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Em cartaz no Museu Catavento, a mostra Encontro com o Porvir compartilha projetos inovadores de dez professores brasileiros, de todas as regiões do país.

#Educação#EnsinoMédio#TecnologiasDigitais

Diretora do Porvir, Tatiana Klix abre a exposição “Encontro com o Porvir”

Uma longa salva de palmas tomou conta do Auditório do Museu Catavento na manhã desta segunda-feira, dia 7 de novembro. Quando os aplausos cessaram, professores de todas as regiões do Brasil desceram do palco como celebridades e desfilaram nos corredores do espaço cultural para inaugurar a exposição “Encontro com o Porvir – trajetórias de educadores que transformam o presente e constroem o futuro”.

A mostra temporária, que fica em cartaz até o início de fevereiro de 2023, reúne histórias e projetos de 10 professores que, através de suas práticas pedagógicas – criativas e inovadoras – impactaram a rede pública de ensino do Brasil. A exposição é idealizada pelo Instituto Porvir, que completou 10 anos em 2022, em parceria com o Museu Catavento, instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo.

“A proposta da exposição é reproduzir algumas das melhores histórias que relatamos ao longo da trajetória do Porvir”, afirma Tatiana Klix, diretora do Instituto Porvir. Ela acredita que divulgar práticas que buscam transformar a educação é importante para levar inspiração a outros educadores. “É preciso reconhecer e valorizar o esforço que esses profissionais têm feito para garantir que seus alunos aprendam. Por isso, separamos dez casos emblemáticos e os recontamos plasticamente, proporcionando ao público uma experiência interativa”, conta.

“O lançamento do Encontro com o Porvir, com a presença dos professores que têm seus trabalhos expostos, foi uma mostra do principal valor dessa ocupação: exaltar o protagonismo dos educadores na transformação da educação” afirma Tatiana Klix, diretora do Instituto Porvir. “Quem esteve presente ficou muito emocionado com as histórias desses profissionais e com a importância que o reconhecimento de suas práticas têm para eles. Ao levar experiências inovadoras promovidas em escolas de todo o país para um museu, esperamos envolver toda a sociedade na reflexão e debate sobre que tipo de educação queremos construir no Brasil.”

Encontro com o Porvir: homenagem a todos os professores brasileiros

Idealizadora do projeto Mulheres Inspiradoras, a professora Gina Vieira Ponte é uma das homenageadas do Encontro com o Porvir. Ao participar da abertura e visitar a exposição, Gina afirma ter sentido algo inédito. “E olha que já fui premiada 15 vezes”, brinca ela, que também é mestra em linguística, especialista em desenvolvimento humano, educação e inclusão escolar.

De verdade, eu queria que cada professor e cada professora do Brasil pudesse viver a experiência que eu vivi ali, entrando nas instalações, estando em uma posição de destaque e vendo o trabalho de uma vida inteira ser celebrado”, observa Gina. No entanto, a professora não deixa de citar obstáculos comuns à classe docente no país, como invisibilidade, solidão pedagógica e falta de reconhecimento.
“Mesmo após dois anos desafiadores [de pandemia], em que os professores se desdobraram e entregaram a sua alma para educação, não houve da parte do governo federal nenhuma manifestação de reconhecimento ao nosso trabalho”, lamenta. “Então, após a visita eu fui tomada por uma sensação de que tudo valeu a pena, e que o esforço não foi em vão.”

 

Mulheres Inspiradoras: combate às desigualdades de raça e gênero

Quando percebeu a necessidade de buscar metodologias capazes de motivar e envolver seus estudantes de forma mais significativa, Gina criou, em 2014, o projeto Mulheres Inspiradoras, levado a cabo com turmas do nono ano do Centro de Ensino Fundamental 12 de Ceilândia (DF). “Eu não acredito em aula para o aluno. Eu acredito em aula com o aluno”, observa Gina. “Então, iniciei uma jornada de questionamento sobre qual é o problema da escola na qual o jovem não quer estar para estudar. Me dei conta que nós temos uma escola autoritária, colonial e instrucionista, que olha para o aluno não como sujeito no processo pedagógico, mas como objeto”, define.

As consequências de a escola estar estruturada dessa maneira colonial, segundo Gina, é que abre-se brechas para que ela seja também um espaço racista, sexista e LGBTfóbico – e isso se dá não somente através das relações, mas por meio de materiais didáticos e, inclusive, do próprio currículo escolar. “Quando vemos o livro didático de história, por exemplo, vamos ver o silenciamento e apagamento da presença dos povos indígenas, negros, da classe operária – especialmente das mulheres. A história oficial que se aprende na escola é a de um país construído por homens brancos em situação de privilégio social”, denuncia. “Como é que os estudantes vão gostar de estudar se a escola não espelha as suas memórias, sendo um espaço onde eles não se enxergam, não se percebem?”, questiona.

É nesse cenário que nasce o projeto, “da minha coragem de contestar o paradigma educacional vigente”, aponta a professora homenageada. Inclusive, o interesse da juventude pelas novas tecnologias foi importante para ela definir o escopo da iniciativa. “A linguagem digital é nova para mim, mas pude me aprofundar e entender que o mundo virtual reverbera a representação da mulher como um objeto meramente sexual. Com o Mulheres Inspiradoras, queria trazer referências femininas fora desse estereótipo machista, para que as meninas compreendam que podem fazer o que quiserem com seus corpos e suas vidas.”

Utilizando metodologias como rodas de conversa, leituras, pesquisas em grupo e entrevistas, a iniciativa deu destaque às mulheres inspiradoras que vivem na comunidade do entorno da escola. “Os estudantes foram imersos numa perspectiva muito próxima da pedagogia crítica de projetos. Esse trabalho pedagógico subverteu a perspectiva da educação colonial, e os alunos foram convocados a ser agentes no processo de aprendizagem”, conta Gina.

“Uma escola que não celebra a diversidade que nos constitui, a história do povo negro e a presença de mulheres no nosso desenvolvimento é uma escola que não engaja o aluno. Quando subvertemos essa lógica, a gente conta a história para celebrar, fortalecer, enaltecer e mudar a estrutura do ensino.”

 

Doug Alvoroçado: Tecnologia em prol da inclusão

Outro educador negro homenageado na mostra é Doug Alvoroçado, um dos destaques da área temática de tecnologia. Na rede municipal do Rio de Janeiro, o professor desenvolveu uma série de projetos que utilizam a tecnologia para promover a inclusão dos estudantes, estimulando a diversidade dentro da escola.

“A minha história se conecta com a do Porvir”, afirma Doug, relembrando que foi em uma palestra com a participação de Vinicius de Oliveira, editor do site, que ele se atentou para o potencial do uso de realidade virtual para a aprendizagem de alunos surdos. Desde então, o professor já ensinou interpretação de texto com realidade aumentada, elaborou jogos acessíveis e criou um emocionômetro para medir a animação da turma.

As atividades trabalham diferentes componentes curriculares e também despertam a empatia nos estudantes. “Eu continuo usando e incentivando o uso da realidade virtual e ampliada na aprendizagem de todas as idades, com todos os tipos de alunas e alunos. Trazer esta tecnologia para a sala de aula engaja na diversão e na imersão da aprendizagem”, defende Doug.

Doug Alvoroçado será um dos palestrantes da quinta edição do enlightED, evento global que promove a reflexão sobre as principais oportunidades e desafios para a educação, em meio às transformações da era digital. Confira a programação completa aqui.

Professor: a liderança mais importante do país

Retomando seu olhar para a exposição, Gina celebra a constituição de um espaço privilegiado para divulgar as trajetórias, histórias e projetos liderados por professores e professoras do país. “É fundamental romper com essas narrativas que representam o magistério no lugar do sofrimento, do desprestígio da pobreza, da carência e da incompetência. Na mostra, o magistério está em outro patamar.”

O impacto disso para o futuro da carreira docente, que desperta cada vez menos interesse das gerações mais jovens, pode ser determinante. “Dar palco e visibilidade coloca o professor em seu lugar de potência, como a liderança mais importante de um país, porque se compromete a participar da formação das novas gerações”, conclui Gina.

Serviço: “Encontro com o Porvir – trajetórias de educadores que transformam o presente e constroem o futuro”

Data: 8 de novembro a 3 de fevereiro

Horário: terça a domingo, das 9h às 17h

Valor: R$ 15 (inteira) ou R$ 7,50 (meia-entrada). Às terças-feiras o ingresso é gratuito. Professores, coordenadores e diretores, supervisores, quadro de apoio de escolas públicas (federais, estaduais ou municipais) e quadro da Secretaria da Educação do estado de São Paulo têm direito à gratuidade todos os dias: basta apresentar o holerite. Crianças de até 7 anos também não pagam.

Local: Museu Catavento – Av. Mercúrio, s/n – Parque Dom Pedro II, São Paulo – SP

Mais informações: museucatavento.org.br e porvir.org

Encontro com o Porvir: Exposição homenageia professores e mostra a potência transformadora da carreira docente
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