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Convidamos três especialistas em educação para analisar o impacto da pandemia no modelo educacional em curto e possíveis caminhos para avançar no próximo ano.

#Educação

Imagem mostra uma criança sentada dentro da sala de aula de máscara, escrevendo.

Vivemos em um processo de transição. Não somente marcado pelo final de 2020, mas também pela reorganização da sociedade diante de uma pandemia global. Todos os setores  foram afetados pela crise socioeconômica e sanitária de alguma forma, fazendo com que as perspectivas para 2021 envolvam um olhar intersetorial e soluções coletivas, e na educação não será diferente.

Isso porque falar em educação é também falar em desigualdades sociais, saúde e economia. Ao mesmo tempo em que tendências como competências socioemocionais, cidadania digital, inteligência artificial, ensino remoto e personalizado ganharam força nos debates pedagógicos, desafios na formação de professores, no engajamento dos estudantes e nas taxas de evasão escolar foram evidenciados.

Diante de tamanha complexidade e incerteza, debater o que 2021 trará para a educação exige muita flexibilidade e reflexão. Muito embora 2020 tenha ensinado que os planos são mutáveis, também deixou uma lição valiosa sobre trocar experiências e adaptar respostas para desbloquear caminhos para a inovação.

Convidamos três especialistas — Catarina Almeida Santos, José Moran e Mônica Gardelli — para falar sobre o que aprendemos em 2020, quais são as prioridades em 2021 e o que levaremos dessa experiência para construir um novo modelo educacional ao longo dos próximos anos.

Balanço de 2020: o impacto da pandemia no processo de ensino-aprendizagem

Catarina Almeida: Com o ensino remoto emergencial veio um conjunto de elementos que escancararam para a sociedade as desigualdades que já existiam. A garantia do direito à educação depende de uma intersetorialidade, quando esses elementos são negados  isso impacta no desenvolvimento. Como a pandemia afetou as formas de trabalho e a organização da sociedade como um todo, ficou mais nítida a dependência que a educação tem de infraestrutura adequada, acesso à tecnologia, valorização do profissional da educação, aproximação da família dos processos de ensino-aprendizagem, e utilização da tecnologia como mediadora e não como única solução. Descobrimos que o computador não substitui a sala de aula.

José Moran: O meu balanço da educação em 2020 foi que passamos por várias fases. Houve um primeiro momento de improvisação, de ter de aprender rapidamente, de fazer de uma forma simples. Isso levou à uma ênfase em modelos transmissivos, mas aos poucos avançamos em uma curva de aprendizagem no formato online. Criamos algumas estratégias para aprender ativamente, engajar os estudantes, acompanhá-los e construir uma relação afetiva. Esse foi talvez o maior avanço deste ano. Descobrimos que podemos aprender ativamente em espaços digitais, desenvolver projetos, trabalhar com problemas, integrar laboratórios físicos e virtuais, aprender em tempos individuais e em grupos. E também que o educador ocupa um papel insubstituível como mentor. Sem dúvida esse foi o ano mais desafiador e inesquecível de nossas vidas.

Mônica Gardelli: A pandemia trouxe uma nova configuração e exigiu que se estabelecessem novos padrões para os processos educativos. Isso envolveu a família, os alunos, as tecnologias e demandou um desenvolvimento muito rápido da autonomia. Ficou evidente que a capacidade de tomar decisão e de se organizar foi mais necessária para garantir o mínimo de escolarização possível dentro do modelo de ensino remoto adotado durante o período.

Perspectivas para 2021

Catarina Almeida: As lições de 2020 precisam ser aprendidas para que a gente possa pensar um 2021 que caminhe na direção de reverter as consequências sociais, econômicas e culturais trazidas pela pandemia. Para isso, precisamos de um aporte de recursos e investimentos para que o direito à educação seja garantido.

José Moran: Sem dúvida, vai ser um ano cheio de surpresas, mas algumas ações parecem muito claras. Primeiro, trazer aqueles que estão mais distantes do processo de ensino-aprendizagem, avaliando o que eles aprenderam, tentando engajá-los e ajudá-los para que em 2021 eles recuperem esse aprendizado e se aproximem daqueles que tiveram mais oportunidades em 2020. As escolas vão trazer modelos mais flexíveis, híbridos e relevantes para atender aos diversos grupos. Demoraremos para estarmos em uma situação confortável e, enquanto não temos soluções claras para a pandemia, encontraremos as respostas na troca de experiências registradas ao longo do ano.

Mônica Gardelli: Vamos ter dois cenários: a continuidade do que vivemos esse ano em relação aos aprendizados pedagógicos. Entre eles estão as dinâmicas de escolarização on-line e a participação das famílias no processo de ensino-aprendizagem. O outro cenário é de retomada das atividades presenciais com as crianças, embora não no mesmo modelo a que estávamos habituados. Isso vai exigir uma reorganização curricular para atender as crianças que não tiveram acesso à recursos ou não se adaptaram à metodologia proposta. 

 

Transformação do modelo de educação a longo prazo 

Catarina Almeida: O que precisa ficar para o futuro é o que deixamos de entregar no passado. Antes de pensar na inovação trazida pelo ensino híbrido, precisaremos voltar dois passos para garantir condições básicas de infraestrutura, tanto nas escolas quanto nos domicílios. Caso contrário, o uso das tecnologias continuará excluindo. A valorização dos professores, a participação das famílias, a aprendizagem para além dos muros da escola, a reorganização de um currículo voltado para formação de sujeitos e não para respondentes de avaliação. Esse é o caminho para garantir o direito à educação e o desenvolvimento econômico e social do país.

José Moran: O que vai ficar é a busca por uma educação mais autônoma, flexível e participativa. Podemos aprender ao longo da vida, cada um de acordo com seus interesses e ao mesmo tempo intensamente juntos. Podemos aprender com o melhor da presencialidade, e também aproveitar o online para potencializar esses conhecimentos. Vamos ter de cobrar políticas públicas que corrijam a falta de acesso às tecnologias, e encará-las como um direito e uma possibilidade de inclusão. A palavra flexibilidade daqui para frente adquirirá um significado central.

Mônica Gardelli: A pandemia vai impactar na sociedade como um todo. Houve uma conscientização de vários setores da sociedade do quão vulneráveis nós somos e de como precisamos estar preparados para enfrentar uma nova lógica de funcionamento mundial. As crianças voltarão para a escola diferentes, os pais serão diferentes e os educadores também. A minha esperança é que haja uma mudança no que entendemos como educação, que forma a futura geração para encontrar soluções coletivas para construir um mundo melhor e mais justo.

Principais pontos levantados pelos especialistas e alguns caminhos para o Brasil em 2021

  • Direito à educação exige intersetorialidade;
  • Compromisso com a educação resulta em desenvolvimento econômico e social;
  • Incentivo a políticas públicas que invistam em infraestrutura, escolar e domiciliar;
  • Investimento e financiamento para a educação pública (Fundeb)
  • Valorização do educador;
  • Importância da formação de professores para atender às necessidades do século XXI;
  • A importância da escola
  • Considerar metodologias ativas e aprendizado em múltiplos espaços;
  • Modelo educacional focado em formar cidadãos que busquem soluções coletivas;
  • Acesso à internet como um direito
  • Diagnóstico, planejamento e busca ativa;
  • Reorganização curricular para lidar com os diferentes níveis de aprendizagem;
  • Considerar as desigualdades no planejamento pedagógico das redes de ensino;
  • Autonomia e flexibilidade como competências essenciais.
Especialistas refletem sobre as perspectivas para a educação em 2021
Especialistas refletem sobre as perspectivas para a educação em 2021