Professores possuem papel fundamental na identificação, inspiração e formação de jovens empreendedores que podem contribuir para a transformação social do país.
Alunos de várias regiões do Brasil, de diferentes classes sociais e de faixas etárias diversas concordam: unir empreendedorismo e educação em sala de aula pode trazer benefícios para o aprendizado, para a prática dos educadores e, principalmente, pode inspirar àqueles que sonham em tirar as ideias do papel.
A pesquisa Juventude Conectada 2018, edição especial Empreendedorismo trouxe algumas percepções sobre o tema. Por meio de entrevistas em profundidade e pesquisas qualitativas, jovens empreendedores indicaram que alguns dos motivos que podem afastá-los do empreendedorismo é o ensino formal, que privilegia caminhos voltados para a segurança financeira, e a dificuldade em encontrar pessoas que acreditem em suas ideias.
Neste cenário, o contato com outros empreendedores e o apoio de pessoas e instituições que estimulem projetos de vida tornam-se essenciais para quem quer embarcar nessa jornada. E é aí que entra o importante papel do professor.
De cada sete jovens empreendedores que participaram das entrevistas para a pesquisa Juventude Conectada, seis mencionaram que ter entrado em contato com instituições – escolas e/ou faculdades – que incentivavam o empreendedorismo, fez com que pensassem em trilhar esse caminho como uma possibilidade de carreira.
Com a palavra, os alunos
Miguel das Mercês é estudante universitário em Belém (PA), gestor de programa de empreendimento em escolas e universidades da Junior Achievement e foi um dos consultores da pesquisa Juventude Conectada. Para ele, é fundamental levar a relação entre empreendedorismo e educação para a sala de aula e desmistificar a ideia de que empreender é a “última opção” para gerar renda e ter uma carreira de sucesso.
“Passa pelos educadores a missão de mostrar que o empreendedorismo é uma possibilidade de carreira e não algo para aonde o jovem corre quando tudo parece dar errado. É muito comum quando vamos falar de empreendedorismo nas escolas ouvir que os jovens nunca tiveram contato com o tema em sala de aula. E isso é algo que precisamos mudar”, considera.
O período de formação dos jovens, seja na escola ou na universidade, geralmente é uma época de predisposição ao aprendizado e de maior interesse e sensibilidade para aquilo que é novo. É por isso, também, que é um importante momento para que conheçam as possibilidades que o mundo do empreendedorismo social oferece.
“A falta de informações é uma grande barreira ao empreendedorismo. Os educadores podem atuar compartilhando informações sobre a possibilidade do jovem empreendedor ter sua própria renda, trabalhar com o que gosta, poder transformar a sociedade e, acima de tudo, ser protagonista de sua própria história”, entende Miguel das Mercês.
Bons exemplos
Quando educadores enriquecem suas aulas pensando a relação entre empreendedorismo e educação, podem inspirar os alunos a colocarem ideias em prática ou atuarem para que possam realizar seus sonhos.
Um desses “bons exemplos” vem da Escola Técnica (Etec) Parque da Juventude, durante a disciplina de Empreendedorismo e Inovação. Quando a professora Veridiana Ferreira estimulou os alunos a desenvolverem projetos de impacto social, Thayna Izabella e outras cinco amigas, que na época cursavam o 2° ano do curso técnico em administração, criaram a Sustentare, empreendimento social que atua na reciclagem de cadernos escolares.
“Nas primeiras aulas, a professora logo disse que aquela disciplina seria diferente: nós primeiro iríamos para a prática e, em seguida, aprenderíamos a teoria. Realmente foi uma experiência como nenhuma outra, porque não apenas líamos e ouvíamos relatos sobre o que era o empreendedorismo social, nós vivenciávamos o dia-a-dia do empreendedor, suas angústias e desafios”, revela a estudante.
A Sustentare, que surgiu como um trabalho para a disciplina de Empreendedorismo e Inovação, foi um dos projetos selecionados por edital para a ocupação do Acessa Campus no Parque da Juventude, um espaço de coworking público da Secretaria de Governo do Estado de São Paulo. O empreendimento social foi acelerado por meio da metodologia do Programa Pense Grande, da Fundação Telefônica Vivo.
Possibilidades para os educadores
A presença de um mediador para inspirar, potencializar e identificar futuros empreendedores é fundamental. Mas será que essa figura mediadora pode estar no professor?
Para Veridiana Ferreira, coordenadora de projetos de coworking do Inova Paula Souza e professora de Empreendedorismo e Inovação da ETEC Parque da Juventude, sim, cabe também ao educador ajudar os jovens a serem protagonistas de suas próprias histórias.
“Superação, inovação e criatividade são algumas atitudes empreendedoras que os alunos podem desenvolver com o apoio dos professores. Se os alunos vão, de fato, abrir um empreendimento nós não sabemos, mas o que podemos prever é que eles levarão essas competências para toda a vida”, opina a professora.
Outro caminho possível é a criação de disciplinas que abordem a temática empreendedora em sala de aula. Em São Paulo, por exemplo, já são 17 turmas em Faculdades de Tecnologia (Fatecs) e Etecs que incluem o ensino do empreendedorismo, com base na Metodologia Pense Grande, no currículo escolar.
A necessidade da formalização do empreendedorismo como disciplina é compartilhada tanto por professores quanto por alunos.
“É fundamental a consolidação das disciplinas de empreendedorismo nas escolas e nas universidades. Não importa a idade, qualquer momento é adequado para entrar em contato com o tema. Só precisamos ter em mente que não adianta apenas falar sobre a relação entre empreendedorismo e educação: é preciso envolver ação. Não existe empreendedorismo sem ação. Ao professor, especificamente, cabe o reconhecimento de que todo mundo pode desenvolver habilidades de empreendedor – inclusive ele mesmo”, conclui Veridiana.
Hora da revisão
Se interessou pela possibilidade de conversar sobre empreendedorismo e educação em sala de aula? Então recapitule algumas dicas do que é possível fazer para mediar o desenvolvimento da atitude empreendedora nos alunos: