Jornada Tech, ação do programa Pense Grande Tech, da Fundação Telefônica Vivo, fortalece a formação de estudantes dos cursos de tecnologia a partir de trocas sobre o mundo do trabalho com profissionais do mercado
Com o avanço da digitalização na economia, a Educação Profissional e Tecnológica (EPT) se torna fundamental para a formação dos jovens, ao oferecer um ensino que dialoga com as rápidas transformações digitais e aproxima a realidade entre escola e mundo do trabalho. Por isso, o interesse por essa modalidade de educação tem atraído cada vez mais os jovens. O Anuário Brasileiro da Educação Básica 2024, lançado em novembro de 2024 pela coalizão Todos pela Educação e Fundação Santillana, mostrou que houve um aumento de cerca de 45%, entre 2014 e 2023, no número de matrículas na EPT, na rede pública. A expansão da modalidade é resultado de políticas públicas, entre as quais o Plano Nacional de Educação (PNE), que estabeleceu metas para a ampliação de oferta de vagas. A reforma do Ensino Médio (lei 13.415/2017) também trouxe a oportunidade de integrar o ensino técnico como parte dos itinerários formativos das escolas.
Pense Grande Tech
Nesse contexto, o programa Pense Grande Tech, da Fundação Telefônica Vivo, amplia a compreensão do potencial da tecnologia como aliada da educação, ao elaborar um currículo de referência em Ciência de Dados, em parceria com o Centro de Inovação para Educação Brasileira (CIEB), para a educação profissional do ensino médio. Seu objetivo é contribuir para o desenvolvimento de competências digitais de educadores e estudantes da rede pública que cursam o ensino técnico na área de tecnologia. A iniciativa também contribui para o fortalecimento da formação dos jovens a partir de ações que os aproximam do setor produtivo. Em 2024, está presente em 27 municípios dos estados de Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, Goiás e São Paulo.
O programa reconhece o papel das tecnologias digitais como aliadas na solução dos desafios cotidianos e proporciona aprendizagens que contribuem para a formação qualificada e o preparo contínuo dos jovens para o mundo do trabalho, incluindo o uso de tecnologias de forma crítica, responsável e consciente. Levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) de 2023 revela que jovens que finalizam o ensino médio juntamente com o técnico conseguem emprego mais rápido. Além disso, eles tendem a ganhar salários melhores: até 24,9% acima de outros trabalhadores.
Mas como aproximar estudantes e setor produtivo? Para responder a essa questão, o Pense Grande Tech apostou em várias ações junto às redes públicas de ensino, para que os estudantes pudessem conhecer um pouco mais sobre a carreira e se aproximar de profissionais da área. Uma dessas ações foi a Jornada Tech, palestras realizadas nas escolas, em que profissionais do setor produtivo local e da Vivo falam diretamente com os estudantes sobre as diversas possibilidades de atuação, fazendo a ponte entre a teoria aprendida nas salas de aulas com a prática do dia a dia nas empresas. Nas apresentações, os palestrantes destacam aspectos e desafios de suas profissões e ajudam a expandir as perspectivas de carreira dos jovens. Ao longo da atividade, os estudantes são convidados a trazerem suas considerações, perguntas e dúvidas, para que os momentos de troca sejam ainda mais significativos.
Carreira na tecnologia
Jessi de Souza Ferreira Júnior, especialista de pré-vendas da Telefônica IoT, esteve no início de setembro na Escola do Futuro Luiz Rassi, em Goiânia (GO). Sua palestra teve, também, transmissão simultânea para outras quatro escolas, uma na capital e três no interior do estado.
Com o tema “Descobrindo a Carreira em Tecnologia”, Jessi falou a uma plateia de 80 jovens que estavam presentes, e para outros 100 estudantes, que viram sua apresentação on-line, nas demais unidades das Escolas do Futuro de Goiás. “Foi uma oportunidade especial e única de compartilhar minha trajetória com os estudantes, um momento enriquecedor para troca de experiências e inspiração”. O especialista diz que tentou transmitir a importância de uma formação educacional e profissional, destacando a “relevância da dedicação e do planejamento para o sucesso”.
Foi sua primeira experiência como palestrante da Jornada Tech, mas confidenciou que pretende participar mais vezes. “Acredito que o Ensino Tecnológico e Profissional seja uma das formas mais eficientes e rápidas de preparar os jovens para ingressarem no mercado de trabalho, pois oferece ferramentas práticas e conhecimento aplicável”, avalia Jessi. “Só para ilustrar, ao final do evento, diversos estudantes me procuraram para saber mais sobre as possibilidades de carreira e as melhores formas de se qualificarem para atender às demandas do mercado de trabalho.”
A cidade de Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul, recebeu uma edição da Jornada Tech em setembro. O evento aconteceu na E.E. Prof. João Margiano Pinto, com 92 estudantes do 1º, 2º e 3º ano do ensino médio técnico, todos do curso de Ciência de Dados. O tema abordado foi “Inteligência Artificial & Dados” e um dos palestrantes convidados foi Eder Barbosa, executivo da Vivo.
“Participei compartilhando minha experiência em projetos de dados e inteligência artificial, abordando como, de fato, essas áreas estão transformando o mercado. Portanto, procurei incentivá-los a explorarem essas oportunidades”, relatou. Ele crê que jovens são naturalmente curiosos em relação às novas tecnologias, e geralmente, os primeiros a adotarem várias delas. Por isso, enfatizou a “importância de adquirir conhecimentos práticos, valorizar a inovação e nunca deixar de aprender. Para Eder, uma formação em EPT já no ensino médio é essencial, pois agiliza a educação e a carreira dos jovens. “Pois assim proporciona habilidades práticas e conhecimento que aumentam as chances de inserção no mercado”.
No final de outubro, a engenheira florestal Camila Mayara Gessner foi uma das palestrantes da Jornada Tech em Timbó, cidade de Santa Catarina. Co-fundadora e CEO na empresa iFlorestal, ela falou para três turmas do Ensino Médio Técnico em Ciências de Dados sobre sua experiência como engenheira florestal, trabalhando com tecnologia desde a graduação, há mais de 13 anos. Disse também, que a tecnologia e ciência de dados estão em todas as áreas, não apenas na programação e desenvolvimento de softwares. “Dá para trabalhar em qualquer área. Eu mesma trabalho com arborização urbana, com árvores, mudas e áreas verdes”.
A engenheira conta que gostou de ver o interesse demonstrado pelos jovens. “Foi muito bacana falar para uma turma com tanto conhecimento em tecnologia. Eles trouxeram várias questões sobre mercado de trabalho e sobre o espaço feminino nessa área de atuação”.
A analista de planejamento e controle da Fundação Telefônica Vivo, Steff Oliveira, também participou da ação como palestrante. Ela falou remotamente sobre a carreira em ciências de dados para alunos de duas escolas, uma em Vitória, no Espírito Santo e outra em Aquidauana, no Mato Grosso do Sul. “Disse que quem está nessa área não necessariamente trabalha diretamente com dados, qualquer atividade que eles estejam desenvolvendo será importante ficar atento às informações, ao monitoramento e aos dados”. Steff diz que a experiência foi muito boa para ela. “Eu consegui revisitar a minha trajetória profissional. É bacana sempre fazer uma análise para ver onde estamos e o que queremos. Espero que os alunos tenham gostado tanto quanto eu gostei”.
Maurílio Marques, professor de ciência de dados na Escola Estadual Aroldo de Azevedo, na Zona Leste de São Paulo, foi mestre de cerimônias da palestra “Aplicações reais sobre ciência de dados”, e colaborou desde as sugestões de temas das palestras até no trabalho direto com os estudantes, engajando-os para o evento.
O professor afirma que “o mercado de tecnologia possui muitas vagas interessantes. Mas, para as melhores delas é preciso abandonar a mentalidade de usuário e se tornar criador de tecnologia”. Em seu entendimento, “o ensino técnico inicia o estudante precocemente por essa jornada de conhecimento”. Ele conta que ficou muito satisfeito com o retorno dado pelos alunos. “Eles gostaram de ter participado e demonstraram crescimento na forma que veem o mercado e as possibilidades de atuação. Também houve um evidente acréscimo na autoestima.”
A ação foi construída em parceria com as secretarias de educação e a comunidade escolar, possibilitando que seja integrada ao cronograma, planejamento pedagógico e demais atividades, promovendo a troca de aprendizados e atualização constante. Ao todo foram realizadas nove jornadas, em cinco estados, impactando mais de 700 estudantes.
EPT cresce no Brasil
Em comparação com outros países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne as nações mais desenvolvidas do mundo, a oferta de EPT no Brasil ainda é tímida, mas a modalidade vem crescendo e ganhando capilaridade no território nacional.
Em números absolutos, os matriculados em EPT passaram de 796 mil para 1,155 milhão, totalizando 13,1% dos estudantes do ensino médio, segundo dados do Anuário Brasileiro da Educação Básica de 2024. Há 10 anos, essa porcentagem era de 8,8%. Houve, portanto, um avanço de 4,3 pontos percentuais nesse tipo de matrícula.
Se antes era restrita majoritariamente em escolas federais e nos estados do Sul e Sudeste, hoje a EPT está mais acessível. No recorte abrangendo os cinco estados com mais de 20% das matrículas da EPT de nível médio em relação ao total de matrículas há a presença de Piauí (28%), Acre (23,8%) e Paraíba (22,4%). Há 10 anos a oferta de EPT nessas unidades federativas era bem inferior a 10% do total de matrículas.
Além disso, vale ainda mencionar os índices obtidos por Ceará (16,5%), Rio Grande do Norte (18,5%) e Bahia (14,5%). Os três estados nordestinos investiram na modalidade e ampliaram a oferta de EPT. Hoje, eles já superam a média nacional de 13,1% em relação ao total de matrículas.
EPT impulsiona entrada no mercado de trabalho
Uma pesquisa de 2023 realizada pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e pelo Serviço Social da Indústria (Sesi) revela que empresários consideraram o ensino técnico profissionalizante o mais relevante entre as modalidades da educação pública brasileira para o rápido acesso ao emprego.
Nove entre cada 10 empresários acreditam que o ensino profissional e tecnológico permite o ingresso mais rápido de jovens no mercado de trabalho. A pesquisa ouviu 1.001 líderes de organizações de pequeno, médio e grande porte, sobre a educação no Brasil. Entre eles, 85% concordam que os itinerários em formação profissional permitem que os jovens concorram a uma oferta maior de vagas de emprego.
Para os entrevistados, os jovens que buscam a EPT deveriam ter como foco, principalmente, as áreas de tecnologia da informação (30%) e mecânica (10%). Para os líderes e gestores de empresas, as áreas mais promissoras no Brasil, nos próximos 10 anos, serão ligadas à tecnologia e às engenharias.
Outro estudo que corrobora essa percepção sobre a necessidade de ampliação de oferta da EPT é a “Pesquisa de Opinião com Estudantes do Ensino Médio”, de 2022. Realizado pelo Datafolha a partir de uma parceria entre Fundação Telefônica Vivo, Instituto Natura e Instituto Sonho Grande, o levantamento identificou que 98% dos estudantes concordam (totalmente ou em parte) que deveria haver opções de formações voltadas para o mercado de trabalho.
Assim, a Educação Profissional e Tecnológica também induz impactos positivos no desenvolvimento do país. O estudo “Potenciais efeitos macroeconômicos com expansão da oferta pública de ensino médio técnico no Brasil”, de 2023, aponta que se fossem triplicadas as vagas da EPT, haveria um incremento de 2,32% no Produto Interno Bruto (PIB). O efeito no crescimento da economia do país seria reflexo da expansão de postos de trabalho mais qualificados e consequente aumento da renda dos trabalhadores.