No segundo dia do evento, futuristas, empreendedores sociais e educadores discutem sobre como preparar cidadãos para a vida no século XXI
Qual a relação entre inovação tecnológica e inteligência humana? No dia 20 de outubro, o enlightED Brasil dedicou-se ao debate sobre habilidades e competências essenciais para as sociedades digitais. Este ano é a primeira vez que temos uma edição local de uma das principais conferências globais sobre educação e inovação.
A edição brasileira do fórum faz parte da iniciativa internacional enlightED Hybrid Edition 2021, organizada pela Fundação Telefônica Espanha, pela IE University e pelo South Summit. O tema central da quarta edição da conferência global se propõe a debater estratégias para reduzir as lacunas educacionais e de inovação.
O segundo dia do fórum reuniu futuristas, empreendedores sociais e educadores para discutir sobre como preparar os cidadãos para o futuro do trabalho e para a vida no século XXI.
“Mudanças sempre existiram. O que determina um século complexo é a velocidade com que elas acontecem. Ao desapegar das nossas velhas certezas e entender que as construções no século XXI são alcançadas através da colaboração e não da competitividade, nos aproximamos da inovação”, aponta Beia Carvalho, futurista e fundadora da Five Years From Now.
Temas como a importância das soft skills para o mercado de trabalho, educação antirracista e o equilíbrio entre inteligência humana e tecnologia foram levantados como estratégias para reduzir as lacunas sociais e de inovação no Brasil.
Confira os destaques do segundo dia de evento.
Humanos de mãos dadas com a tecnologia
Para os especialistas, os problemas mais complexos que as sociedades digitais enfrentam atualmente estão relacionados às desigualdades, que limitam o acesso às oportunidades de desenvolvimento. Nesse sentido, a inovação tecnológica ocupa cada vez mais espaço na criação de soluções que possam resolver problemas sociais e conectar pessoas.
“Quanto mais tecnológico é o mundo, maior deve ser nosso conhecimento sobre inteligência socioemocional. Todos os recursos são frutos de escolhas humanas. Portanto, competências como empatia, colaboração e protagonismo ajudam a aprimorar os processos de inovação”, enfatizou Silvana Bahia, codiretora executiva da Olabi e coordenadora da Preta Lab, que participou da mesa Aprendizado Social para um Futuro Automatizado, Inclusivo e Sustentável.
A especialista em tecnologia e inovação reforça, ainda, que trazer grupos historicamente marginalizados para o desenvolvimento de recursos tecnológicos é fundamental para diversificar as soluções. Quanto a essa questão, o futurista e empreendedor social João Souza, acrescentou:
“A chave para projetar esses grupos vulnerabilizados no futuro é aproximá-los de uma formação multidisciplinar, com ferramentas para executar e escalar ideias transformadoras. Mas sempre reforçando que chegar junto faz mais sentido do que chegar longe”, conclui o cofundador do coletivo Favela e head da consultoria Futuros Inclusivos.
Liliane Araújo, CEO do negócio socioambiental AMITIS, acredita que a educação ocupa papel central para que humanos e tecnologias trabalhem de mãos dadas na resolução de problemas complexos. “A tecnologia pode construir soluções sustentáveis, mas antes precisamos preparar os seres humanos para lidar com ela de forma a estimular seu potencial transformador”, refletiu.
Preparando as juventudes para um novo mundo
As constantes transformações e exigências do mundo contemporâneo impactam diretamente na formação dos estudantes do século XXI. “Vamos ter de escolher quais serão as atividades desenvolvidas pela inteligência humana e quais serão delegadas à inteligência artificial. Isso vai requerer um uso crítico e responsável das tecnologias”, ponderou Lúcia Dellagnelo, diretora do Centro de Inovação para Educação Brasileira (Cieb), que participou da mesa “Como preparar as juventudes para um novo mundo”.
Para a educadora, os jovens estão distantes de serem nativos digitais. Por mais imersos que estejam no mundo tecnológico, ainda estão aprendendo a desenvolver habilidades e competências digitais necessárias para interpretá-lo.
“A escola hoje nos entrega um volume de conteúdos muito desconectado da amplitude dos desafios. Se queremos desenvolver futuros cidadãos preparados para este mundo, precisaremos investir na formação dos educadores para que sejam mediadores e multiplicadores dessas habilidades e competências”, complementou o presidente do Instituto Singularidades, Alexandre Schneider.
Mais do que preparar os jovens para o mercado de trabalho, no entanto, o foco é desenvolver habilidades como colaboração, aprendizado ao longo da vida e pensamento crítico pensando em um contexto de relações e convivência. Sendo assim, os espaços formativos devem auxiliar os estudantes a tomarem decisões com autonomia, empatia e flexibilidade.
“O indivíduo se desenvolve para conviver em grupo e trabalhar no coletivo. Enquanto reduzirmos pessoas a notas e deixarmos de trazer a discussão de projeto de vida e autoconhecimento para dentro da escola, criaremos soluções desconectadas das reais necessidades da sociedade”, alertou Karen Kanaan, sócia da 42 São Paulo e especialista em inteligência emocional.
Leia mais: Como funciona a 42 São Paulo na prática?
Educação antirracista como ferramenta de inovação social
A inovação nem sempre está conectada ao uso de tecnologias, por vezes ela passa pela criação de novos modelos de convivência e aprendizagem. Partindo dessa lógica, a educação antirracista se apresenta como ferramenta de inovação social, garantindo acesso e participação de pessoas pretas, pardas e indígenas nos espaços de decisão.
“Ser antirracista é um desafio de modelos mentais, que exige uma camada profunda de desconstrução. Sendo a escola parte de um sistema que está perfeitamente desenhado para entregar desigualdades de oportunidades, não se posicionar é continuar entregando esses mesmos resultados”, refletiu Samuel Emilio, coordenador de políticas públicas do coletivo EducAfro, que integrou a mesa Educação Antirracista como Instrumento de Justiça Social.
Para Samuel, que também é fundador da iniciativa Diário Antirracista, compreender os impactos do racismo estrutural envolve um processo de autoconhecimento. O mesmo vale para as escolas, que na construção de currículos antirracistas, também passam por erros e acertos. É o que conta Cibele Racy, especialista em administração escolar:
“A escola do século XXI não existe apenas para formar crianças e adolescentes, mas sim uma comunidade escolar inteira”, complementou a diretora da Escola Municipal Nelson Mandela, reconhecida internacionalmente pelas boas práticas antirracistas.
Paula Beatriz de Souza, gestora da Escola Estadual Santa Rosa de Lima, também dividiu sua experiência apontando a formação de educadores, revisão curricular e gestão democrática como possíveis pontos de partida para uma educação antirracista. “Enquanto promotora de convivência, a escola deve se ater menos às hierarquias e mais ao acolhimento, para entender o que está por trás da reprodução do racismo naquele espaço”, opinou.
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