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Mudanças no perfil, na legislação, nas tecnologias e no contexto mundial ajudam a entender o crescimento e o impacto do ensino a distância no país

Na imagem, uma jovem está em uma cozinha, sentada atrás de uma mesa mexendo em um notebook

O relatório do Censo da Educação Superior, publicado pelo Inep em 2018, mostrou: o número de cursos EAD cresceu 50% em relação a 2017 e as vagas de educação a distância superaram as de cursos presenciais pela primeira vez desde 2008. Ao todo, foram registradas 7,1 milhões de vagas e 3.177 cursos nesta modalidade. Mas, afinal, o que está por trás desse panorama de crescimento?

Dados da última edição da pesquisa TIC Domicílios, lançada em agosto de 2019, apontam que 70% da população faz uso da internet no país. Tendo em vista este cenário, o ensino a distância (EAD) passa a se tornar uma opção viável para muitos estudantes que buscam uma modalidade flexível, dinâmica e acessível financeiramente.

Apesar dos mitos que envolvem a educação a distância ainda contribuírem para a ideia de que a qualidade desta modalidade é inferior a presencial, uma instituição que pretende oferecer vagas e cursos EAD precisa cumprir com uma série de pré-requisitos, regulamentados pelo Ministério de Educação (MEC), como investir e garantir tecnologia adequada, ter educadores qualificados e ferramentas interativas.

“À medida que as tecnologias são usadas para montar uma estrutura de ensino que se adapta as rotinas de trabalho e ainda reduza os custos de infraestrutura predial, isso permite que um maior número de pessoas possa encaixar o ensino a distância dentro da sua realidade e acessar a Educação Superior”, afirma o professor Jair dos Santos, conselheiro da Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED).

Mudanças legislativas e comportamentais

Segundo estudos do Prof. Jair dos Santos, o número de vagas e ofertas de cursos EAD tende a crescer exponencialmente nos próximos relatórios, referentes aos anos de 2019 e 2020. Ele explica que isso se deve às mudanças legislativas recentes, que ainda não foram computadas pelas análises.

Desde 1995, quando o Ministério da Educação criou a Secretaria de Educação a Distância, o EAD evolui conforme as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) vão sendo aprimoradas. Em meados de 2006, esse crescimento começou a despontar e teve seu ápice a partir de 2017, quando houve a mudança do Marco Regulatório da Educação a Distância.

“O decreto incentivou a flexibilização da educação a distância, permitindo que as instituições de ensino menores pudessem ofertar cursos EAD”, afirma o conselheiro. “Antes do decreto, o processo para validar uma instituição de ensino era muito burocrático e custoso, além de não garantir a qualidade do ensino-aprendizagem”.

Já o aumento do número de matrículas nos cursos EAD teve como pano de fundo uma mudança no perfil dos estudantes. Até 2016, a faixa etária predominante era de 30 anos ea preferência era, geralmente, por cursos de especialização. Com a redução da cobertura do FIES em 2014, as instituições de ensino a distância começaram a captar jovens na faixa de 18 a 20 anos, que buscavam por mensalidades mais acessíveis para graduação.

“Das 60 milhões de pessoas que concluíram a educação básica, 80% delas pode investir um total de 450 reais na mensalidade de uma instituição de Ensino Superior. Essa restrição de investimento fez com que a oferta de ensino a distância continuasse a crescer ao longo dos anos”, complementa Daniel Infante, sócio-diretor da empresa de consultoria educacional, Educa Insights.

Ensino a distância X Ensino Presencial

O maior desafio do ensino a distância é o mesmo da educação presencial: Melhorar os índices de aprendizagem. Trazer um aprendizado mais significativo também é o grande objetivo dos educadores desta modalidade. Para isso, tanto Daniel Infante quanto o Prof. Jair dos Santos acreditam que apostar nas ferramentas que as plataformas oferecem podem ajudar na ressignificação do conteúdo.

“O uso de metodologias ativas é um passo importante que diferencia as técnicas de aprendizado de um e outro. Existem maneiras e maneiras de você usar essas ferramentas a favor do modelo acadêmico considerado tradicional”, afirma Daniel Infante. “Tanto para quem está aprendendo, quanto para quem está ensinando, esse processo depende de uma adaptação às ferramentas”.

O modelo de aprendizagem nas plataformas EAD, geralmente, conta com uma junção de recursos de vídeo, áudio, trechos de leitura, fóruns de debate, exercícios práticos e acompanhamento de um tutor, que não necessariamente é o mesmo educador que ministra as aulas. Dessa forma, é possível trabalhar mais conteúdos, de forma interdisciplinar.

“Se formos analisar a questão do índice de aprendizagem, a diferença entre a modalidade presencial e à distância é muito pequena. Segundo o ENADE, o ensino presencial atingiu 45 pontos e o ensino à distância, 43. Os dois precisam melhorar”, alerta o professor Jair dos Santos. “No que diz respeito à metodologia, há distinção. Gravar vídeo aulas e usar plataformas não se configura como ensino a distância. Não basta apenas transpor os conteúdos de um meio para o outro, sem fazer uma adaptação na lógica metodológica”, ressalta o professor.

Ensino em tempos de distanciamento social

Com as medidas de distanciamento e isolamento social, recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para conter a pandemia do coronavírus, as instituições de Ensino Básico e Superior tiveram de se reorganizar para dar continuidade ao conteúdo do ano letivo, mesmo sem a possibilidade de aulas presenciais.

Para as instituições e iniciativas que já tinham tecnologia e prática no EAD, este momento se revelou uma oportunidade de trazer mais pessoas para conhecer o modelo e dar insumos para que as metodologias ativas sejam implementadas neste contexto. É o caso da plataforma de formação a distância, Escolas Conectadas. A iniciativa, que faz parte do ProFuturo, programa global de educação da Fundação Telefônica Vivo e da Fundação “la Caixa”, oferece cursos gratuitos por meio de sua plataforma, certificados por instituições de ensino superior reconhecidas pelo Ministério da Educação (MEC). O objetivo é inserir os educadores na cultura digital e estimular o desenvolvimento de competências e habilidades do século XXI no processo de ensino-aprendizagem.

Já para a Educação Básica, o desafio é maior. Ainda que os educadores tenham alguma experiência com tecnologia na escola, buscar novas metodologias e plataformas para garantir a formação adequada dos estudantes exige estudo e adaptação. Cada estado ficou encarregado de encontrar a melhor solução para suas redes e municípios. Mesmo com as barreiras, já existem projetos em andamento que ajudam a inspirar boas práticas ao redor do país.

Na opinião de Daniel Infante, esse processo pode trazer muitos caminhos e oportunidades para o ensino a distância, sobretudo no que diz respeito à qualidade. “Naturalmente quem apostar nesse processo de aceitação das tecnologias, vai sair na frente das instituições que não o fizeram. A solução mais viável para o prejuízo do processo de aprendizagem diante da necessidade de isolamento social, é justamente esta migração para o formato a distância do conteúdo programático presencial”.

O Dia da Educação vem aí

Em virtude do Dia da Educação, comemorado em 28 de abril, faremos uma série de reportagens especiais que contarão como os recursos tecnológicos e a formação de educadores podem contribuir para elevar os índices educacionais no país e o desenvolvimento de crianças e jovens.

A primeira, abordou os desafios do Brasil para alcançar uma educação inclusiva e de qualidade e assim atingir o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 4 da ONU, relacionado à educação.

Ao longo do mês, você vai conferir mais conteúdos exclusivos sobre a temática, explorando as oportunidades e desafios que esse modelo traz. Considerando os professores como atores centrais no processo de ensino-aprendizagem, traremos ainda alguns caminhos de como fazer a transposição de conteúdos off-line para o universo online, além de exemplos de países que estão avançados no tema, destacando o que eles podem nos ensinar.

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Ensino a distância cresce no Brasil e facilita acesso à Educação Superior
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