Conheça a trajetória de Duília de Mello, que quer influenciar meninas e jovens a perseguirem seus sonhos científicos.
Tendências tecnológicas: Duília de Mello quer influenciar meninas a perseguirem sonhos científicos.
Como muitos outros cenários profissionais, o da astronomia sempre foi conhecido do público por seus representantes masculinos. Isaac Newton, pela teoria da gravidade, Albert Einstein, pelos estudos sobre a relatividade e, mais recentemente, as descobertas de Stephen Hawking sobre a mecânica quântica. Mas o trabalho de uma mulher, Henrietta Swan Leavitt (1868-1921), foi essencial para que astronomia, a mais antiga das ciências humanas, se expandisse para além da Via Láctea. Graças a ela, o também norte-americano Edwin Powell Hubble (1889-1953) descobriu a primeira nebulosa (berços de formação de estrelas) fora da nossa galáxia.
Henrietta deixou marcas para que outras mulheres se aventurassem na área científica. Aqui no Brasil, pelo mesmo caminho inspiracional, segue a paulista Duília de Mello, cientista e astrônoma da NASA: ela quer ver, cada vez mais, a presença feminina nas agências espaciais e nos estudos sobre o universo.
Quando Duília era criança em Jundiaí (interior de São Paulo), ainda não havia internet e, para saber mais sobre o espaço, restava esmiuçar livros e folhear revistas. Foi entre as páginas da extinta revista Manchete que a menina se deparou com as fotos captadas pelas sondas espaciais da NASA. Fascinada pelas imagens, Duília se perguntava como uma sonda enviava fotos de pontos tão longínquos. Era o fim dos anos 1970, e ela decidiu que queria ser astrônoma quando crescesse.
O fato de se aventurar em uma área predominantemente masculina não a preocupou. “Fiz vestibular pensando na carreira que queria seguir, e como era boa aluna e não tinha medo de estudar, fui com toda a vontade.” Tanto durante a formação, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), quanto em sua participação na Sociedade Astronômica Brasileira, ela também esteve cercada por mulheres competentes e inspiradoras.
Embora nunca tenha sonhado em trabalhar na NASA, a astrônoma sentiu um frio na barriga quando foi chamada para integrar a equipe do Instituto do telescópio Hubble (Space Telescope Science Institute). Com bom humor, ela comenta: de tão ansiosa que estava para trabalhar, chegou mais bem mais cedo do que todos no Instituto. “Quando entrei por aquela porta, fiquei meio anestesiada, nem me lembro direito do que fiz naquele dia.”
Suas conquistas seguintes, entretanto, seriam sempre lembradas, e a colocariam na constelação de astrônomos consagrados. “As descobertas científicas não produzem necessariamente aquela sensação de surpresa que muitos pensam. Elas são lentas e produto de anos de estudo”, explica.
Quando Duília confiou em seus instintos e avaliou uma estrela intrusa, fora de seu espectro de observação, avistou a supernova SN 1997D. “Foi uma descoberta com gostinho especial.” Outro de seus feitos foi descobrir como as bolhas azuis (estrelas órfãs da galáxia) se formam. É um trabalho de grande importância acadêmica, que ainda rende frutos na comunidade.
Para incentivar crianças a perseguirem carreiras científicas e incentivar o trabalho com tendências tecnológicas, Duília tem como sonho consolidar as atividades propostas pela Associação Mulher das Estrelas – AME. As dicas para meninas que queiram ser astrônomas sempre estão em seu discurso, também registrado no livro Vivendo com as Estrelas: “Tenham, primeiro, a certeza de que gostam de Ciência e Matemática. A maior parte dos astrônomos profissionais faz Física porque a maioria das faculdades oferece o curso. Na hora de fazer mestrado e doutorado, é o momento de optar pela Astronomia”. Ela também incentiva a participação das interessadas em grupos de astronomia amadora, para trocas e descobertas.
Atualmente morando nos Estados Unidos, Duília participará de um mês de palestras por todo Brasil, como parte do projeto Mulher das Estrelas (com data a ser confirmada). O objetivo é incentivar crianças e jovens a descobrirem seus próprios talentos, não duvidarem de si mesmos e incentivá-los a se aventurar pelas tendências tecnológicas.
Para Duília, ser mulher nunca foi impeditivo para perseguir seus sonhos. Com insistência nos estudos, ela prosperou em uma área dominada por homens – até hoje, aponta a ONU, nenhum dos continentes tem a proporção ideal de 50-50%. A Ásia, por exemplo, conta com apenas 18% de mulheres na área. Seja na NASA ou no trabalho desenvolvido em sua Associação, a cientista segue motivando a meninada brasileira a triunfar como físicas, matemáticas e astrônomas – ou o que seus sonhos permitirem.