Mulheres promovem inclusão, diversidade e apoio a outras mulheres com suas ideias empreendedoras. Conheça iniciativas que mostram a força do empreendedorismo feminino
O empreendedorismo feminino está derrubando barreiras em busca do reconhecimento de mulheres e da igualdade de oportunidades, apesar de ainda haver desafios em um espaço historicamente masculino. Um estudo do Relatório Especial de Empreendedorismo Feminino no Brasil, divulgado pelo Sebrae no ano passado, aponta que 48% dos MEIs (Microempreendedores Individuais) são mulheres. Segundo a instituição, já são 24 milhões de mulheres empreendedoras no Brasil, em comparação com os 28 milhões de homens.
O Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino, celebrado em 19 de novembro, traz ao debate a força dos negócios liderados por mulheres. Além disso, promove a visibilidade dessas que lutam diariamente para quebrar preconceitos no setor.
Cerca de 9,3 milhões de mulheres estão à frente de negócios no Brasil e elas já são 34% das líderes em negócios. É o que mostra a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), realizada pelo IBGE, em 2018.
Considerado um dos setores que mais crescem no mundo, a Economia Criativa é uma das responsáveis pelo desenvolvimento humano. Nesse sentido, o empreendedorismo feminino se destaca por contribuir para a geração de empregos, para o crescimento da economia e para transformar as relações sociais. Afinal, possibilita a autonomia financeira à mulher e um olhar diversificado para a empresa na tomada de decisões.
Essa é uma tendência que está em crescimento e que inspira cada vez mais mulheres a abrirem seus próprios negócios e a impulsionar outras mulheres a superar obstáculos no mercado de trabalho.
Conheça algumas iniciativas de empreendedorismo feminino que estimulam a economia criativa.
Maternashop
O Maternashop é uma rede de apoio ao empreendedorismo materno, idealizada por Clareana Eugenio, de 39 anos, mãe de três filhos.
O grupo foi criado no Facebook para reunir mães para a venda e troca de roupas e objetos que não eram mais usados pelas crianças. Com o tempo, Clareana percebeu que a demanda das mães era grande, já que muitas empreenderam ao serem demitidas após a licença-maternidade ou por não conseguirem recolocação no mesmo cargo no mercado de trabalho.
Foi então que ela criou a primeira regra do grupo: sempre indicar uma mãe empreendedora para incentivá-la.
“Mães, geralmente, empreendem por necessidade. Em grande parte, para acompanhar o crescimento deles ou porque são demitidas na volta da licença. Criar a rede foi essencial para termos uma diversidade de profissionais autônomas e empreendedoras que atendam todos os nichos de mercado”, explica.
Com o lema “Compre de uma mãe”, as participantes usam o grupo para anunciar seus serviços e produtos e comprar uma das outras. Além disso, o trabalho foi ampliado com um site próprio, buscando a autonomia das mulheres e o apoio financeiro para iniciar o negócio.
“Por ser um empreendedorismo de necessidade, muitas dessas mulheres ‘caem de paraquedas’ nesse mundo sem imaginar como funciona uma empresa. É quando vários problemas surgem, tanto para quem compra quanto para quem vende. Sentimos a necessidade de trazer mais conteúdos profissionalizantes, mentoria e muita mão na massa”, diz.
Para atender essas necessidades, o Maternashop criou o Pomar, um programa de desenvolvimento para mães empreendedoras.
“A ideia é que essas mulheres se aprimorem com cursos e orientações de outras mulheres. Além disso, temos um fundo solidário que funciona como microcrédito para mulheres da rede que precisam de dinheiro para investir em fotos profissionais, insumos e capacitações”, detalha.
Atualmente, mais de 35 mil mães são membros do Maternashop. O perfil no Instagram é aberto para todos que se interessam pelos produtos.
“Queremos criar coletivamente mais oportunidades para alcançarmos cada vez mais espaços. Não é romântico, mas tem muitas coisas boas”, comenta. Clareana também incentiva outras mulheres que queiram seguir o mesmo caminho. “Saiba criar uma rede para se apoiar. Faça isso especialmente com mulheres da vizinhança, da escola das crianças ou na internet”, finaliza
Wakanda Educação Empreendedora
Karine Oliveira nasceu no bairro Engenho Velho da Federação, em Salvador (BA). Aos 28 anos, ela tem revolucionado os negócios com um projeto de impacto social para empreendedores.
Foi em 2018, ano de estreia do filme “Pantera Negra”, que ela criou a Wakanda Educação Empreendedora. Mas a vida de empreendedora começou bem antes, inspirada nas práticas de sua mãe.
“Começou na adolescência, quando passei a vender coxinhas na escola para garantir uma renda extra. Não era por necessidade, era por vontade. Vontade que nasceu ao ver minha mãe, Kátia Santos, empreendendo intuitivamente no bairro. Era a maior e melhor professora que eu poderia ter”, relembra.
Karine tem mais de 10 anos de experiência com empreendedorismo. É graduada em Serviço Social e com formação técnica em Viabilidade Econômica. Com sua empresa, ela trabalha para a autonomia de empresários negros. O trabalho consiste na tradução e explicação de conteúdos de negócios para a linguagem popular, inclusive trazendo gírias regionais.
“Nós queremos fazer com que as pessoas negras que comandam seus negócios se enxerguem como empreendedoras, o que não acontece na maioria das vezes. Elas se veem como alguém que faz o bico, o corre, mas são muito mais do que isso”, comenta.
O projeto, que tem um método inovador, já impactou mais 600 empreendimentos periféricos, sobretudo iniciativas direcionadas às mulheres negras e à comunidade LGBTQIA+.
Em 2021, ela foi eleita uma das mentes brilhantes, abaixo dos 30 anos, pela revista americana Forbes, na lista anual Forbes Under 30.
“Para mim, essa foi mais uma validação do trabalho que estamos realizando. As pessoas que empreendem, neste momento, precisam ainda mais de ajuda para conseguir sobreviver e crescer. Tem que correr ainda mais atrás. E o que queremos é ver negócios nascendo, se mantendo e, principalmente, crescendo nas periferias com educação empreendedora e incentivo”, encerra.
Maternativa
A comunidade Maternativa nasceu das inquietações das amigas Ana Laura Castro, cofundadora, e Vivian Abukater, sócia-diretora. Elas queriam discutir sobre maternidade e trabalho depois da gestação e da chegada dos filhos.
“O tema é tão representativo que, no primeiro mês, o grupo contava com 600 mães. Hoje, são mais de 26.800 mães de todas as capitais do Brasil e de mais de 60 países falando sobre trabalho. Esse movimento cresceu inspirado na nossa jornada e alcança cada vez mais espaço”, explica Vivian.
A Maternativa deixou de ser uma comunidade no Facebook e se tornou um negócio social em 2017, oferecendo moderação, conteúdo e apoio para as mães. No espaço, elas dividem seus desafios profissionais e ajudam umas às outras.
Em 2019, o Facebook notou a importância da comunidade no Brasil e a Maternativa foi selecionada para o Facebook Community Leadership Program como uma das 100 comunidades de maior impacto no mundo.
“Recebemos um investimento de 50 mil dólares para levar nossos projetos adiante”, lembra a sócia-diretora.
95% de mulheres mães formam a cadeia de fornecedores das iniciativas da Maternativa. Muitas delas já foram contratadas para trabalhar em projetos da equipe.
“Trabalhamos com produtoras de áudio e vídeo, gestoras de mídia e conteúdo, agências de comunicação digital, relações públicas e educadoras. É possível desenvolver projetos de alta complexidade contratando majoritariamente mulheres mães”, comemora Vivian.
No site Compre das Mães, que faz parte da rede Maternativa, qualquer mãe empreendedora pode se cadastrar gratuitamente e apresentar seus produtos e serviços. Já são mais de 500 empresas cadastradas e mais de 4 mil produtos e serviços que já receberam mais de 2 milhões de acessos.
“Para a Maternativa, manter a contratação de mães, de preferência da nossa comunidade, faz parte do que acreditamos e nos faz colocar em prática a ideia de que mães estão à frente dos mais variados tipos de trabalhos”, finaliza Vivian.
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