A primeira edição local de uma das principais conferências globais discute educação, tecnologia e inovação à luz da diversidade do território brasileiro. Veja como foi o primeiro dia do evento!
Em meio a um contexto de redefinir prioridades na educação pós-pandemia, o Brasil promove a primeira edição local de uma das principais conferências globais sobre educação e inovação. Organizado pela Fundação Telefônica Vivo, o enlightED Brasil reúne, entre os dias 19 e 21 de outubro, especialistas, educadores e mobilizadores culturais para debater desafios e soluções para a educação brasileira.
O enlightED Hybrid Edition 2021 é uma conferência global organizada pela Fundação Telefônica Espanha, pela IE University e pelo South Summit. Este ano, o evento acontece simultaneamente em 10 países – Espanha, Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, Equador, México, Peru, Uruguai e Venezuela. O tema central da quarta edição se propõe a debater estratégias para reduzir as lacunas educacionais e de inovação que foram intensificadas pela pandemia da Covid-19.
“Já não faz sentido discutir se a tecnologia tem ou não que estar dentro da escola, mas sim como ela está sendo usada para potencializar a aprendizagem”, enfatizou Christian Gebara, CEO da Vivo. “O desafio de educar não é simples, por isso reunimos aqui um grande time para apontar caminhos e oportunidades de responder a este cenário de desigualdades“.
No dia 19 de outubro, primeiro dia de evento, os convidados se dedicaram a debater temas como uso da tecnologia na educação, formação de educadores, revisão curricular, bem como o impacto das desigualdades sociais e as políticas públicas educacionais prioritárias no período pós-pandemia. Confira os principais destaques, a seguir.
Da Espanha para o Brasil
Tanto na Espanha quanto no Brasil, a educação pós-pandemia já passa por mudanças significativas. O que motivou a existência do enlightED Brasil, no entanto, foi a necessidade de discutir tendências à luz das particularidades da educação brasileira.
“Pensar na educação sob a perspectiva global em um território tão grande e diverso como o Brasil é desafiador. Para que esta retomada seja transformadora, é preciso perpetuar a originalidade de cada região do nosso país”, comenta a atriz e apresentadora Dira Paes, em sua fala de abertura.
Dentre as alternativas que foram destacadas: ampliar a conectividade e valorizar os saberes ancestrais. Ensinar programação e utilizá-la para envolver os estudantes na construção de soluções para a comunidade local. Trabalhar conteúdos sem esquecer de criar espaços de pertencimento e desenvolvimento de seres humanos integrais.
Alinhada a esses caminhos propostos pelos especialistas, Priscila Cruz, diretora-executiva do Todos pela Educação, acrescenta. “O Brasil já tem exemplos de boas práticas que traduzem uma educação de qualidade. O que precisamos agora é de políticas bem construídas que escalem e invistam nessas soluções. Nosso país tem jeito e o jeito é a educação”.
O que aprendemos com as tecnologias digitais durante a pandemia?
O uso das tecnologias se mostrou uma tendência irreversível. Muitos educadores brasileiros passaram a enxergá-las como aliadas na sala de aula. Ainda assim, o modo emergencial como os recursos foram trabalhados durante a pandemia não refletiu os resultados de aprendizagem esperados.
“Aprendemos que utilizar a tecnologia como centro do processo de aprendizagem não funciona. O que determina a qualidade da educação é a pedagogia, não os meios pelos quais ela se propaga”, analisou o Paulo Blikstein, idealizador do Fab Learner, iniciativa que dissemina a educação maker em mais de 15 países.
O especialista, que integra o Transformative Learning Technologies Lab da Universidade de Colúmbia (EUA) foi um dos participantes do painel Políticas Públicas Educacionais pós-pandemia.
Paulo alerta para a necessidade de criar políticas públicas que compensem as desigualdades de acesso e aproveitamento das tecnologias. “Caso incorporem estratégias híbridas sem melhorias na infraestrutura das escolas e na formação de educadores, criaremos uma disparidade ainda maior”, concluiu.
O professor Luciano Meira, desenvolvedor de tecnologias educacionais na Joy Street, compartilha da mesma perspectiva: “A transformação digital é uma mudança que afeta o comportamento das pessoas. Se a escola acolhe essas metodologias ativas, também tem de se preparar pedagogicamente para criar novos cenários de aprendizagem”, acrescentou o professor, durante sua participação da mesa “Novas Oportunidades de Aprendizagens em um Mundo Acelerado e Digital”.
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Formação de educadores e revisão curricular
Sendo a revisão curricular um dos caminhos para preparar essa mudança na cultura escolar, a formação de docentes deve entrar como estratégia de acolhimento e apoio aos profissionais da educação para este momento de constantes transformações.
“Assim como é necessário termos altas expectativas em relação ao desenvolvimento de nossos estudantes, também precisamos criá-las para os educadores”, ponderou a professora Débora Garofalo, coordenadora do Centro de Inovação da Secretaria Estadual de São Paulo.
Para adotar estratégias inovadoras como a Cultura Maker, o Ensino Híbrido e a Gamificação, os educadores precisam estar preparados para guiar os estudantes no desenvolvimento de competências e habilidades que atendam a objetivos bem definidos de aprendizagem. Esse equilíbrio passa por um novo entendimento do professor como mediador e da escola como espaço de criação de vínculos e autonomia.
“Trabalhar com crianças com deficiência me ensinou isso. Ao adotar estratégias diferenciadas, tenho que contar com meus estudantes o tempo todo para otimizar a experiência e construir juntos. Essa é uma lição que vale para todas as turmas”, complementa Rosana Kondo, especialista em educação especial e professora da rede estadual do Paraná.
Dar mais para quem tem menos
Entre tantas reflexões deixadas pelos especialistas que participaram do primeiro dia do enlightED Brasil, a principal mensagem foi: para garantir o acesso à educação é preciso dar mais para quem tem menos. Sendo assim, as políticas públicas educacionais ganham grande destaque na construção de parâmetros para uma educação de qualidade para todos.
“No momento, estamos adotando estratégias para mitigar os danos o máximo possível. Para, de fato, assegurar resultados de aprendizagem para todos, as políticas públicas precisam envolver municípios, estados e a União em ações específicas para reverter um cenário desigual que já existe muito antes da pandemia”, pondera Claudia Costin, fundadora do Centro de Excelência de Inovação em Políticas Públicas Educacionais da FGV.
Além das ações emergenciais como investimento em infraestrutura, busca ativa escolar e ampliação do tempo dos estudantes na escola, outras prioridades devem partir no sentido de diminuir a disparidade no acesso às condições básicas de desenvolvimento a longo e médio prazo.
“Nós já temos mecanismos para fazer esse diagnóstico e acompanhamento, o que precisamos é investir em ferramentas de gestão para as secretarias, assistência social para as comunidades escolares e na valorização dos profissionais da educação, que ocupam papel fundamental na construção de uma educação acolhedora e inclusiva”, finalizou Sofia Lerche, pesquisadora do centro de gestão municipal e políticas educacionais da FGV.
Ainda dá tempo de assistir ao enlightED Brasil.
Nos dias 19, 20 e 21 de outubro acontecem mesas e palestras em diversos países, e pela primeira vez contamos com uma programação exclusivamente brasileira. Acesse aqui e saiba mais!