Iniciativa faz parte da formação de multiplicadores do Pense Grande em Etecs de São Paulo e incentiva o contato com ferramentas tecnológicas.
Sites para divulgação de costureiras, aplicativos de impacto social que auxiliam nos procedimentos médicos, na recolocação no mercado de trabalho ou comandam robôs que pegam alimentos abandonados em caixas de supermercado e reposicionam nas gôndolas. Esses são só algumas das ideias que estão sendo criadas e executadas por alunos de diferentes Etecs de São Paulo.
Estimulados pelos professores e capacitados pela metodologia de empreendedorismo social do programa Pense Grande, da Fundação Telefônica Vivo, os estudantes do Ensino Médio Técnico têm a chance de construir projetos que impactem positivamente a comunidade que vivem. Ao longo do semestre, eles desenvolvem ideias transformadoras, trabalham a prototipação e expõem o trabalho final para toda a instituição.
A construção de aplicativos e sites faz parte da fase de prototipação das soluções criadas por eles. Para Cíntia Pinho, professora da área de Informática, Gestão e Projetos da Etec Professora Maria Medeiros, de Ribeirão Pires (SP), o contato com as ferramentas digitais tecnológicas desenvolve a capacidade de planejamento dos alunos.
“É muito bacana perceber os alunos assumindo o protagonismo de seus aprendizados e sentindo que realmente estão construindo mais do que um simples aplicativo e site, mas uma inciativa que pode, inclusive, sair do papel”, diz Cíntia.
Professores programadores
Nas Etecs e Fatecs são os docentes que auxiliam os alunos na criação de novas ferramentas tecnológicas, especialmente aqueles que participaram da formação de professores multiplicadores do programa Pense Grande.
Ao longo do primeiro semestre do ano, cerca de 80 professores mergulharam na metodologia do Pense Grande para aprender mais sobre empreendedorismo, tecnologia e como causar impacto na comunidade. Além das atividades formativas, eles foram estimulados a implementar com os alunos o que apreenderam, com mentoria ao longo de todo o processo.
Entre os dias 8 e 13 de maio, os professores participaram da etapa que envolveu a capacitação de aplicativos e sites. Com a ajuda do parceiro-executor Impact Hub, os docentes foram capacitados a criar aplicativos na plataforma Marvel e sites por meio do programa Wix, ferramentas que permitem ampliar a imaginação e testar soluções desenvolvidas.
Segundo a professora da Etec Professora Maria Medeiros, Simone Cunegundes, aprender essas ferramentas ajudam a ampliar as ideias e concretizar os projetos. “O Wix e Marvel mostraram-se ferramentas versáteis, práticas e que tornam o processo de aprendizagem democrático, divertido e com significado para docentes e discentes”, comenta.
Para muitos docentes, a capacitação foi o primeiro contato direto com programação. Foi o caso de Salvador Cardoso, professor de Ensino Médio Técnico em Administração na Etec Dr. Geraldo José Rodrigues Alckmin, de Taubaté (SP). “Para mim foi algo 100% novo. Aprendi do zero como criar sites e aplicativos e agregou bastante no meu plano pedagógico. Agora consigo aplicar esse conhecimento em outras disciplinas e até na formação de trabalhos de conclusão de curso”.
As ferramentas digitais empoderam não só o professor, mas também o estudante. “O maior aprendizado foi conhecer uma plataforma para criação de sites e aplicativos independentemente de conhecimento de programação ou design e ainda ter a oportunidade de elaborar um protótipo. Se para nós já foi um aprendizado fico imaginando como será para os alunos”, declarou a professora Eliane Regina Piccini Oliveira, da Etec Prof. Horácio Augusto da Silveira, que fica na zona norte de São Paulo.
“Para o professor estar engajado nesse processo, ele tem que estar aberto a se transformar como educador, a se questionar e a refletir sobre o que quer alcançar com a proposta educativa. É isso que ajuda a compreender uma proposta diferente dentro do processo educacional. Ajuda a entender que se está educando para além dos 50 minutos da aula”, diz Simone Cunegundes, da Etec Professora Maria Medeiros.
Uma nova forma de trabalhar
O professor Alan Rangel, dos cursos técnicos de Administração e Secretariado da Etec Tereza Aparecida Cardoso Nunes, de Artur Alvim (SP), ressaltou o entusiasmo de seus estudantes quando foram ensinados a criar sites para os projetos de empreendedorismo que estavam desenvolvendo, afinal era uma forma de tornar suas criações mais tangíveis.
Ele conta que a turma que mais se destacou foi a de um grupo de meninas que criava um projeto de assessoria de eventos. “A proposta delas era auxiliar pessoas a dimensionar a necessidade de alimentos para a realização de um evento. Lembro que o grupo queria desistir da ideia, pois não sabiam desenvolver um aplicativo, mas quando eu apresentei a possibilidade de montar o protótipo no App Marvel, elas ficaram ansiosas para aplicar suas ideias e verificar o resultado”.
Cíntia e Simone trabalharam juntas no ensino de projetos para os alunos da Etec Professora Maria Medeiros. O resultado do trabalho dos jovens foi apresentado em um Demoday, realizado na última segunda-feira (24/06), para que toda a escola conheça a criação dos estudantes. Os três primeiros colocados foram premiados por uma banca composta pela Impact Hub, além de empreendedores e personalidades públicas de Ribeirão Pires.
Para conseguir bons resultados, foi necessário uma imersão e construção conjunta com os alunos, que passou pelo mapeamento das dificuldades que eles tinham no uso das ferramentas e possíveis soluções baseada no nível de evolução de cada um dentro do projeto. “Na medida em que eles foram percebendo como os apps e os sites estavam alinhados ao que eles queriam trazer, tudo começou a fazer mais sentido”, disse Simone.
O processo não veio sem grandes desafios. Um dos maiores é aproximar os alunos das novas tecnologias, uma vez que muitos deles não têm acesso a computadores ou internet em suas casas. Mesmo entre aqueles que têm, existe uma mudança de cultura que precisa ser implementada.
“Muitas vezes o aluno ainda não se apropriou das tecnologias, então eles vêm com uma resistência muito forte. Nesse ponto eu vejo que tem um questionamento cultural. Você vê que são estudantes que tinham uma resistência de incorporar as ferramentas nos projetos porque isso os tirava da zona de conforto”, diz Simone.
Já Cíntia destaca que o desenvolvimento de ideias que solucionem problemas reais foi o mais difícil para os alunos. “Há uma grande dificuldade para sair da sua própria vida, para entender os problemas que estão ao redor deles. Outra dificuldade é aprender a trabalhar com prazos curtos para entrega de tarefas, porém, aos poucos, eles vão se adaptando.”, acredita a educadora.