Ao longo de duas semanas, 17 voluntários da Fundação Telefônica de 9 países trabalharam duro para transformar a Escola Municipal Lili Benchimol
Às 7h30 da manhã o sol já ardia no céu e o ar quente e úmido tomava conta de todos os espaços da Escola Municipal Lili Benchimol, localizada na zona leste de Manaus, Amazonas. Como de costume, as crianças estavam agitadas na porta esperando por mais um dia letivo. Mas aquele definitivamente não era um dia como os outros. Uma rápida circulada pelos corredores e até o visitante menos atento percebia que as tradicionais salas de aula se transformaram em pedacinhos de países diversos.
“Nós vamos contar para nossos pais tudo o que tem na Colômbia”, anunciava a pequena Alice, de 7 anos. Outras turmas apresentavam curiosidades sobre Alemanha, Argentina, Chile, Equador, Espanha, Peru, Venezuela e, claro, Brasil. E o melhor é que foram os moradores de cada um dos países as principais fontes de informação. A feira cultural, aberta à comunidade, marcava o último dia na escola de Manaus dos voluntários da Fundação Telefônica Vivo.
Ao longo de duas semanas, 17 voluntários de 9 países conviveram intensamente com alunos e professores, como parte do programa global Vacaciones Solidárias. Todos os anos, a Fundação seleciona colaboradores dispostos a doar parte de suas férias para arregaçar as mangas e promover transformação social em alguma parte do mundo. O Brasil foi o segundo país com maior número de inscrições e, pela primeira vez, vai receber duas edições do programa – haverá outra em Curitiba (PR), em setembro.
“Este é um dos projetos mais envolventes do programa de voluntariado da Fundação Telefônica Vivo, porque é uma oportunidade de vivenciar por 15 dias uma realidade muito diferente da sua. Essa vivência e o aprendizado com o outro são os maiores legados do programa”, afirma Luanda de Lima, gerente de comunicação e voluntariado.
Ação dois em um
A escola de Manaus contemplada para receber o projeto, Lili Benchimol, atende mais de 570 alunos de educação infantil e fundamental I e fica no bairro Colônia Antônio Aleixo. A instituição é uma das 210 de Manaus que fazem parte do programa Aula Digital, iniciativa global da Fundação Telefônica e da Fundação Bancária La Caixa, que leva inovação e tecnologia para promover novas metodologias de ensino e aprendizagem.
“Primeiro nós capacitamos os voluntários a usar a plataforma e depois os ajudamos a fazer os planos de aula para apresentar a professores e alunos. O resultado acabou saindo melhor que o esperado”, conta Odiel Brindeiro, assistente pedagógico do Aula Digital em Manaus, sobre a união inédita do programa com o Vacaciones Solidárias.
Realizando sonhos
Quando aterrissaram em Manaus, os voluntários já tinham a missão definida: tornar a escola mais inovadora, inclusiva e atrativa. Para isso, precisavam reformar espaços, criar conteúdo pedagógico e auxiliar professoras e alunos a usarem tablets do Aula Digital para construir aulas mais dinâmicas e significativas. A metodologia design thinking, foi essencial para ouvir as dores e necessidades do local.
Divididos em grupos, os voluntários atuaram em três frentes: recuperar a horta da escola, relacionando exercícios práticos a conteúdos sobre meio ambiente e alimentação saudável, potencializar a alfabetização melhorando o interesse pela leitura e ampliar as possibilidades de inclusão.
O grupo que atuou com a frente da leitura foi responsável por recuperar um espaço emblemático da escola de Manaus e que estava abandonado há um tempo, a Casinha da Vovó. Localizada no pátio exterior, o espaço abrigava uma biblioteca e era usado para a contação de histórias. Nas cartinhas escritas por eles com pedidos para os voluntários o apelo era um só: “realizem nossos sonhos fazendo a reforma da nossa escola e do espaço da Casinha da Vovó”. Os voluntários pintaram toda a Casinha e criaram atividades de contação de histórias. “A gente trouxe o lúdico, a fantasia para despertar nas crianças o gosto pela leitura”, definiu o baiano Tarcísio Souza, voluntário representante de São Paulo.
Já o grupo responsável pela horta construiu um sementário, organizaram as mudas e a composteira e nomearam, com placas divertidas, as diferentes variedades de plantas e alimentos que se encontram no espaço. “Vocês não precisam comer? As plantinhas também comem. Assim como vocês, elas comem alimentos e bebem água para crescerem saudáveis. E precisam de muito amor e cuidado”, ensinava, o venezuelano Juan Andres.
Uma escola para todos
A escola Lili Benchimol, de Manaus, é uma das únicas da região que atende alunos de inclusão. Ao todo são 22 matriculados com deficiências como autismo, surdez, paralisia cerebral e deficiência intelectual. Há 26 anos, a responsável por eles é a professora Socorro Barreto. Com sua ajuda, os voluntários criaram duas atividades diferentes para promover aulas mais inclusivas.
A primeira foi engajar os alunos na construção de instrumentos musicais. O conteúdo foi todo criado pelos voluntários e colocado nos tablets do Aula Digital. Seguindo um passo a passo, as crianças confeccionaram com materiais recicláveis flauta, tambor, maracas, trompete e pandeiro. “Os instrumentos permitem que qualquer criança possa trabalhar e se divertir”, explica a voluntária Ana Sofia de Carvalho, portuguesa que mora e trabalha na Alemanha.
“E não é que deu certo essa ideia dos instrumentos?”, surpreende-se Socorro. “A Rosana é uma das nossas alunas com paralisia cerebral. Durante a atividade, ela ficou maravilhada, prestando atenção em tudo. Adorou mexer no tablet, foi como um mundo novo para ela”, disse a professora.
A outra atividade foi desenvolvida com a ajuda da intérprete de Libras da escola, Denise Bringel, que há três anos atende um dos alunos surdos e ensina os colegas a língua brasileira de sinais a fim de eliminar barreiras na comunicação.
Ana Sofia e a voluntária mineira Tailane Passos, que é formada em Libras, ficaram encarregadas de vendar os olhos e tampar os ouvidos de algumas das professoras. Sem ouvir ou enxergar, elas tiveram que andar pela escola e executar algumas tarefas. Depois foi a vez de participarem de uma dinâmica em língua de sinais e assistirem alguns vídeos emocionais sobre o tema da inclusão.
O maior legado do Vacaciones Solidárias
As duas semanas que os voluntários da Fundação Telefônica Vivo estiveram na Escola Lili Benchimol não foram só marcadas pelo trabalho pedagógico, reformas e intercâmbio cultural. Eles também tiveram tempo para brincar muito com as crianças. Aliás, quando questionados sobre o que mais gostaram da experiência, eles são unânimes: o amor dos pequenos.
“Elas são muito afetuosas e ensinam para a gente muito mais do que nós poderíamos imaginar. Elas se sentem motivadas só de a gente estar aqui”, diz a paulistana Juliana de Oliveira. Para a argentina Cintia Veron, que trabalha e mora na Colômbia, o amor das crianças foi surpreendente. “Não esperava tanto carinho e entrega assim. Eles estavam muito felizes com tudo o que deixamos na escola e ver isso foi transformador”.
“Essa sensação de gratidão pelas coisas da vida é muito inspiradora”, conta Esteban Villalba, do Equador. “A capacidade dessas crianças de se surpreender e se encantar com pequenas coisas me contagiou e volto para a casa levando esse ensinamento”.
“Nós estamos levando uma experiência maravilhosa de intensa troca de culturas e vivência com pessoas de países tão diferentes, mas o mais lindo é que nós pensamos que éramos nós que viemos ensinar essas crianças, mas a verdade é que elas nos ensinaram”, define, com lágrimas nos olhos, a venezuelana Norma Peñaranda, que está há 20 anos no Grupo Telefônica.
A recíproca é verdadeira, como diz a diretora da escola Bernadete Marta Silva: “para além de tudo o que está acontecendo por aqui, com as melhorias da horta e da inclusão e a revitalização da Casinha da Vovó, o legado mais importante do projeto é ampliar o olhar e as vivências das nossas crianças”.
E depois de dias tão intensos, de intercâmbio cultural, da união de povos tão diferentes, de amor e carinho que transbordaram pelos espaços da escola Lili Benchimol, é impossível ser o mesmo ao final do Vacaciones Solidárias.
“A Norma que chegou ao Brasil não é a mesma que está voltando à Venezuela. É mais humana, cheia de energia positiva. Pensamos e dizemos com o coração. E quando saem as palavras do coração, temos boas ações que deixam uma marca importante em tudo o que fazemos no mundo”, resume a venezuelana Norma Peñaranda.
Vacaciones Solidárias em números
. Acontece desde 2005.
. Já participaram mais de 900 colaboradores voluntários, em 25 países
. Em 2018, acontece em 9 países de 3 continentes. Foram mais de 1.300 inscritos e 131 voluntários selecionados dos 18 países em que a Telefônica atua.
. O Brasil foi o 2º país com mais inscritos.
. Em Manaus, participaram 17 voluntários, sendo 5 brasileiros e 12 estrangeiros. Na edição de Curitiba, que será realizada em setembro, serão 15 voluntários, 3 brasileiros e 12 estrangeiros.