Conheça as invenções inspiradoras de brasileiros que querem melhorar o futuro de todos nós
Uma forma de se comunicar com quem está em coma, uma caneta certeira no diagnóstico de câncer, um “bafômetro” que identifica rapidamente mais de 15 tipos de doenças e um remédio natural e potente contra candidíase. No Dia Mundial da Saúde, conheça os projetos de quatro jovens cientistas brasileiros que estão inovando as pesquisas na área da saúde.
A volta dos que não foram
“Se você está me ouvindo, abra seus olhos. Se está me ouvindo, aperte minha mão”. Estas são algumas das perguntas básicas utilizadas no método neurológico Escala de Glasgow, criado nos anos 70 e até hoje usado para avaliar o nível de consciência após traumas cerebrais. Há uma década, pesquisadores descobriram que muitos pacientes considerados em coma ou vegetativos por esse método, na verdade, podem ouvir o que acontece ao redor.
Baseado nesse achado, inspirado pela pesquisa do neurologista brasileiro Miguel Nicolelis, que criou o exoesqueleto controlado pelo cérebro, e motivado por uma história pessoal – sua bisavó entrou em coma antes de falecer –, Luiz Fernando da Silva Borges, de então 17 anos, começou a investigar uma maneira mais eficiente de usar a interação computador-cérebro para avaliar os processos de consciência. Era o começo do projeto Hermes Braindeck, um computador portátil que usa inteligência artificial para “ler a mente” de pacientes em coma.
Hoje aos 20 anos, o brasileiro que é natural de Aquidauana, no interior do Mato Grosso do Sul, já conquistou mais de 50 prêmios pelo mundo. Isso inclui o de melhor invenção na categoria engenharia biomédica na maior feira pré-universitária do mundo, a Feira Intel International Science and Engenheering, feito inédito para o país, e o reconhecimento da Associação para o Avanço da Inteligência Artificial, do Vale do Silício.
“O mais significativo para mim foi a nomeação de um asteroide com o meu nome, o 33503 Dasilvaborges, pelo MIT Lincoln Laboratory”, relata Luiz.
O computador que lê mentes já está em fase de testes, que serão realizados em parceria com o hospital Santa Casa de Campo Grande. Uma vez testada, as vantagens são muitas, como cita Luiz: “O paciente poderá dar pistas ao médico sobre sua condição, auxiliando no tratamento, poderá se comunicar com familiares e até ditar seu testamento. Pessoas vítimas de um crime poderão fazer a denúncia. Estes são só alguns exemplos das possibilidades que esta tecnologia pode trazer para um futuro próximo”, enumera.
Na ponta da caneta
Uma equipe de cientistas e engenheiros da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, está trabalhando em uma maneira rápida e precisa para diagnosticar tumores usando um dispositivo semelhante a uma caneta. Quem lidera o grupo é a brasileira Livia Eberlin, de 32 anos, que é professora do Departamento de Química.
O chamado MasSpec Pen pode detectar câncer de pele, mama, tireoide, pulmão, ovário e cérebro com precisão de mais de 95%. “O que desenvolvemos é um dispositivo portátil que, ao tocar o tecido, extraí moléculas que são características do tecido normal ou canceroso. Usando machine learning e um software com um banco de dados que montamos, podemos fornecer um diagnóstico preditivo em menos de 10 segundos”, afirma Lívia.
Além de aumentar a rapidez e precisão dos diagnósticos, o dispositivo vai ajudar a melhorar a eficiência das cirurgias oncológicas de extração de tumores. Para aperfeiçoar suas pesquisas, a brasileira foi contemplada recentemente com uma bolsa de US$ 625 mil da Fundação MacArthur, conhecida como “bolsa para gênios” e concedida para pessoas ou instituições criativas e comprometidas em construir um mundo melhor.
“Bafômetro” aliado
Nascidas em Feira de Santana, na Bahia, as irmãs Júllia Nascimento, de 26 anos, e Nathalia Nascimento, de 31 anos, descobriram que poderiam unir suas pesquisas em prol da Saúde. Nathalia é doutoranda em Computação e tem mestrado sobre inteligência artificial, e Júllia estuda Biotecnologia. Com o conhecimento das duas e do paulista Rheyller Vargas, técnico químico e também estudante de Biotecnologia, o grupo criou o OrientaMED, um dispositivo de funcionamento simples e, ao mesmo tempo, inovador.
Como uma espécie de bafômetro, o paciente assopra e o aparelho, em poucos minutos, é capaz de identificar cerca de 15 doenças, como gastrite, pneumonia, diabetes, Doença de Crohn e até intolerância à lactose. “Muitas doenças, especialmente as infecciosas, deixam uma marca biológica no corpo, que faz com que as pessoas exalem alguns tipos de gases específicos. É com base nesses gases que a gente faz a análise”, explica Júllia.
O grupo, que já fez testes iniciais com o produto, busca a parceria de hospitais para coletar mais dados. “Nós acreditamos que o OrientaMED pode ser utilizado como procedimento de triagem digital, de forma que simplifique a tomada de decisão do profissional de saúde”, diz Nathalia. “Além disso, por ser um dispositivo portátil, poderá ser utilizado em áreas remotas, regiões carentes e campanhas de saúde”.
Direto da mãe natureza
Cerca de 75% das mulheres têm ou vão ter candidíase, uma infecção fúngica que geralmente acomete a região genital da mulher, provocando coceira, secreção e inflamação. Engajada em descobrir uma maneira de neutralizar essa infecção, Maria Vitória Valoto, de 18 anos, conseguiu desenvolver um composto feito a partir de laranja que, segundo a pesquisadora, é 820 vezes mais efetivo que os remédios comerciais disponíveis, e três vezes mais barato para ser produzido. O projeto foi finalista da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace).
“Durante uma pesquisa de campo, encontrei uma laranja que estava quase inteiramente tomada por fungos, com exceção de uma pequena parte. Levei ao laboratório e, com a ajuda de meus orientadores, descobri que a parte saudável tinha uma bactéria que impedia o crescimento do fungo. A partir dela, desenvolvemos um composto contra a candidíase”, explica Maria Vitória, que é de Londrina, no Paraná.
Em 2015, aos 14 anos, Maria Vitória já tinha chamado a atenção por aí por desenvolver um sachê reutilizável que ajuda intolerantes à lactose a consumir leite sem problemas. “O sachê contém cápsulas com a enzima lactase, que falta ao intolerante. A pessoa coloca o sachê no leite por quatro horas e, depois, pode consumir tranquilamente. E o bacana é que o sachê pode ser reutilizado”, relembra.
Atualmente, o sachê está sendo desenvolvido pela jovem cientista em parceria com a Universidade Norte do Paraná (Unopar), que mantém em segredo contratual os avanços do procedimento.