Ouvimos especialistas, que também são mães e pais, para entender como esta relação foi fortalecida na pandemia e é importatante para o desenvolvimento de uma educação integral dos filhos
A escolarização é o conjunto de conhecimentos adquiridos na escola. Já a educação é um processo extenso de formação de uma pessoa, que permeia todos os meios em que a criança convive e ocorre durante toda a vida. É comum que exista uma confusão entre os conceitos, mas é importante salientar que a família faz parte tanto da educação quanto da escolarização dos alunos.
Famílias engajadas no ambiente escolar tem influência direta no desempenho dos estudantes. Um relatório feito em 2016 pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a partir de resultados do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), apontou que, quanto maior é o engajamento familiar, melhores são as notas dos alunos. Outro estudo, feito em 2002, pelo Centro Nacional para Conexão entre Famílias, Comunidades e Escolas, atesta que os impactos são positivos independentemente da origem social dos estudantes.
Mesmo que a escola seja o espaço em que a criança se desenvolve a partir da aprendizagem formal, para os especialistas, o desenvolvimento dessa aprendizagem está intimamente relacionado à motivação para aprender e a família é um dos grandes elementos responsáveis por incentivar a paixão pelos estudos.
Da sala de aula para a sala de casa
A educadora Roberta Bento atua como orientadora de família na relação com a escola através do projeto SOS Educação, ao lado da sua filha Taís.
Roberta foi uma das entrevistadas do episódio “Da sala de aula para a sala de casa” do podcast “Educando para Transformar” e defende que acolher os pais é um dos primeiros passos a serem dados para fortalecer a relação entre famílias e escola. “É preciso que a família se sinta acolhida pela educação e saiba que ela também desempenha um papel fundamental no aprendizado do filho”.
Confira o episódio na íntegra!
Autonomia com responsabilidade
“A família está em uma costura junto com a escola”, pontua a educadora parental e especialista emocional, Luanda Barros. Com mais de 115 mil seguidores no Instagram, Luanda, ou Lua, produz conteúdos sobre parentalidade positiva, seu jeito de maternar e crescimento pessoal. Pernambucana, mãe de quatro filhos, ela é fundadora da rede Amparo, que promove cursos, workshops e encontros para pais e mães.
A educadora levou o seu escritório para dentro de casa e vive hoje com a família em um sítio em Brasília (DF). As crianças descobrem todo dia o que é viver em contato com a natureza, ao mesmo tempo em que permanecem tendo aulas remotas.
“Eu tenho a autonomia como um valor aqui em casa, e por isso eu sou acessada pelos meus filhos quando eles realmente precisam de ajuda”, conta Lua. “Mas eu acho que quem sofre mais com as aulas on-line sou eu, porque eu queria mais para eles. Queria o olho no olho, o toque, os amigos, a bagunça…”, lamenta.
Para Lua, compartilhar responsabilidades com as crianças é necessário para que elas se percebam capazes, autônomas, inteligentes e quando estas se depararem com a responsabilidade escolar, isso não seja um fardo.
“Falar sobre responsabilidade é perceber que a criança faz parte da dinâmica da casa. A gente vai tomando este lugar da criança porque a gente não tem tempo de esperar ou de ensinar. Estamos sempre com pressa ou cansados”, aponta.
Lua também compartilha como esse momento tem sido transformador para o processo educativo deles. “Muitas pessoas não estão confinadas com um jardim atrás da casa, elas estão em situações muito mais estressantes. Mas eu tenho falado muito sobre apreciar os pequenos momentos, e ensino isso para as crianças. Em um dia ruim vai caber pelo menos um momento bom. Precisamos treinar o nosso olhar para apreciar as pequenas pílulas de alegria”, acredita.
Apesar das dificuldades e frustrações, a especialista acredita que este também foi um momento de oportunidades para refazer vínculos familiares. “É preciso se render aos convites que os filhos trazem e baixar a guarda! Sabe o que acontece quando você baixa a guarda? O fortalecimento desta relação invisível entre pais e filhos”.
Questionada sobre como as discordâncias entre famílias e escolas podem afetar o desenvolvimento infantil, Luanda é enfática em afirmar que o contato com valores diferentes dos seus é engrandecedor para os estudantes.
“Meu filho mais velho, João, de 12 anos, está em uma escola tradicional e conteudista, e os meus três mais novos estão em escolas mais alternativas. Hoje eu vejo como fez bem para o João sair de uma bolha e ser inserido em um lugar que ele precisa reafirmar os valores de respeito e afeto, diante das diferenças. Eu não vejo como um problema, e sim como uma oportunidade de crescimento”, afirma.
A especialista explica que é preciso entender aquilo o que lhe é inegociável, para caso necessário, abrir espaço de diálogo dentro da escola. “Eu preciso ter claro quais são os meus limites, e os limites das minhas crianças. Falas e atitudes preconceituosas são inegociáveis, por exemplo”.
Depois da adaptação inicial por conta da pandemia, Lua acredita ser possível agora construir uma relação de maior parceria e acolhimento. “Passamos um ano pensando em como fazer para se ajustar ao novo contexto. Agora menos inflamados estamos tentando fazer isso ser mais possível”, acredita.
Família, escola e pandemia
Em abril de 2020 o Conselho Nacional de Educação (CNE) elaborou diretrizes para as escolas durante o isolamento social, e afirmou que o papel da família é essencial para manter o vínculo com as instituições e evitar retrocessos no desenvolvimento dos estudantes.
Durante o ensino remoto emergencial, os adultos tiveram o papel de “mediadores” no processo educativo das crianças de anos iniciais, recebendo orientações dos professores e professoras. Nos anos finais, os alunos foram incentivados a desenvolver maior autonomia, realizando atividades não presenciais com a orientação dos educadores. A participação dos pais com os estudantes mais velhos foi o de apoiar na organização da rotina e na motivação dos estudos.
De acordo com a pesquisa A situação dos professores no Brasil durante a pandemia, realizada em maio de 2020 pela Nova Escola, 31,9% dos docentes afirmaram que a maioria dos pais e responsáveis participaram das atividades a distância. Na rede privada, a participação familiar foi de 58%. Na rede pública, 36%.
“Não há nada que o diálogo não resolva”
“A responsabilidade da escola precisa estar alinhada com a educação que envolve a criação e o desenvolvimento das crianças em casa”, defende o carioca Leandro Melquiades, educador e sócio da Era uma Vez o Mundo, empresa que produz artesanalmente brinquedos educativos referenciados em crianças negras.
Antes de fundar a empresa, Leandro lecionou Língua Portuguesa, por cerca de 15 anos, para o Ensino Fundamental. Hoje, pai do Matias, de nove anos, ele consegue olhar para a importância da parceria família-escola como pai e também como professor. “É muito importante que a criança passe pela escolarização tendo a família envolvida. Ao mesmo tempo, se você não tem uma escola que chama os pais para participarem, isso prejudica o desenvolvimento cognitivo, a socialização e a aprendizagem do estudante”, explica.
Ele acredita que uma escola mais preocupada com o desenvolvimento pessoal do indivíduo, e não apenas na transmissão de conteúdos, dará maior abertura à participação familiar.
“A partir do momento em que a escola percebe a individualidade das crianças, mais pessoas se sentem convidados a fazer parte do processo educativo”, explica Leandro.
Foram muitos os desafios enfrentados, tanto por professores quanto por familiares no apoio das atividades a distância durante a pandemia. Leandro chama atenção para a falta de interação de seu filho com os outros colegas. “O Matias tem grupo de mensagem com os amigos, mas isto não supre a sua necessidade de socializar. Como dar conta de tudo o que o ambiente escolar dava para ele?”, questiona.
Para Leandro quando os valores entre escola e família se chocam, o diálogo é sempre a melhor solução. “Não há nada que o diálogo não resolva”, diz ele.
Ele cita como exemplo um período que o seu filho ainda estava na creche, e a professora responsável pelo pequeno não penteava os seus cabelos crespos. “A gente via sempre as crianças voltando arrumadinhas, e o Matias voltava com o cabelo desarrumado. A professora argumentou que não sabia arrumar e por isso preferia se abster”, conta Leandro.
Os pais de Matias ficaram obviamente chateados, e em conversa com os docentes sugeriram dar uma oficina para falar sobre a valorização dos corpos negros. “Demos um workshop de graça e propusemos mudanças. Para ampliar os nossos olhares, precisamos sair da nossa bolha”, afirma.
Leandro ressalta ainda que ao mesmo tempo que a pandemia trouxe mais proximidade entre pais e filhos, também aumentou o cansaço físico e mental tanto para as crianças, quanto para os responsáveis. Ele aponta que o exercício diário de ser criativo e inventivo pode ajudar a amenizar essa questão.
“Por mais que tenha trazido proximidade, a convivência precisa ser reinventada todos os dias, para que pequenas coisas não virem grandes problemas. Estamos tendo que olhar para esta realidade, em que estamos permanentemente juntos, com uma olhar que exercite mais a nossa paciência, a nossa criatividade e fazendo mais atividades diferentes com as crianças”, finaliza.
Educar é incluir. É aproximar. É acreditar. É realizar. É transformar!
O compromisso com a educação é de todos nós. Em um momento em que a pandemia nos desafia diariamente, esse compromisso se torna ainda maior.
Para chegar mais perto, usamos a tecnologia como meio para transformar a educação e esse é um papel de estudantes, professores, gestores, famílias e sociedade.
No dia 28 de abril comemoramos o Dia da Educação. Ao longo desse mês, homenagearemos esses atores da comunidade escolar.
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