Premiada pela atuação na Etec de Pirituba, em São Paulo, Eliane Leite compartilha sua trajetória e reforça a gestão como uma função de retorno, propósito e compromisso com a comunidade.
“Aquilo que parece só um prédio, cumpre um papel importante na vida das pessoas que circulam dentro e fora dele. É vivo, constrói saberes, conhecimentos, afetos e propósitos”. É assim que a diretora Eliane Leite Malteze define o papel da escola. A função da gestão, por sua vez, é garantir que toda essa estrutura se mantenha para otimizar o aprendizado e também o encontro da comunidade escolar.
Quem ouve a gestora falar sobre educação, não imagina que trabalhar na área não estava entre suas primeiras opções de carreira. Eliane cresceu ouvindo o pai aconselhá-la a prestar concursos públicos. Para ele, um homem negro que há muito tempo já enfrentava as consequências do racismo estrutural no mercado de trabalho, a estabilidade financeira era a garantia de uma vida segura.
Seguindo os conselhos do pai, Eliane passou no concurso e foi trabalhar como escriturária em uma escola da Zona Norte de São Paulo. Na época, cursava Matemática enquanto aprendia sobre os bastidores de uma instituição de ensino. Não demorou até que se encantasse pela sala de aula, aproveitando a primeira oportunidade que teve para — nas palavras dos familiares — trocar o “certo pelo duvidoso”.
Começando como professora substituta, sua trajetória inicial na rede pública lhe trouxe aprendizados e desafios incontáveis. Chegou a trabalhar em escolas onde a infraestrutura era precária, os recursos escassos e a comunidade escolar desarticulada. De toda forma, levava consigo a missão de fazer com que os jovens aprendessem a enxergar a educação como uma porta aberta para a transformação.
Por seu trabalho na diretoria da Etec em Pirituba, Eliane Leite venceu a categoria Educadora do Ano do prêmio Mulheres que Transformam 2021. Ela também é fundadora da empresa de consultoria Uzoma Diversidade, Educação e Cultura, líder dos Comitês de Educação e Igualdade Racial do Grupo Mulheres do Brasil e co-autora do livro Mulheres que Empreendem e Transformam, que conta as histórias de 23 empreendedoras inspiradoras.
“Minha preocupação era reforçar que eles não precisavam amar a minha disciplina, mas sim entendê-la como um conhecimento importante para a vida. Buscava juntar aulas com outros professores, levá-los ao mercado, para ver o preço dos produtos e comparar marcas, sempre trabalhando exemplos cotidianos. O resultado disso eu pude observar nos próprios estudantes. Hoje, muitos deles são professores”, relembra a educadora.
Em 1987, deixou a sala de aula para integrar a área administrativa do Centro Paula Souza (CPS), uma autarquia do Governo do Estado de São Paulo responsável por oferecer Ensino Médio e cursos técnicos profissionalizantes. Trabalhou com a equipe por mais de 20 anos antes de ser convidada, em 2014, para assumir a diretoria da recém-inaugurada Etec Profª Dra. Doroti Quiomi Kanashiro Toyohara, em Pirituba (SP).
Conselhos de um especialista em criatividade para uma gestão inovadora
O chef Ferran Adrià, conhecido pelo premiado restaurante El Bulli e pelas receitas revolucionárias em sua cozinha, uniu forças à Fundação Telefônica Espanha por acreditar que a escola representa uma das maiores potências de criatividade e inovação. Baseado em sua experiência, o chef traz dicas valiosas para gestores de escola em uma coleção composta por seis volumes, que estimula o uso da criatividade por meio de discussões teóricas e práticas para educadores desenvolverem seu potencial criativo e construir soluções para transformar a educação.
Retorno e propósito
Dois anos antes da chegada de Eliane, a Etec materializou-se como a realização de um desejo da comunidade, que ansiava por uma escola pública de qualidade no distrito. Embora ainda houvesse muito a ser feito, os familiares, estudantes e funcionários se apropriaram daquele espaço com muito afeto.
Tocada por essa relação, da qual logo passou a partilhar, Eliane decidiu trabalhar para reforçar esse sentimento no projeto político pedagógico da escola. Todas as atividades realizadas pelos estudantes têm como objetivo integrar a comunidade escolar. A mensagem principal? Retorno e propósito.
“Sempre tento lembrá-los da responsabilidade que nós temos de devolver para a sociedade o que tiramos do acesso a todo esse conhecimento. Queremos transformar nossa escola na melhor da região, quem sabe até da cidade. E não por uma questão de vaidade, mas sim por entender que a educação é uma janela aberta para o mundo. Nosso objetivo é formar cidadãos que possam impactar e transformar suas comunidades, onde quer que estejam”, complementa Eliane.
Conheça alguns dos projetos desenvolvidos na Etec Profª Dra. Doroti Quiomi Kanashiro Toyohara:
Trajetórias que Inspiram Pensando em inspirar os projetos de vida dos estudantes, a Etec traz personalidades que são referência em suas respectivas áreas de atuação para fazer bate-papos com os jovens. A ideia não é compartilhar apenas as conquistas, mas também os desafios que fazem parte do caminho até elas. Entre os convidados para os encontros, já estiveram: a jornalista e apresentadora da Globonews Aline Midlej, os CEOs da Yoki e da Bayer, responsáveis pelo projeto Pense Grande, da Fundação Telefônica Vivo, representantes da StartUp in School, do Google, além da astronauta norte-americana Anna Fisher, que esteve no Brasil em 2019, a convite da Embaixada dos Estados Unidos.
Integração de saberes Desde os eventos até os projetos em sala de aula, tudo que é feito para os estudantes envolve a integração entre o que acontece dentro e fora dos muros da escola. Na Etec de Pirituba, a Festa Junina já foi utilizada como pano de fundo para falar sobre a ditadura militar. E a Semana Paulo Freire para debater a importância da água. Além disso, a escola busca trazer iniciativas como o Plano de Menina, da jornalista Viviane Duarte, que tem como intuito estimular a discussão sobre machismo, violência doméstica e igualdade de gênero.
Retorno à comunidade Toda oportunidade de estimular os estudantes a multiplicarem esse conhecimento são aproveitadas para torná-los cada vez mais protagonistas e autônomos. O grêmio estudantil da Etec lançou um cursinho popular para preparar e estimular outros jovens da comunidade a acessarem o Ensino Médio público e profissionalizante. A metodologia e os planos de aula são montados pelos próprios estudantes, que ocasionalmente contam com o apoio do corpo docente. A partir de 2020, os encontros passaram a ser realizados virtualmente e estão abertos gratuitamente a qualquer jovem interessado no processo seletivo da Etec.
“Maestros da construção coletiva”
O que a escola representa para o território? Para Eliane, essa é a primeira questão a ser respondida pela gestão.
“O gestor é o maestro de todo esse processo. Ele tem como responsabilidade ir além do cumprimento dos serviços burocráticos e administrativos, indo também de encontro às expectativas da comunidade. A gestão precisa ser uma liderança que inspira”, afirma.
A gestora acrescenta, ainda, que o maior desafio é trazer todos os estudantes, educadores e familiares para a mesma sintonia, envolvendo-os na realização coletiva das metas propostas pela escola. Por isso, Eliane já ficou conhecida pelas reuniões periódicas onde faz comunicados importantes, estreita os vínculos e ouve sobre as demandas trazidas por cada um desses agentes da comunidade escolar.
A troca nesses encontros é tamanha, que um dos momentos mais marcantes da trajetória da gestora se deu ao final de um deles. Após discursar, um de seus estudantes a procurou para dizer que estava muito emocionado com as palavras dela sobre retorno à comunidade. “Depois me contou que era a primeira vez que ele tinha uma diretora negra, e isso o fazia sentir representado. Hoje ele está cursando Economia na Unicamp. Vê-los voar e falar sobre propósito em outros espaços é muito gratificante”, relata.
No episódio O empreendedorismo social na escola, da série de podcasts Educando para Transformar, da Fundação Telefônica Vivo, Eliane fala sobre o projeto de empreendedorismo social que tem desenvolvido com os alunos da Etec Pirituba. Ouça aqui!!
Mesmo em contextos complexos como o da pandemia, Eliane continua reafirmando que a escuta e a construção coletiva são as soluções para uma educação que realiza mudanças. Como maior aprendizado, a diretora destaca a potência dos jovens. “É impressionante ver como essas juventudes se engajam e buscam um mundo melhor. É esse o papel da educação: Abrir a janela do mundo para que eles possam transformá-lo de forma ética e comprometida”, finaliza.
Educar é incluir. É aproximar. É acreditar. É realizar. É transformar!
O compromisso com a educação é de todos nós. Em um momento em que a pandemia nos desafia diariamente, esse compromisso se torna ainda maior.
Para chegar mais perto, usamos a tecnologia como meio para transformar a educação e esse é um papel de estudantes, professores, gestores, famílias e sociedade.
No dia 28 de abril comemoramos o Dia da Educação. Ao longo desse mês, homenagearemos esses atores da comunidade escolar.
Fiquem de olho em nossos canais e acompanhe nossas ações por meio da hashtag #EducandoParaTransformar.