da cultura brasileira.

Foi a inquietação de ver as lendas brasileiras sendo esquecidas que fez com que amigos paulistas se reunissem e criassem a Sociedade de Observadores do Saci (SOSACI). Mouzar Benedito e Mario Cândido, dois de seus fundadores, contam alegremente que o movimento de resistência nasceu de uma brincadeira e que tomou força de maneira muito orgânica. A primeira ação deles foi a festa Grito do Saci, em 2003, que aconteceu em São Luís do Paraitinga, atraindo muito mais pessoas que o esperado e tornando-se uma ação recorrente, comemorada todo 31 de outubro.

Mas por que ele, dentre tantos outros personagens da mitologia brasileira? Mouzar diz que sua figura é de fácil reconhecimento, com lendas espalhadas por todo o território nacional. O personagem originou-se como um mito indígena, modificou-se em contato com as culturas vindas dos países africanos e também se contaminou com influências europeias: “Ele é a síntese do povo brasileiro. E tem como característica ser pobre, perneta, alegre, brincalhão e de uma cor vítima de preconceito. Além disso, ele é protetor do meio ambiente, não tem melhor figura”.

Para Mario, a história do menino de uma perna só é especialmente cativante para as crianças e jovens, público que é necessário atingir para manutenção da cultura local: “Toda criança gosta de história de assombração, ficam vidradas, eu era assim. O Saci fascina tanto as pessoas porque desenvolve o lado criativo delas”. E é fascinando que a SOSACI começou seu trabalho com as escolas. Sem uma metodologia pré-definida, guiando-se pela criatividade, a SOSACI faz intervenções em ambientes pedagógicos, levando gincanas para contar a história do Saci e estimular o conhecimento de outras lendas brasileiras, como Curupira e a Iara. Eles aproveitam também para conscientizar da importância da natureza, hábitat de muitas dessas criaturas.

Devagar, escolas começaram a ser influenciadas e a abandonar as decorações do Dia das Bruxas, assumindo a data como o Dia do Saci. “No final de setembro de 2004, uma professora de uma escola de Itamira (BA), tocada pelo nosso projeto, chegou numa reunião e falou: Por que neste ano não comemoramos o Dia do Saci? As crianças que estavam desenhando abóboras mudaram o projeto, passaram o mês inteiro desenhando o personagem e se preparando para uma grande festa que dura até hoje. Isso é muito legal”.

O movimento de resistência também se estende para as questões jurídicas. “Entendemos que se, que se o Dia do Saci se tornar uma lei, a mitologia brasileira vai ser implantada dentro do currículo escolar”, diz Mario. Ainda que, às vezes, haja divergências, principalmente ligadas a setores religiosos, a data já foi instituída como lei municipal em cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Ceará, Espírito Santo e Minas Gerais.

A SOSACI gosta de reforçar que o dia é de estudar e que é levado muito a sério por todos os integrantes do grupo. “Não é gozação. É uma data de defesa da cultura brasileira, dia de debate e de festejos. Ao invés de comemorar as coisas estrangeiras dentro da escola estamos celebrando a mitologia nacional e sua preciosidade”, conclui Mouzar. Com tanta imaginação e criatividade, dá para pensar vivamente em um Saci serelepe, feliz que sua lenda seja ferramenta de educação e empoderamento.

 

Dia das Bruxas não, Dia do Saci!
Dia das Bruxas não, Dia do Saci!