Conheça três iniciativas de cidadania digital e uso responsável da rede protagonizadas por estudantes
Informação qualificada e engajamento coletivo são os primeiros passos em direção ao uso responsável da internet. Apostando nisso, estudantes do Instituto Federal da Paraíba (IFP), campus Cajazeiras, criaram uma página no instagram para refletir sobre cidadania digital.
O conteúdo foi desenvolvido pela turma do primeiro ano do Ensino Médio do curso de Informática Básica. Entre memes e vídeos, os estudantes explicaram temas como marco civil da internet, LGPD e roubo de identidade. Da mesma forma, discutiram as implicações do discurso de ódio dentro e fora das redes sociais.
Como resultado, a iniciativa foi a grande vencedora do Prêmio Cidadania Digital em Ação, idealizado pela Safernet Brasil com o propósito de engajar estudantes e professores para o uso seguro, crítico e consciente das tecnologias digitais. Concorreram ao prêmio projetos desenvolvidos por professores dos Ensinos Fundamental e Médio que aderiram à Disciplina de Cidadania Digital, criada pela organização brasileira em parceria com o governo do Reino Unido. O evento que premiou os vencedores ocorreu no início de fevereiro, em São Paulo.
O professor de informática João Paulo Freitas de Oliveira, que conduziu a disciplina no IFP, viajou a São Paulo para representar seus estudantes durante a cerimônia de premiação, que ocorreu em 6 de fevereiro, durante a 16ª edição do Dia da Internet Segura no Brasil. Aos prantos, subiu ao palco para receber o prêmio com a bandeira da Paraíba nas mãos.
Em entrevista à Fundação Telefônica Vivo, ele conta que considera emergencial não só discutir sobre uso responsável da internet na escola como também engajar as juventudes com a temática. “O protagonismo foi dos meus estudantes. Desde o início, eu apresentava o conteúdo e eles assimilavam e elaboravam estratégias para compartilhar esses conhecimentos com a comunidade escolar”, disse.
Cidadania Digital nos currículos pedagógicos
Em 2023, a disciplina Cidadania Digital foi implementada por 182 professores em 156 escolas brasileiras. Mais de 11 mil estudantes de 13 estados do país e 116 cidades foram beneficiados pelo conteúdo. A Safernet Brasil criou um mapa interativo que mostra os detalhes sobre cada escola participante.
Uso responsável da internet e combate ao cyberbullying
Dos 15 finalistas, de sete estados brasileiros, outras duas escolas foram premiadas. O segundo lugar ficou com a Escola Estadual Dona Benedita Freire de Macedo, localizada em Jacareí (SP). Juntamente com as professoras Biana Nascimento e Maria Régia Pereira, um grupo de seis estudantes do segundo ano do Ensino Médio desenvolveu uma revista digital sobre cyberbullying, com fotos, reportagens e entrevistas com especialistas na temática.
O estudante Maxwel Kennedy da Silva, de 16 anos, falou em nome de seus colegas, ainda eufóricos pela conquista do prêmio. Ele explicou que o formato digital foi pensado com o intuito de que as informações chegassem para o maior número de jovens possível. “Fizemos QR Code para facilitar o acesso e também recebemos pais e familiares na escola para apresentar nossa revista”, explicou.
Enquanto produziam os conteúdos, o grupo promoveu debates para entender como os colegas se relacionam com o tema do cyberbullying. “Descobrimos que muitos não sabiam que é crime e nem que há consequências graves, por exemplo ansiedade e depressão”, disse o jovem. Ele considera que o aumento do respeito entre todos foi o maior aprendizado ao refletir sobre cidadania digital na escola.
Novas competências digitais
Professora de História, Sociologia e Projeto de Vida, Biana Nascimento foi a mediadora na elaboração da revista digital que conquistou o segundo lugar na premiação. Ela diz que a princípio o desafio foi auxiliar os estudantes a trabalhar com computadores. “Os adolescentes dominam os celulares como ninguém, mas não estão familiarizados com o computador”, disse. “Porém eles evoluíram muito ao longo do processo e desenvolveram novas competências digitais. Além de entender seu papel como cidadão, não só do mundo real, como também no virtual”, concluiu.
Quem também desenvolveu novas competências digitais ao trabalhar com o uso responsável da internet foi a turma de 55 estudantes dos cursos integrados ao Ensino Médio Instituto Federal de Santa Catarina, campus Caçador (SC).
Eles conquistaram o terceiro lugar na premiação da Safernet Brasil com a série de podcasts Empatia em Foco: desvendando o bullying, que trouxe dicas sobre cyberbullying, sexting e aliciamento sexual.
Ao elogiar o engajamento das equipes participantes, o gerente de projetos da Safernet Brasil, Guilherme Alves, destacou a importância dos professores ao pautar o uso ético, seguro e responsável das tecnologias nas escolas brasileiras.
“Em 2023, acompanhamos mais de 150 escolas nessa jornada de colocar em prática a competência geral da BNCC que trata de cultura digital. Ao engajar estudantes para que eles criem e protagonizem ações de mobilização, professores e professoras têm fortalecido uma agenda que busca prevenir violências nos ambientes digitais”, declarou Alves.
Menção honrosa
Os organizadores do Prêmio Cidadania Digital em Ação fizeram menção honrosa a outras duas escolas pelo trabalho inclusivo de intervenção sociocultural. O Centro Educa Mais Força Aérea Brasileira, de São Luís (MA), foi destaque por desenvolver um projeto de cidadania digital voltado para o protagonismo de meninas. Já o Colégio Estadual do Campo Filinto Justiniano Bastos, de Sabará (BA), engajou os estudantes da Educação de Jovens e Adultos (EJA) nas discussões sobre uso consciente da internet.
Formação continuada no radar do MEC
O Ministério da Educação (MEC) também esteve presente na premiação que reconhece o uso responsável da internet pelas escolas públicas brasileiras. Na figura de Ana Dal Fabbro, coordenadora-geral de Tecnologia e Inovação, o MEC destacou a importância da formação continuada de educadores para que a cultura digital seja uma realidade cada vez mais presente nas escolas brasileiras.
“Nossos professores já usam muito a tecnologia, mas é importante aprofundar as discussões sobre intencionalidade pedagógica”, avalia Fabbro. “A mensagem-chave que deixo aqui é que é importante que essa temática esteja chegando em nossas redes e que os professores estejam trabalhando isso em todas as etapas da educação básica. Mas qualquer estratégia de implementação deve vir acompanhada de uma estratégia de formação continuada dos professores”, conclui.