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Do papel para a tela: este é o caminho que muitos livros vêm trilhando nas escolas públicas do Brasil. Em um cenário no qual uma quantidade relevante de escolas não possui biblioteca e/ou sala de leitura, a biblioteca digital escolar tem sido uma solução recorrente para driblar este problema e incentivar a leitura entre os estudantes.

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Livro aberto com as páginas se transformando em um laptop aberto, em uma sala de aula, com uma lousa ao fundo.

Na educação pública brasileira, 43% dos espaços de aprendizagem dedicados ao Ensino Fundamental não estão equipados com biblioteca. Este número cai para 11,6% no Ensino Médio. Ainda assim, o volume de estudantes sem acesso a este equipamento – fundamental para a alfabetização e aprendizagem – é muito alto. Os dados são do Anuário Brasileiro de Educação Básica 2021, produzido pelo Todos pela Educação.

Esta realidade também mostra como o país está longe de implementar o Plano Nacional de Educação (PNE), aprovado em 2014. Uma das metas do PNE assegura o acesso a bibliotecas a todas as escolas públicas do Brasil.

Estimulada pela pandemia, quando as escolas fecharam suas portas e passaram a operar apenas à distância, a criação de bibliotecas digitais escolares representa novas possibilidades, tanto aos estudantes quanto aos professores. Ao armazenar e compartilhar livros digitais, utilizando plataformas gratuitas como o Google Drive e o Google Sala de Aula, muitas escolas viram aumentar o interesse dos alunos pela leitura e passaram a estimular os docentes a utilizarem esta ferramenta em suas práticas pedagógicas.

 

Biblioteca digital escolar: novo conceito para uma nova escola 

É o que acontece no Centro de Ensino em Período Integral (Cepi) Ana Maria Ferreira de Paula, em Planaltina (Goiás). A biblioteca digital da unidade possui um acervo diverso, com títulos que vão desde literatura até cadernos de estudo para o Enem, sempre agregando conteúdos de domínio público.

Segundo a gestora do Cepi, Elisangela Dias Custódio, o processo começou durante a pandemia, com a digitalização de parte do acervo da biblioteca física. Os conteúdos passaram a ser distribuídos via WhatsApp e, com a alta aceitação do formato pelos estudantes e até mesmo suas famílias, a escola passou a centralizar os livros digitais em um site. “A troca de conhecimento que ela gera é muito interessante. Um dos diferenciais do livro digital é permitir que os conteúdos sejam lidos simultaneamente, em conjunto, e com isso o livro passa a ser mais vivo no dia a dia escolar”, observa Elisangela.

Até abril de 2021, foram criadas 120 bibliotecas digitais escolares na rede de Goiás, todas nas escolas de tempo integral. De acordo com a superintendente de Ensino Integral da Secretaria de Educação do estado, Marcia Rocha Antunes, o boom de bibliotecas virtuais foi estimulado pela reconceitualização do espaço escolar que aconteceu durante a pandemia.

“Antes, ainda estávamos presos à ideia de que a escola era o espaço físico, era o prédio. Depois tivemos que reconstruir esse conceito, pois a escola ainda estava aberta, porém não tínhamos prédio. Era preciso fazer uma ruptura, e um dos espaços remodelados foi a biblioteca”, conta Marcia. “Tínhamos que fazer chegar na casa dos estudantes livros, revistas, jornais, e desde a secretaria coordenamos esse processo.”

 

Curadoria de livros digitais 

Foram realizadas formações com os docentes, para apoiá-los no uso das ferramentas e, principalmente, na curadoria dos livros digitais. “Precisamos aguçar esse olhar crítico para o professor entender de que forma esses livros o apoiam em sua metodologia, buscando realizar o que está previsto no currículo. E, acima de tudo, atrelar as atividades às competências previstas na BNCC (Base Nacional Comum Curricular).”

A superintendente afirma que já é possível visualizar resultados concretos da criação de bibliotecas virtuais. Além de um número maior de debates sobre leitura organizados pelas escolas, os próprios estudantes da rede foram encorajados a produzir suas histórias, através de crônicas e contos. “Três obras foram escritas pelos alunos durante a pandemia e também passaram a fazer parte das bibliotecas digitais.”

 

Solução digital para a limitação real 

Já na Escola Estadual de Ensino Integral Professora Márcia Helena Barbosa Lino, localizada em São José dos Campos (SP), os próprios professores se mobilizaram, durante a pandemia, para manter vivo o aprendizado que ocorria na sala de leitura. Coordenadora do espaço, criado em 2017, a professora Cristiane Scarpeto lembra que os estudantes costumavam produzir releituras de obras literárias através do teatro. “Durante o isolamento, muitos deles insistiam em passar na escola só para pegar um livro emprestado. Era preciso fazer alguma coisa”, observa Cristiane.

Então, ela contou com a ajuda preciosa de um estudante para migrar os livros digitalizados à uma página do Google Sala de Aula. Desde então, a Sala de Leitura Cora Coralina reúne materiais didáticos, literários e jornalísticos dedicados aos professores e estudantes. O espaço virtual conta até mesmo com uma seção de resenhas de livros, realizadas pelos alunos da escola.

Crédito: Reprodução

Para Cristiane, além de facilitar o acesso aos livros para os estudantes, a plataforma também é muito utilizada pelos docentes. “Estamos constantemente utilizando esses livros para montar as aulas, e também direcionar e orientar os trabalhos dos alunos.”

 

Biblioteca digital como parte do projeto pedagógico 

Há dois caminhos possíveis para a escola dar início ao projeto de biblioteca digital: a digitalização de seu acervo físico, propondo uma força tarefa entre o corpo docente para escanear as obras; e a aquisição de livros já digitalizados através de acervos de domínio público.

A experiência do Centro Estadual de Educação Santamariense, localizado em Santa Maria da Vitória (BA), ilustra bem quais são os desafios que envolvem a criação de uma biblioteca digital escolar.

Durante o isolamento, os professores da escola reuniram esforços para agregar diversos arquivos – literários e didáticos – em uma pasta do Google Drive. A ferramenta digital deu um grande apoio à prática pedagógica, nas palavras do professor de História, Samuel Santos. Porém, com o retorno ao ensino presencial, a biblioteca passou a ser menos acessada: além da dificuldade de acesso dos alunos à internet, a escola encontra dificuldade em renovar seu acervo digital.

“É preciso ter uma equipe de produção e curadoria para atualizar a biblioteca digital”, aponta Samuel. “No início foi fácil, pois cada professor disponibilizou seus materiais. Mas para o uso constante e contínuo, é preciso ter um projeto que integre todas as áreas do conhecimento, para que todos os professores possam utilizá-la como um espaço pedagógico.”

Ou seja: para a biblioteca digital escolar ter sucesso, é necessário que ela seja parte da proposta pedagógica da escola, como um recurso didático permanente, que exige investimento e manutenção.

Um dos legados da biblioteca digital escolar, segundo Samuel, foi ajudar os docentes e estudantes a trabalhar técnicas de sistematização do conhecimento. Ele ressalta a importância de que os conteúdos sejam de domínio público, para que a lei de direitos autorais não seja violada.

Do papel para a tela: biblioteca digital escolar ganha espaço na educação brasileira
Do papel para a tela: biblioteca digital escolar ganha espaço na educação brasileira