A Educação em Dados desenvolve habilidades e competências para as profissões do futuro e ajuda a melhorar o processo de ensino-aprendizagem
Saber ler, interpretar e utilizar dados são habilidades que serão necessárias para tarefas básicas do cotidiano, assim como para as diferentes profissões no futuro. A Educação em Dados será uma competência essencial para qualquer pessoa. Pesquisa realizada pelo Instituto Gallup mostra que 69% dos empregadores já dão preferência a candidatas e candidatos com habilidades em análise e Ciência de Dados.
“A sociedade, incluindo o mundo do trabalho, enfrenta uma grande transformação com o uso cada vez mais intenso das tecnologias digitais. Elas alteram a forma como os bens e serviços são produzidos, comercializados e distribuídos, e a maneira como as pessoas se relacionam, se movimentam, consomem, habitam, cuidam da saúde, aprendem e se divertem”, explica Andrea Filatro, consultora em educação on-line no setor acadêmico e corporativo.
Com tanta tecnologia à disposição, as informações são produzidas e coletadas em volume e velocidade cada vez maiores. E se as organizações estão usando os dados de forma inteligente para influenciar suas estratégias, os jovens precisam começar a se preparar para esse futuro.
Para além do mercado de trabalho, a Educação em Dados na escola pode desenvolver diferentes conhecimentos nos alunos. E ajudar os professores a traçarem estratégias pedagógicas efetivas para aumentar o aprendizado dos estudantes.
Educação em Dados em diferentes profissões
A Ciência de Dados é o processo de formular questões que podem ser respondidas com base em evidências. Ela inclui a coleta, a limpeza e a análise de quantidades massivas de dados, além da comunicação das respostas encontradas a um público interessado.
Os profissionais que trabalham com Ciência de Dados tratam esse volume de registros com o uso de técnicas estatísticas e computacionais. O objetivo é extrair informação que possa ajudar na tomada de decisão de uma organização.
“Analisando os dados de interação das pessoas com um sistema de reserva de voos, por exemplo, identifica-se para quais destinos, dias e horários são feitas as consultas. Também é possível confrontar as informações com os tíquetes comprados, estimar o número de voos que serão necessários e até regular o valor das passagens com base na relação de oferta e procura”, explica Andrea.
E isso pode ser aplicado em vários setores, do Esporte ao Entretenimento, da Agricultura aos Serviços, da Pesquisa Científica à Educação.
“Por isso, a Educação em Dados, também conhecida como alfabetização em dados ou letramento em dados, inclui a capacidade de qualquer pessoa entender como os dados são gerados e coletados e fazer análises. Os dados podem estar dispostos em gráficos ou painéis para ajudar na tomada de decisão sobre aspectos do cotidiano ou do trabalho”, ressalta Flávio Campos, professor de pós-graduação em Tecnologias da Aprendizagem na PUC-SP.
Ciência de Dados na escola
Há alguns anos, a tecnologia tem beneficiado as escolas e seus alunos. Durante a pandemia da Covid-19, permitiu que as aulas fossem adaptadas para o ensino on-line. Entretanto, a Educação em Dados pode ajudar a escola ainda mais, em diferentes aspectos.
“Com os dados é possível compreender melhor as necessidades dos alunos, melhorar o processo de ensino, otimizar o tempo de professores e alunos na aprendizagem, ter uma visão mais ampla sobre quem são esses indivíduos e como eles recebem o conhecimento transmitido, além de definir as necessidades da própria escola”, destaca o professor da PUC-SP.
Para ele, esse levantamento de informações também permite à escola descobrir a melhor forma de atuar, definir métodos e usá-los com precisão e confiança. Outra vantagem é que qualquer tomada de decisão pode ser acompanhada, a fim de verificar se ela traz resultados efetivos para alunos e docentes.
Com sistemas automáticos e uso de dados, a rotina do professor também pode se tornar mais fácil. Desde o cumprimento do diário de classe até a disponibilização de notas e atividades para serem acompanhadas por pais e alunos.
Educação em Dados e competências da BNCC
Algumas das principais competências exigidas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) estão associadas à Ciência de Dados. Como a Matemática, ao considerar os métodos estatísticos que dão sustentação para a análise de dados. A área de Tecnologia também é foco do trabalho com dados. Isso é feito por meio de linguagens de programação como a SQL (Structured Query Language), usada para executar comandos em bancos de dados.
“A Matemática é considerada uma área de conhecimento na BNCC, apresentando competências e habilidades que se relacionam com a Ciência de Dados. A Tecnologia também está presente na BNCC e suas competências e habilidades estão ligadas ao fazer do profissional de Ciência de Dados”, explica o professor.
Para ele, Educação em Dados tem tudo a ver com as competências exigidas pela BNCC. “Ela traz Tecnologia e a Computação de forma transversal em todas as áreas do conhecimento. Há na BNCC três grandes eixos: pensamento computacional, tecnologia digital e cultura digital”, encerra.
Educação em Dados no novo Ensino Médio
Segundo a lei nº 13.415/2017, que estabelece o Novo Ensino Médio, 1800 horas de aula serão destinadas à parte comum da Base Nacional Comum Curricular. Além disso, 1200 horas serão voltadas aos itinerários formativos que o estudante poderá escolher, conforme as opções oferecidas pela escola em que ele estuda.
Os itinerários são: linguagens e suas tecnologias, matemática e suas tecnologias, ciências da natureza e suas tecnologias, ciências humanas e sociais aplicadas e formação técnica e profissional.
Por meio do itinerário de formação técnica e profissional, os alunos poderão optar por uma carreira profissional durante os três anos a partir da escolha do curso.
A composição de um curso técnico voltado à Ciência de Dados será feita pelas redes de ensino considerando cada realidade, inclusive em ofertas de qualificação profissional.
Segundo Flávio Campos, no currículo de Ciência de Dados há três eixos que podem ser disponibilizados de maneira independente. E eles se tornam qualificações profissionais: Gestão de Dados, Big Data e Análise de Dados.
“Há ainda a possibilidade de ofertar unidades curriculares durante o Ensino Médio como eletivas. Os alunos poderão escolher o itinerário de educação profissional em Ciência de Dados, conforme a oferta das redes de ensino, seja na composição de um curso técnico, em qualificações profissionais ou como componentes eletivos”, explica.
Os estados brasileiros começarão a implementar o Novo Ensino Médio em 2022. Segundo Andrea Filatro, algumas localidades já estão se preparando, outras se adaptaram e estão com os itinerários formativos, seja em educação profissional ou nos itinerários das áreas.
A partir da oferta das escolas, as cidades que proporcionarem Educação em Dados ajudarão os alunos a desenvolver competências como leitura de dados, análise de dados e argumentação com dados.