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Inteligência artificial reconhece sinais feitos pelo corpo. A proposta é promover inclusão ao facilitar a comunicação de deficientes auditivos

#Estudantes#PenseGrande#TecnologiasDigitais

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados em 2020, mostram que mais de 10 milhões de pessoas, equivalente a 5% da população, têm algum problema de surdez. Dentro deste grupo, 2,7 milhões não ouvem nada. Já de acordo com a OMS, 900 milhões de pessoas no mundo podem desenvolver surdez até 2050. Os números evidenciam o quanto a inclusão de pessoas com deficiência auditiva é urgente e necessária – e mostra o potencial de algo que facilite a inclusão, como traduzir a Libras para texto.

Foi com o objetivo de tornar a comunicação de surdos mais acessível com o auxílio das tecnologias digitais, que três alunos da Escola Técnica Estadual Lauro Gomes, em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, criaram um programa que utiliza a Inteligência Artificial (IA) para transformar movimentos e expressões da Língua Brasileira de Sinais em texto.

Luciano dos Anjos, 19 anos, é um dos criadores do projeto. Ele nasceu com lábio leporino e sabe bem das dificuldades para se comunicar. Essa experiência foi uma das inspirações para a ideia de desenvolver esse trabalho. “Eu sempre quis ajudar essas pessoas. Percebi as barreiras que os grupos com diferentes deficiências têm para conversar. Por isso, meus colegas e eu chegamos no consenso de criar essa tecnologia”, diz.

Além de Luciano, fazem parte da empreitada Vinícius Navarrete e Fabrício Holanda. Juntos, elaboraram o projeto durante o curso Técnico de Desenvolvimento de Sistemas, formação que prepara os jovens para construir e projetar sistemas de informação de linguagem e programação. O trio estava atrás de uma nova proposta para o mercado e, assim, surgiu o Software de Reconhecimento de Sinais. O programa conta atualmente com 100 sinais programados para reconhecimento.

“O primeiro passo foi pesquisar novas tecnologias digitais para poder aplicar nossa ideia. Resolvi procurar o que ainda não tinha no Brasil.”, explica Luciano.

A tecnologia usada

Os primeiros esboços do plano surgiram no final de 2019, mas só saíram do papel no ano seguinte. Eles desenvolveram a tecnologia pelo sistema operacional Ubuntu. Usando machine learning (aprendizado de máquina), o software foi treinado para reconhecer, através da câmera, gestos e sinais de mão, face e corpo, por meio de uma biblioteca de código aberto chamada MediaPipe, desenvolvida pelo Google.

A ideia é relacionar o movimento do sinal, executado e gravado em vídeo, a uma palavra. De acordo com o código do treinamento, o software reconhece o sinal e gera, na saída, a palavra correspondente a ele.

“A inteligência artificial assimila o arquivo e compara com sua biblioteca de dados, exibindo o resultado aproximado em arquivo de texto, o TXT, ou como legenda no próprio vídeo. O reconhecimento do gesto vem dos treinos feitos com outras gravações dos mesmos movimentos. Após o software entender, ele legenda e ativa um áudio em que fala a palavra”, explica Fabrício, 19 anos.

Para chegar a esse resultado, foi preciso dedicação e manejo com os contratempos da pandemia. “Ficávamos treinando 18 horas por dia e testamos mais de 20 mil vídeos, alguns gravados pelos pela gente, outros do YouTube”, diz Fabrício. Os testes alcançaram a precisão de 96%.

Para além dos muros da escola, o projeto ganhou o primeiro lugar na 1ª Feira Científica STEAM (Ciência, Tecnologia, Engenharia, Arte e Matemática) e ficou em 9º lugar na votação popular da 19ª Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace).

“Foi muito bom participar desses eventos, porque recebemos feedback positivo para identificarmos falhas e melhorarmos o projeto. Foi ótimo aprimorarmos nossa visão e tecnologia”, comemora Vinicius Navarrete, 19 anos. Os jovens foram convidados para participar, ainda esse ano, da Mocitec Jovem, (Mostra Científica e Tecnológica dos Jovens Pesquisadores do Estado do Pará). Para Luciano, este é o reconhecimento da dedicação e a demonstração de que estão no caminho certo.

“Ficamos muito felizes em participar pelo fato de saber que nosso projeto está tendo visibilidade, e esse é nosso intuito. Quanto mais souberem do programa, mais pessoas serão ajudadas por essa tecnologia. Poderão surgir até novas ideias.”

Aprimorando para o futuro

Os jovens continuam empenhados em melhorar a tecnologia para que seja capaz de fazer a conversão dos gestos em tempo real, além de incluir a tradução automática de Libras para texto e áudio em diversos idiomas.

“Queremos finalizá-lo, liberá-lo para as pessoas e darmos continuidade ao projeto com atualizações e melhorias. Nosso país é bem limitado no quesito acessibilidade. Com o software, podemos facilitar o cotidiano dessa comunidade”, diz Vinícius.

Eles pretendem criar um aplicativo para que a solução esteja disponível para ser usada pelo público. “Muita gente não tem conhecimento de Libras: falta acessibilidade para os surdos em hospitais, no transporte público, nas lojas e nas empresas. As barreiras devem ser quebradas e com o suporte da tecnologia podemos fazer isso”, afirma Luciano.

Para o futuro, o jovem deseja criar ainda mais tecnologias para ajudar a população e diz que tem esse sonho como meta de vida. “Quero poder ajudar as pessoas empregando os conhecimentos que tenho em tecnologia. Aprendi muito sobre inclusão com pessoas com deficiência e quero poder chegar a outros grupos também, porque tecnologia é o futuro”, finaliza.

Estudantes criam software que transforma Libras em texto
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