Créditos: Sesi-SP
Yuri Kiddo, do Promenino com Cidade Escola Aprendiz
O interesse por tecnologia leva milhares de crianças e adolescentes em todo o mundo a desenvolverem, cada vez mais cedo, seus próprios aplicativos, softwares e até mesmo robôs, por meio da programação. Antes mesmo de terminarem o colégio, esses garotos e garotas já administram suas próprias empresas, vendem seus produtos para grandes marcas e alguns deles já fizeram o primeiro milhão de dólares. Enxergar a oportunidade de negócio e acreditar são os principais fatores em comum nessas histórias. Porém, até que ponto o empreendedorismo precoce pode ser saudável no desenvolvimento da criança e do adolescente?
“Se uma criança cria um software, por exemplo, é porque está desenvolvendo o raciocínio e o conhecimento que aprendeu. Mas se ela passa a só fazer isso, deixando de lado o relacionamento com amigos e familiares e apresentando defasagem no estudo, então isso está atrapalhando e fazendo mal a essa criança”, explica o professor de computação tecnológica e robótica, José Reginaldo Pereira, do Colégio Eduardo Gomes, em São Caetano do Sul (SP).
Para facilitar a vida de programadores que usam a nuvem para trabalhar, aos 13 anos, Daniil Kulchenk fundou a Phenoma e vendeu, sem valor divulgado, a iniciativa para a empresa canadense ActiveState. Com isso, o adolescente de Seattle, que explora a programação em HTML desde os seis anos de idade, passou a integrar a equipe da companhia, mas ele garante que vai continuar se dedicando no colégio.
Para ele, deve haver equilíbrio para que as crianças e adolescentes cresçam de maneira adequada. Assim, a família e a escola devem oferecer condições para que as novas gerações se desenvolvam, sem esquecer de que elas são crianças. “Temos que fazer a diferença e trabalhar para que haja sempre a garantia de desenvolvimento pleno para as crianças. Dessa forma, no futuro elas irão perceber o impacto positivo que esse conhecimento oferece na vida delas e também na sociedade.”
Questionado se o desenvolvimento de aplicativos e programas pode levar a uma situação de trabalho infantil, Pereira descarta a possibilidade. “O trabalho infantil retira diversos direitos e coisas positivas que essa criança poderia viver. Além de ser um sacrifício, é uma relação de exploração na qual ela só perde”, afirma. “O mais importante é a criança se divertir e fazer o que gosta. Com os direitos garantidos, o próprio ambiente não permite essa relação de trabalho.”
Educação com novos elementos
Atento aos novos interesses e necessidades dos jovens assim como às demandas do mercado, o Ministério da Educação (MEC) criou, em 2013, o programa Pronatec Empreendedor, que inclui a disciplina de empreendedorismo em 15 cursos da rede pública de ensino técnico.
Para o MEC, a escola é o espaço adequado para despertar as atitudes empreendedoras dos estudantes. “O ambiente de sala de aula deverá favorecer a disseminação da cultura empreendedora em toda a comunidade escolar, para que uma proposta pedagógica, com foco no desenvolvimento do protagonismo infantojuvenil, mediante o empreendedorismo, possa favorecer o empoderamento dos estudantes”, define o Ministério no documento “Educação Econômica e Empreendedorismo na Educação Pública: Promovendo o Protagonismo Infanto-Juvenil”.
“A questão da aprendizagem é enorme. Há uma proposta pedagógica por trás da aula de robótica. Os alunos estudam e colocam bastante em prática o que aprendem em sala de aula. Além disso, todos tratam os demais com educação, respeito e igualdade”, explica o professor Pereira, que além das aulas de robótica regulares, também ministra uma turma especializada de oito alunos de 10 a 15 anos. “Trabalho com crianças e adolescentes que vão levar como valores dessas aulas a organização como ponto muito importante, concentração, e principalmente, o trabalho em grupo. Então estamos trabalhando muito além da robótica.”
A capacidade individual de empreender em soluções inovadoras; o processo de iniciar e gerir empreendimentos com enfoque no saber; a promoção de cidadania como direito e dever; e a preparação dos participantes para lidar com conflitos e desafios são alguns dos princípios sugeridos pelo MEC na educação empreendedora. “Estamos falando, portanto, da promoção de uma cultura participativa, solidária, agregadora, inventiva e geradora de riquezas a serem socializadas entre todos os membros de uma comunidade”, aponta o documento.
Também com apenas 13 anos, o garoto londrino Laurence Rook está lucrando com um sistema que telefona para o dono da casa quando tocam a campainha e permite que ele fale através do interfone mesmo se não estiver no local. O pequeno empreendedor já vendeu mais de 20 mil unidades de sua “Smart Bell” e sua expectativa é faturar 250 mil libras nos próximos meses com a sua invenção.
Veja mais casos de jovens empreendedores na Exame
Na prática
Com apenas 13 anos, o jovem Jorge Tinoco foi um dos palestrantes na última edição da Campus Party 2014, ocorrida no final de janeiro. Lá ele compartilhou sua experiência como programador, atividade que começou a interessá-lo aos nove anos de idade por pura curiosidade. Depois de começar a frequentar um clube de robótica em sua cidade natal, Salvador (BA), o garoto conheceu a programação e, sozinho, passou a pesquisar sobre o tema.
Outro exemplo surgiu em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte. A equipe Eagles & Owls, de estudantes do SESI Benjamim Guimarães, criou um robô para ajudar no resgate de vítimas de soterramento. O robô usa um termômetro para captar a temperatura da terra e, se o equipamento acusar uma temperatura entre 20 e 40 ºC, existe a possibilidade de ter alguém soterrado. Nesse caso, um alarme seria acionado. O grupo está disputando o Torneio de Robótica First Lego League, campeonato internacional que reúne milhares de estudantes de escolas públicas e particulares de todo o Brasil, para disputar com projetos de outros países.
Com o tema Fúria da Natureza, o Torneio de Robótica estimula os estudantes a montar e programar robôs buscando soluções para desastres naturais, como deslizamentos de terra, enchentes, tsunamis e tempestades. São mais de 60 equipes premiadas no país, todas elas formadas por até dez alunos, com idades entre nove e 15 anos, de escolas públicas e particulares, tendo um mentor ou técnico como líder.
O professor de computação tecnológica e robótica, José Reginaldo Pereira, do Colégio Eduardo Gomes, em São Caetano do Sul, é um desses líderes. “Já fizemos um aplicativo para celular e tablet que avisa idosos sobre a quantidade de cálcio nos ossos para alertar sobre a osteoporose. Para o torneio deste ano, a equipe desenvolveu um projeto para controlar melhor as inundações da cidade.”