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Longe dos amigos, parentes e professores, o isolamento social trouxe maior estresse para as crianças. Saiba estratégias para ajudá-las a expressar suas dores físicas e emocionais.

#Educação#Educadores#Ferramentas

Em imagem que ilustra como ajudar as crianças a se expressarem, uma menina segura diversas placas que lembram emojis de expressões faciais, indicando sono, alegria, tristeza, entre outros. Ela está olhando para a frente com um sorriso discreto.

Muito tem se falado sobre saúde mental neste momento. Com as medidas de isolamento social para controlar a disseminação do Covid-19, as pessoas passaram a buscar especialistas que as ajudassem a lidar com o medo e a ansiedade durante a pandemia.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país que apresenta maior prevalência de depressão na América Latina. E é também o país mais ansioso do mundo.

Os dados sobre saúde mental infantil são igualmente preocupantes. Antes do isolamento, estimava-se que uma em cada quatro a cinco crianças e adolescentes no mundo apresentavam algum tipo de transtorno mental. No Brasil, estudos registraram taxas de prevalência de 7% a 12,7%. Entre as principais causas estão a violência física e verbal, abuso sexual, negligência, falta de afeto, desnutrição, cobranças exageradas e até excesso de tempo em frente à tela.

Não podendo mais ir à escola, e longe dos parentes e amigos, o contexto apresentado pelo novo coronavírus trouxe ainda mais estresse para os pequenos. Mas mesmo sofrendo de distúrbios físicos e emocionais, as crianças nem sempre conseguem expressar o que estão sentindo. Entenda a importância de trabalhar questões socioemocionais desde cedo e como ajudar as crianças a se expressarem quando percebem que não se sentem bem nem física, nem emocionalmente.

 

A importância do adulto e da linguagem afetiva 

“A saúde mental das crianças não está só nas emoções e nos sentimentos, mas em como o corpo dela pode se expressar”, explica Laura Carrasqueira Bechara, psicóloga e psicanalista. “E quem vai dar significação para o que a criança está sentindo são os adultos que estão perto”, complementa.

Por conta disso, a especialista explica que desde pequena, a criança estará muito atenta ao que os outros à sua volta estão dizendo, para que ela compreenda o que está sentindo. Com o tempo, ela vai conseguindo entender sozinha e deixando de precisar sempre de um adulto. “A saúde psíquica e mental das crianças está muito dependente dos outros e por isso a importância de existir um adulto atento”, alerta Laura.

O adulto, no entanto, não pode agir e explicar as emoções sem nenhum filtro. “As crianças têm recursos muito diferentes de entender a morte, por exemplo, mas isso não significa que o tema não deva ser tratado. É preciso ir amortecendo as informações”, diz a psicanalista. A linguagem afetiva, neste caso, é o que fará com que o desenvolvimento da criança possa acontecer.

Ajudando as crianças a se expressarem 

Os pequenos, assim como os adultos, têm sentimentos e dores que precisam ser transmitidos. Como nem sempre conseguem se expressar por meio da fala, podem colocar as suas emoções para fora por outros meios.

Laura lembra que é difícil generalizar, pois há diferentes infâncias, e é preciso compreender também o contexto social, cultural e familiar de cada criança. No entanto, a maioria vai começar a comunicação com o mundo não só dizendo aquilo o que está sentindo ou desejando, mas se expressando por meio das brincadeiras. Veja abaixo algumas formas de incentivá-las!

  • Nomear os sentimentos

Expressar necessidades é uma habilidade que precisa ser aprendida, por isso quanto mais rico for o repertório da criança, maior facilidade ela encontra para expressá-los. Ensinar a criança a nomear os sentimentos é o primeiro passo. “É muito bonito ver que as crianças vão ganhando palavras, e aprendendo com o que vem de fora”, diz a psicóloga.

Dicas de conteúdos para ajudar as crianças a se expressarem

  • O livro Emocionário é um dicionário de emoções que ajuda as crianças a reconhecer suas emoções e expressar seus sentimentos. Prazer, ódio, entusiasmo, insegurança, orgulho e muitos outros sentimentos são representados por ilustrações inspiradoras e explicados de forma simples.

 

 

  • O livro de estreia de Lázaro Ramos “Sinto o que sinto – e a incrível história de Asta e Jaser” tem por objetivo ajudar as crianças a aprender, identificar e nomear sentimentos. Entender que é normal sentir raiva, alegria, orgulho, ou tudo ao mesmo tempo. A obra conta a história de Dan, personagem do Mundo Bita, que enfrenta diferentes situações que o fazem ter de encarar uma mistura bastante diversa de sentimentos.

 

  • Pensando na educação das crianças em relação às medidas de prevenção à COVID-19, o guia gratuito “Meu Nome é Coronavírus”, escrito pela psicóloga infantil Manuela Molina, traz informações e ilustrações que se aproximam do universo infantil, descrevendo com elementos lúdicos as características do vírus e ensinando maneiras de prevenção.

  • Diálogo e escuta ativa

O espaço de diálogo com a criança precisa estar sempre aberto, mas para isso, os adultos devem reconhecer os sentimentos das crianças e ouvir o que elas têm a dizer.

Uma criança pode estar angustiada, por exemplo, mas ela não sabe o que é angústia. Neste caso cabe ao adulto oferecer espaço para escutar o que a criança está sentindo.

“Elas não necessariamente precisam nominar de angústia. Elas podem dizer, por exemplo, ‘tenho muito medo de ficar sozinha’, ou ‘quando eu fico sozinha parece que um monstro vai me pegar’. As crianças vão criando metáforas”, exemplifica Laura.

Ela ainda recomenda que ao perceber que há algo de errado, o adulto precisa sempre perguntar e nunca supor o que a criança está sentindo.

  • Contar histórias

Os livros e as histórias são muito importantes para que as crianças consigam se expressar. No âmbito familiar, além das histórias ficcionais, é importante que os pais, ou o adulto responsável, contem as suas próprias histórias. “As narrativas são muito importantes para as crianças e à medida que os pais vão comunicando o que estão sentindo, as crianças também aprendem a fazê-lo”, afirma Laura.

  • Inventar

Em todas as atividades que exigem criatividade, a criança estará representando o seu mundo e acaba se expressando. “Não são brincadeiras prontas, são aquelas em que as crianças terão espaço para criarem como o ‘faz de conta’, ou o desenho”, aponta Laura.

É necessário investir em brincadeiras criativas, em que a criança seja a protagonista. Vale comprar papel, canetinha, massinha ou tintas.

 

Para as crianças com deficiência

No caso de crianças com deficiência talvez seja necessário pensar em diferentes estratégias para ajudar os pequenos a se expressarem. “É quase uma investigação de ir descobrindo do que essa criança gosta. Há crianças autistas que começam a escrever antes de falar. Foi desta maneira que ela encontrou de comunicar”, diz Laura.

No caso de crianças autistas, o sistema de comunicação por troca de imagens (Picture Exchange Communication System – PECS) é bastante utilizado. Ele foi pensado para melhorar as capacidades físicas, cognitivas e de comunicação.

O método PECS consiste na utilização de cartões com figuras representando objetos que a pessoa com autismo troca com o seu “parceiro de comunicação” para expressar o que deseja com isso. O sistema prossegue ensinando a discriminação de figuras e como juntá-las em frases. A pessoa autista, quando não possui um comportamento verbal desenvolvido, cria o hábito de utilizar os cartões como um instrumento de comunicação.

 

Trazendo o mundo para dentro de casa

As crianças estão em fase de constituição e desenvolvimento, mas elas não crescem e amadurecem sozinhas, elas precisam dos outros. A pandemia, infelizmente, restringiu este mundo. “Nós adultos já temos esse mundo interiorizado dentro da gente, as crianças não. As crianças vão descobrindo quem elas são a partir das experiências com os outros”, diz a psicóloga.

As experiências concretas e a falta de controle que existe no mundo presencial são muito importantes para as crianças, pois é aí que elas aprendem a lidar com suas próprias frustrações. Uma maneira de reconstruir isso no isolamento social é trazendo o mundo de fora, como suas referências culturais, para dentro de casa, a partir de histórias e brincadeiras.

Para se inspirar: Louvre dentro de casa!

Pierre Baradat mora em Bordeaux, na França. Durante o confinamento ele organizou uma visita ao Museu do Louvre para seus filhos Rose e Antoine dentro de casa. Veja:

Dicas para ajudar as crianças a expressarem suas dores, frustrações e sentimentos
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