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Os investimentos em educação digital da Estônia focam em modernização da infraestrutura tecnológica e formação e valorização docente.

#Educação#EnsinoMédio#TecnologiasDigitais

Sistema de educação da Estônia promove formação de professores em competências digitais.

A Estônia, pequena nação do leste europeu, conquistou a sua independência apenas em 1991. Menos de 30 anos depois, em 2018, o país já constava no pódio do Pisa (sigla para Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), atrás apenas de Japão e Cingapura. Para alcançar tal posto, o país direcionou boa parte de seus investimentos em educação digital e valorização docente.

Atualmente, a Estônia é uma referência global em temas como digitalização e uso de tecnologias educacionais. Para entender como esse processo aconteceu é preciso voltar para 1996, quando o governo estoniano, buscando instituir uma sociedade cada vez mais digital, lançou o programa Tiger Leap. A iniciativa deu início à construção de infraestrutura tecnológica nas escolas, instalando computadores e investindo em conectividade em todas as salas de aula do país.

Ou seja, logo no início do novo milênio, todas as escolas públicas estonianas estavam conectadas à internet. Ainda, em 1997, o currículo escolar passou a oferecer atividades para o desenvolvimento de habilidades em tecnologia, e os professores iniciaram capacitações para dominar as novas ferramentas digitais.

 

Soluções digitais inteligentes

Assim, o ambiente escolar passou a ser permeado por soluções digitais inteligentes. Muito antes da pandemia, 100% das escolas estonianas já usavam ferramentas tecnológicas e plataformas digitais para o ensino, como bancos de dados, livros didáticos online, materiais de educação a distância, diários de aula e avaliações digitais, aplicativos e programas variados. Elas são desenvolvidas por startups, empresas e universidades do país em conjunto com as instituições de ensino.

De acordo com o cônsul honorário da Estônia no Brasil, Almir Maestri, “a alfabetização digital, como uma competência, está integrada com cada disciplina ensinada. Abraçamos as possibilidades da tecnologia em todo o sistema de ensino.”

 

Educação digital da Estônia: investindo para o futuro

Em termos de investimento, em 2017 a Estônia aplicava 6% do PIB na educação – o mesmo percentual que o Brasil. Contudo, naquele ano, enquanto o governo brasileiro investia anualmente R$ 6,6 mil por aluno do ensino básico, o estoniano aplicava o equivalente a R$ 28 mil.

Nesse cenário, o trabalho docente no país também vem sendo amplamente valorizado em termos salariais. A renda do professor estoniano subiu 80% na última década, atingindo aproximadamente R$ 5.600 (ou 1.250 euros).

De olho no futuro, a Estônia continua atualizando a infraestrutura digital das escolas. Ao longo de cinco anos e com valor de aproximadamente 13 milhões de euros (ou R$ 70 milhões), o programa de modernização impactará cerca de 400 escolas e 120 mil alunos e professores. Quando estiver concluído, cada escola terá velocidade de rede de pelo menos 1 Gbit/s – muito acima da média de 1 Mbit/s por aluno, considerada ideal pelo Medidor Educação Conectada.

Ao longo dos anos, a Estônia manteve um foco paralelo na construção de habilidades de alfabetização digital entre educadores e alunos. Um exemplo disso são os tecnólogos educacionais baseados na escola – professores experientes e especialistas em integração de tecnologia que apoiam os professores nas escolas.

Segundo Toomas Adson, representante do departamento de tecnologia do Ministério da Educação e Pesquisa da Estônia, é fundamental que as escolas tenham a habilidade de gerenciar essa modernização. Em junho, ele participou do webinário “Como promover a tecnologia e inovação em escolas públicas?”, promovido pelo Estônia Hub com o apoio do CIEB (Centro de Inovação para a Educação Brasileira).

“O que era moderno há cinco anos, hoje é obsoleto e precisa ser mudado. Atualmente, os processos e tecnologias são muito complexos, e atingimos resultados positivos apenas quando conectamos as duas coisas”, afirma Adson.

 

ProgeTiger

Em 2012, a Estônia lançou o programa ProgeTiger, buscando impulsionar ainda mais alfabetização tecnológica e as competências digitais de professores e estudantes. Para isso, foi realizada uma série de cursos e formações, abordando temáticas como programação, robótica, STEAM e tecnologia 3D. Interessante notar que cada vez mais jardins de infância estão envolvidos no programa.

“A intenção é fornecer às crianças e jovens as habilidades necessárias para lidar com o futuro. Nesses cursos, as crianças aprendem muito mais do que programação: aprendem a resolver problemas, a ser criativos, a colaborar e a pensar criticamente”, avalia o cônsul Almir Maestri.

“Estamos implementando uma nova estratégia de digitalizar a experiência da educação, dando aos alunos mais autonomia para que sigam seu caminho pessoal na aprendizagem”, aponta o gerente de projetos do Ministério da Educação e Pesquisa da Estônia, Aivar Hiio, durante participação no webinário.

Hiio ressalta que é preciso enxergar os resultados educacionais muito além do índice estabelecido pelo Pisa. “A educação digital da Estônia é, sem dúvida, uma prioridade. Não somos um país muito rico, mas quando se vai para uma área rural e pequena, você pode ter certeza de que aquela escola estará reformada e conectada”, observa.

 

O que o Brasil pode aprender com a educação digital da Estônia

Afinal, de que forma a educação brasileira pode se inspirar no exitoso processo de digitalização do ensino na Estônia?

Segundo Raquel Costa, especialista em Educação e Tecnologia do CIEB, a experiência estoniana nos mostra que investimentos em infraestrutura, tecnologia e formação de professores (inicial e continuada) não podem ser impulsionados apenas por situações emergenciais. “Hoje, dificilmente imaginamos a maior parte das profissões terminando um dia de trabalho sem ter acessado um dispositivo conectado. Mas nós ainda normalizamos o cenário de ver professores utilizando internet com seus alunos para finalidade pedagógica algumas poucas vezes ao mês.”

Além disso, o uso da tecnologia na escola e o acesso de professores e estudantes à internet precisa ser visto como um direito plenamente garantido. “As redes de ensino também precisam estar capacitadas para estruturar currículos que acompanhem o uso dessas tecnologias nas escolas. Os gestores públicos só serão capazes de definir e selecionar os melhores recursos para apoiar os educadores com planejamento pedagógico bem estruturado e visão estratégica do uso da tecnologia nas escolas.”

 

Função social da escola

Raquel não acredita em uma “receita de bolo padrão” para solucionar as diversas questões educacionais no Brasil, mas sim na possibilidade de utilizar estrategicamente algumas premissas que orientaram as políticas públicas que implementaram a educação digital da Estônia.

“Pensando na realidade brasileira, sabemos que a escola tem uma função social de grande importância para toda a comunidade estabelecida ao redor dela. Quando existem investimentos na escola, isso gera impactos para a comunidade como um todo”, reflete.

“A escola precisa ser vista como esse ponto de desenvolvimento para todos os cidadãos do entorno, estudantes e suas famílias. Quando levamos internet para uma escola, isso significa que está chegando infraestrutura de conectividade para todo o espaço em que a escola está inserida. O poder público precisa enxergar a escola como esse polo de desenvolvimento. Se compararmos os investimentos por estudante no Brasil e na Estônia, veremos que estamos muito aquém do que deveríamos estar investindo em nossas escolas”, finaliza.

Educação digital da Estônia: o que temos a aprender?
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