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Referência em inovação no Brasil, a escola Campos Salles, na comunidade de Heliópolis (SP), derrubou os muros que a separavam do bairro.

Fachada da escola Campos Salles mostra uma criança olhando para a placa em que está escrito EMEF Campos Salles

Estudantes festejaram o aniversário durante mostra cultural com apresentações e exposições

De uma pequena escola localizada em uma fazenda, em 1948, a uma referência em inovação para todo o Brasil, situada no centro da maior comunidade da cidade de São Paulo, Heliópolis, na zona Sul, com cerca de 100 mil habitantes. Essa é a trajetória da Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Campos Salles, que comemorou 60 anos durante a sua 20ª Mostra Cultural.

O homenageado do evento foi o ex-diretor Braz Nogueira, personalidade da educação reconhecida internacionalmente. Em 2008, com o apoio de professores e da associação de moradores, ele promoveu uma revolução na unidade: removeu as paredes das 12 salas existentes e as transformou em grandes salões, para cerca de 100 alunos e com três professores cada. Acabou com as tradicionais aulas expositivas, as carteiras em fila, as provas e lições de casa, e enfrentou o desafio de educar de uma forma completamente nova, inspirada na Escola da Ponte, em Portugal.

Os muros entre a comunidade e a escola foram derrubados, e surgiu assim o Bairro Educador de Heliópolis, que vem promovendo a cultura de paz com caminhadas pela região desde 1999.

“Um projeto de escola é um projeto de sociedade. Que sociedade é essa que queremos?”,
Amélia Fernandez, coordenadora pedagógica

Toda essa história de resistência e mobilização foi contada no sábado (25/10) pelos próprios estudantes, os grandes protagonistas da festa. Com apresentações de balé, dança, música e brincadeiras de rua tradicionais eles lembraram a trajetória percorrida por Braz Nogueira ao longo de 21 anos como diretor, na qual “portas foram retiradas para abrir novos caminhos”, como disse um texto lido por alunos.

O percurso da escola Campos Salles até se tornar uma referência internacional foi contado pelos 830 estudantes da escola, com o auxílio dos 60 professores. Poesias, vídeos, documentários, desenhos e exposições, como a de Paulo Freire, foram espalhados pelos salões e corredores. Eles são resultado de projetos desenvolvidos ao longo de todo ano, baseados em roteiros de estudo interdisciplinares, destinados a estimular o pensamento e a pesquisa.

Os espaços da mostra cultural refletiam a pluralidade de linguagens valorizada na EMEF: de QR Codes nas paredes, para fotografar com celular e ver informações online, até fotos das dependências da Campos Salles pendurados em árvores ao longo do CEU Heliópolis: um símbolo de que o projeto da escola vai para além de seus muros.

Braz Nogueira assumiu a direção da EMEF Campos Salles em 1996. A escolha da escola, segundo ele, se deu por dois motivos: era perto de sua casa e estava em um bairro, Heliópolis, com famílias de origem parecida com a sua. Sempre foi um defensor da autonomia do aluno e do conceito de escola como centro de liderança, trazendo a comunidade para participar das decisões. Em 1999, após o assassinato de uma aluna, foi  feita a primeira Caminhada pela Paz de Heliópolis, mesmo ano em que começou a Mostra Cultural. Braz deixou a direção da EMEF em 2015, ao se aposentar, mesmo ano em que foi construído no entorno da escola o CEU Paraisópolis. Hoje faz palestras no mundo propagando o modelo da Campos Salles.

Os trabalhos foram realizados por um grupo diverso de alunos, desde a primeira série do Ensino Fundamental até os grupos da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Realidades diferentes acolhidas em uma visão pedagógica pautada nos princípios da autonomia, responsabilidade e solidariedade, tendo como fim a Educação Integral.

“Não estamos preocupados só com o aluno, com o pai. Estamos preocupados em construir uma nova cultura para a comunidade, sem opressão, em que educar é uma tarefa de todo mundo”, diz Braz. “A escola Campos Salles é uma escola onde a gente vê sentido no que faz. Em uma educação que humaniza, escuta e dialoga”, complementa Rose Schmidt, que sucedeu o diretor em 2015.

Comunidade

A celebração do aniversário foi marcada pela integração entre estudantes, familiares e professores, a base do sucesso da Campos Salles, fruto de um diálogo nem sempre fácil, renovado ano após ano. Isso porque o modelo não convencional, em que alunos não têm provas, por exemplo, gera insegurança de muitos pais. Até que os primeiros resultados apareçam.

“Quando vim na primeira reunião, pensei em desistir da matrícula. Mas, em uma semana, minha filha, que tinha dificuldades de alfabetização em outra escola, começou a ler. Foi mágico”, conta Maria José Bezerra, de 44 anos, que estranhou quando, em vez de livros, a pequena Ana Clara, de 6 anos, começou a levar para casa recortes de  jornais e revistas.

“Na Campos Salles, temos não só professores pioneiros, mas pais pioneiros”, observa Marcelo dos Santos, de 42 anos, um dos porta-vozes dos pais durante as celebrações. Nascido em Heliópolis, ele participa ativamente da vida escolar, e cantou uma canção no teclado ao lado da filha, Yaminah, de 12 anos, em homenagem a Braz.

A celebração do aniversário foi marcada pela integração entre estudantes, familiares e professores, a base do sucesso da escola Campos Salles, fruto de um diálogo nem sempre fácil, renovado ano após ano. Isso porque o modelo não convencional, em que alunos não têm provas, por exemplo, gera insegurança de muitos pais. Até que os primeiros resultados apareçam.

“Quando vim na primeira reunião, pensei em desistir da matrícula. Mas, em uma semana, minha filha, que tinha dificuldades de alfabetização em outra escola, começou a ler. Foi mágico”, conta Maria José Bezerra, de 44 anos, que estranhou quando, em vez de livros, a pequena Ana Clara, de 6 anos, começou a levar para casa recortes de jornais e revistas.

“Na Campos Salles, temos não só professores pioneiros, mas pais pioneiros”, observa Marcelo dos Santos, de 42 anos, um dos porta-vozes dos pais durante as celebrações. Nascido em Heliópolis, ele participa ativamente da vida escolar, e cantou uma canção no teclado ao lado da filha, Yaminah, de 12 anos, em homenagem a Braz.

Tecnologia

Essa participação da comunidade, ativa no conselho escolar, aliada à inserção crescente de Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), têm sido a fórmula que mantém a Campos Salles entre as escolas mais inovadoras do país, segundo o Mapa da Inovação e Criatividade do MEC.

Desde 2013, a Fundação Telefônica Vivo, por meio do programa Inova Escola, apoia a Campos Salles e mais cinco escolas inovadoras de diversas regiões do país para incentivar novas metodologias e o uso de tecnologias digitais em seus modelos de ensino e aprendizagem. Essa parceria, segundo a diretora, tornou-se fundamental para preservar a filosofia da escola e a liberdade dos estudantes, que traçam os próprios caminhos usando ferramentais digitais.

“Se não houvesse formação e tecnologia, não poderíamos fazer o que fazemos. A tecnologia colabora com um processo autônomo de aprendizagem”, diz.

Escola Campos Salles, em São Paulo, comemora 60 anos
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