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Conversamos com jovens que estão engajados em melhorar a educação brasileira para entender qual escola eles gostariam de ver no futuro

#Educação#Educadores#EducandoParaTransformar

Imagem de uma jovem andando pela rua, carregando alguns cadernos. Ela é negra, com tranças coloridas e óculos de grau, e usa uma máscara de proteção e brincos de argola. Ao lado superior direito, há a frase Educar é Acreditar e o ícone de um livro.

“Estudar não é fácil, e nem precisa ser, mas poderia ser mais apaixonante. A única maneira de a gente furar o ciclo de pobreza é pela educação”, afirma Matheus Bezerra, estudante de Farmácia e Pedagogia no Ceará.

O jovem de 18 anos é natural de Solonópole, no interior do Ceará. Em 2020, seu último ano do Ensino Médio, ele precisou conciliar os estudos com o trabalho e com a responsabilidade de ser presidente do Grêmio Estudantil, por onde buscou combater a evasão escolar.

Filho de pais agricultores, Francisco Matheus Bezerra Silva é o caçula de seis irmãos. No fim do ano passado, foi o primeiro da família a ingressar em uma universidade. O jovem foi aprovado no curso de Pedagogia da Universidade Estadual do Ceará (UECE) e no de Farmácia no Centro Universitário Católica de Quixadá, município também no Ceará e onde hoje vive.

Matheus Bezerra

Matheus superou muitas barreiras, inclusive um episódio de violência que vitimou um de seus irmãos quando ele tinha 5 anos de idade. Nessa época, a ida para a escola envolvia uma caminhada de mais de 1 km debaixo do sol antes de pegar o ônibus. “Meus pais acordavam cedo para vender o leite da vaca e, assim, nos dar o que comer. Mais tarde, percebi que a educação seria o único meio para mudar a realidade social que eu estava inserido“, explica o jovem.

Aos 14 anos, começou a dar monitorias e aulas de reforço para os colegas. Em 2018, foi trabalhar em uma farmácia no período da noite, onde ainda é funcionário. Bastante ativo nas atividades escolares, ao longo do Ensino Médio também teve contato com o Grêmio Estudantil.

“Lá tínhamos a esperança de ser a voz dos estudantes junto à gestão da escola”, conta Matheus. Ao lado de outros três colegas, lançou uma chapa e foi eleito presidente, ganhando meios de organizar atividades dentro da escola. “As maiores reivindicações dos alunos eram projetos culturais que envolvessem leitura e esporte, assim como aulas mais dinâmicas”, relembra.

Durante o ano letivo de 2020, e já vivendo a pandemia, Matheus conta que o Grêmio realizou novas iniciativas para auxiliar educadores e estudantes nas aulas remotas.

“A gente sabe que os docentes também estavam cansados. Apoiamos o professor montando slides e organizando no que fosse necessário”, conta. “O corpo docente da nossa escola era composto por educadores que não tinham tanto domínio da tecnologia e nós os ajudamos a se prepararem para as aulas remotas”, relata.

O Grêmio também foi responsável por criar uma rede de apadrinhamento estudantil e promoveu uma busca ativa dos estudantes que não estavam conseguindo acompanhar as atividades, o que gerou resultados positivos para diminuir o índice de evasão escolar.

“Se o aluno faltasse ou estivesse com um índice de frequência baixo, o padrinho da turma ia falar com ele”, explica Matheus. Eram comuns respostas como ‘Não tinha internet na minha casa’, ou ‘Estou trabalhando’. Os gremistas, então, imprimiam as atividades e entregavam na casa dos estudantes ou pediam que o professor gravasse a aula.

” Na minha escola os índices de evasão entre o 1º e 2º ano eram enormes. Em uma única turma evadiam de 5 a 7 alunos. No entanto, a gente conseguiu diminuir isso com a busca ativa!”, comemora o jovem.

Ainda em 2020, Matheus foi convidado a representar os estudantes do seu município no Congresso da UBES (CONUBES), que acabou adiado por conta da pandemia. Empolgado com a seleção, idealizou um projeto para contar a sua trajetória a fim de inspirar outras crianças e jovens. “Sou um menino do interior que teve a vida marcada pela violência. E por isso tive que mudar de realidade, mas hoje me tornei referência para os estudantes do município”, afirma.

O jovem também fez parte do Núcleo de Cidadania de Adolescentes (NUCA), espaços construídos nos municípios participantes do Selo UNICEF. “Foi no NUCA que buscamos uma alternativa junto à gestão municipal para melhorar a qualidade de vida dos adolescentes. Temos que mostrar para os jovens que eles têm vez e que não precisam repetir uma história. Eu não precisava repetir a história dos meus irmãos, por exemplo”, finaliza Matheus.

A educação que o jovem almeja 

Segundo a pesquisa “Nossa Escola em Reconstrução”, feita pela ONG Porvir com jovens entre 13 a 21 anos de todos os estados do Brasil, a escola é a principal instituição de formação da criança ou do adolescente. O estudo aponta que a maioria dos estudantes reconhece a importância do vínculo com a escola, mas têm críticas em relação ao seu modelo: a maneira como eles gostariam de aprender é diferente da atual.

“Hoje em dia, acho que a educação brasileira não está nada alinhada com o aluno”, aponta a estudante Vitória Rodrigues de Oliveira, de 17 anos. Ela mora no município de São João de Meriti (RJ) e cursa o 2º ano do Ensino Médio na Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio/Fiocruz.

“Ouvimos muitas histórias diferentes e, às vezes, são coisas que a escola poderia ajudar a resolver. Se na Poli, onde a coordenação defende a autonomia do estudante, temos problemas, imagine numa escola sem nada disso, sem infraestrutura?”, questiona a jovem, que é atuante no Grêmio Estudantil.

Vitória Rodrigues de Oliveira

Antes de ingressar na Escola Politécnica, Vitória estudou em uma instituição municipal, mas não teve boas experiências. Buscando combater a violência nas escolas, ela escreveu um Projeto de Lei para criar o Programa Nacional de Prevenção aos Impactos da Violência Urbana nas Escolas, para o Parlamento Jovem Brasileiro.

“Hoje em dia eu sou deputada federal jovem, e apesar de ser só uma simulação da Câmara dos Deputados, saber um pouco mais sobre o trabalho de um parlamentar tem sido muito enriquecedor pra mim “, finaliza Vitória.  

Samara Garcia,14 anos, estudante do 8º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental Ceu Manoel Vieira de Queiroz Filho em São Paulo (SP), também sente que suas expectativas não são atendidas e sonha com mudanças. A jovem já participou de projetos como o Geração Que Move, com o objetivo fortalecer o potencial criativo e transformador das juventudes de áreas vulneráveis do Rio de Janeiro e São Paulo. E também representou estudantes no evento de encerramento do Consulta Brasil, iniciativa que promoveu uma formação sobre educação midiática e uso das tecnologias digitais para crianças e adolescentes.

“Os jovens que estudam em uma escola pública não têm as mesmas oportunidades que jovens de escolas particulares. Eu quero ver uma educação mais igualitária no futuro “, almeja. 

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