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A Piraporiando, fundada em 2015 por Janine Rodrigues, compartilha conteúdos de educação antirracista e inclusiva para escolas e famílias

#Educação#Educadores

Janine Rodrigues. fundadora da editora ,Piraporiando

Janine Rodrigues, de 39 anos, nasceu no Rio de Janeiro e é fundadora da editora e Edtech Piraporiando. Ao lado de cinco colaboradoras, a carioca compartilha conteúdos e experiências educacionais antirracistas, antibullying e voltadas à diversidade, baseadas na cultura do afeto, para escolas e famílias, numa história que já dura seis anos.

“Educar com afeto não tem a ver, necessariamente, com carinho. É entender conscientemente que o meu comportamento te afeta e o seu comportamento me afeta. É um relacionamento com responsabilidade afetiva”, explica ela.  Não à toa, em março deste ano, Janine foi eleita pela Forbes uma das 12 pessoas negras que estão mudando a educação.

Desde sua fundação, em 2015, a Piraporiando já chegou a 22 estados brasileiros, alcançando cerca de 120 mil crianças. Seis livros foram publicados pela editora e foram vendidos também em países da Europa, na Austrália, no Japão e nos Estados Unidos. Rodas de conversas, palestras, mediação de leituras e cursos online foram desenvolvidos pela empresa. Para o futuro, a empresária almeja que os personagens da Piraporiando cheguem ao audiovisual em forma de séries ou filmes.

 

Primeiros passos 

Apesar de ter nascido na capital carioca, Janine passou a infância em Cardoso Moreira, um pequeno município do Norte Fluminense. “Quando era criança, me chamava a atenção o fato de não ver outras pessoas negras nos espaços que eu convivia. Eu e meus irmãos éramos as únicas crianças negras na escola”. O pai de Janine fazia questão de destacar a  importância das suas raízes. “Ele falava muito que a nossa história não começou na escravização e tampouco acabou nela. Temos uma história anterior e posterior”, relembra.

Entre 10 e 12 anos Janine se cansou de não ver outras crianças negras e criou a sua primeira personagem: a Nuang. “Ela era uma menina forte, linda e guerreira. Foi uma forma de concretizar o que aprendi com meu pai”, explica a autora. Anos depois, a história de Nuang viraria o quinto livro publicado pela Piraporiando. Em 2018 a publicação Nuang – Caminhos da Liberdade recebeu a chancela da Fundação Cultural Palmares, instituição pública referência na valorização da cultura afrobrasileira.

Mesmo tendo muito gosto pela escrita, Janine começou a sua vida profissional como gestora ambiental, atuando na área de licenciamento. Ela trabalhou junto a pequenos agricultores e comunidades tradicionais. Os documentos do licenciamento tinham uma linguagem bastante técnica e a carioca resolveu criar histórias literárias para que as informações contidas neles chegassem às escolas ou associação de moradores.

A escritora retomou a paixão pela escrita em 2013, quando, incentivada pelos amigos, publicou o seu primeiro livro, No Reino de Pirapora, por uma editora do Rio de Janeiro. A obra falava sobre solidão e bullying. “Eu escrevi essa história com 10 ou 11 anos, com base em uma amizade que eu tive”, explica Janine. O livro circulou em algumas escolas e as instituições convidaram a autora para falar sobre bullying, solidão, tristeza e agressividade.

Na época, a gestora ambiental nem imaginava sobreviver de literatura, mas, das rodas de conversas, começaram a chegar convites para ajudar as instituições a estruturarem projetos sobre diversidade. “Eu vi ali a oportunidade de fazer algo que eu amava desde sempre: unir literatura, contação de histórias, educação e diversidade”.

 

Estruturando a Piraporiando 

A Piraporiando começou em 2015 como uma consultoria educacional para falar de diversidade. Por querer mais autonomia na publicação dos seus livros, Janine trouxe a publicação das obras para a Piraporiando.

O crescimento da empresa foi acompanhado pela contratação das funcionárias, mas não veio sem dificuldades e aprendizados. “No início da Piraporiando o meu coração sofria muito quando chegava uma proposta que, do ponto de vista de sustentabilidade financeira, eu jamais poderia aceitar”, relembra a fundadora. “Fui percebendo que era possível trabalhar de forma diferenciada com quem não podia arcar com os custos de um trabalho com a Piraporiando”. Muitas vezes no valor cobrado às empresas por uma palestra ou consultoria, a edtech apresentava a possibilidade de aquisição de livros para uma biblioteca comunitária. “Fomos encontrando caminhos”, comemora Janine.

Ela também enfrentou barreiras no mercado editorial. “Existe um preconceito enorme com quem escreve e publica o próprio livro. Além, claro, da questão do racismo”. Nos últimos anos houve um aumento no número de autores e editoras de pessoas negras, mas a representação na literatura ainda é inferior, segundo a escritora. “Quando eu vou para uma FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty), ou para uma Bienal do Livro, é significativo como eu vejo muito mais os meus pares. Isso é muito simbólico”.

 

Educando com afeto 

A principal atuação da Piraporiando é nas escolas. Estas fazem a adoção de livros, sempre acompanhados de encartes de atividades, que podem ser feitos na escola ou em casa, assim como materiais de estudo para o professor e para as famílias. As obras antirracistas e antibullying “provocam o pensamento crítico e levam a entender que alguns padrões foram criados para atender interesse de determinados grupos”, explica Janine. A Piraporiando também atua em empresas e demais instituições preocupadas com o letramento racial e a equidade nas organizações.

Em paralelo, há também o trabalho de consultoria educacional. “O estudante precisa ter espaço para opinar e escolher. Ele se sente mais pertencente quando tem maior participação nas tomadas de decisão. Essa consultoria é para a escola ter uma atuação olhando para a diversidade, a partir do que ela já está fazendo”, explica.

Janine bate na tecla de que a Piraporiando trabalha com a diversidade fugindo sempre do campo do exótico, e criando projetos que farão parte do dia a dia das crianças. “Muitos temas são discutidos na escola o ano inteiro. O cuidado com a água, com resíduos, as atividades de ciência, de biologia, dentre outras. Mas a abordagem sobre racismo, a cultura afro-brasileira e indígena é só no ”Dia do Índio” e no “Dia da Consciência Negra”, critica.

Além dos livros, a Piraporiando também produz outros conteúdos. Todos são baseados nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Base Nacional Comum Curricular BNCC, ou em dispositivos como a Lei 10.639/03, que torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira. “O nosso conteúdo é construído a partir dos personagens dos livros e do enredo da história”, explica Janine. Um bom exemplo é o Curso de introdução a educação para a diversidade.

A relação com as crianças e famílias  

“Temos o trabalho de educação para a diversidade atuando principalmente em escolas, mas também muito próxima às famílias”, ressalta Janine.

Os livros da empresa são vendidos no Brasil, assim como na Europa, Austrália, Japão e Estados Unidos. “O nosso intuito é o fortalecimento do elo com a língua materna, importante para famílias que moram fora do Brasil e não querem que as crianças percam os laços culturais com o país”, afirma. A escrita da carioca traz muitos elementos de contos populares e as famílias gostam de ver a diversidade da cultura brasileira nas histórias. “As mães acabam se relacionando muito com a gente. Há sempre depoimentos bem emocionantes”, compartilha.

“Já aconteceu muita coisa legal. Criança que fez aniversário e o tema era um dos meus livros e personagens. Crianças escrevendo cartinhas pedindo para me conhecer. Uma vez eu estava no aeroporto e escutei um grito e um garotinho veio correndo, agarrou a minha perna e disse ‘você que criou o velho Nestor”, conta Janine, emocionada. Segundo a autora, o relacionamento com as crianças e a forma como elas respondem ao trabalho da Piraporiando é o que mais dá gana para continuar produzindo.

Escritora trabalha com diversidade nas escolas e impacta mais de 120 mil estudantes
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