O MIC surgiu a partir da falta de representatividade que as jovens encontraram no Ensino Médio. O projeto reúne conteúdos que promovem a equidade de gênero na ciência
Foi para tentar contornar a falta de incentivo à presença feminina nas áreas científicas e tecnológicas e promover a equidade de gênero na ciência que um grupo formado por 11 alunas do Ensino Médio do Colégio Estadual Antônio Francisco Lisboa, em Sarandi (PR), criou o MIC – Mulheres Inteligentes e Cientistas. Um aplicativo em que é possível encontrar curiosidades, biografias e arquivos científicos desenvolvidos por mulheres.
A iniciativa tem como proposta dar visibilidade às mulheres produtoras de conteúdo intelectual. Além disso, contribui para aumentar a representatividade feminina na área de conhecimento e inspirar outras jovens estudantes a seguirem pelo mesmo caminho.
“O projeto surgiu em 2019 a partir da falta de representatividade que encontramos no Ensino Médio Técnico em Informática. Afinal, todos os professores das matérias técnicas eram homens. Não havia nenhuma referência feminina para as meninas que entram no curso”, declara Maristela Mendes Santos, 19, uma das jovens que desenvolveram o MIC.
A princípio, a ideia do grupo era produzir um jogo mobile para crianças da Educação Básica, especificamente meninas, para que as ajudasse a se verem como cientistas. Porém, foi a coordenação do curso que propôs às estudantes que desenvolvessem ferramentas que dialogassem com o público da sua faixa etária.
Nesse sentido, o MIC foi reestruturado e passou a ter como público-alvo estudantes do Ensino Médio e do início da graduação. Por isso, o uso de um aplicativo pareceu ser mais adequado.
Equidade de gênero na ciência: o amadurecimento da ideia do app
Com a validação da ideia do aplicativo, um novo rumo foi dado pelas alunas ao desenvolvimento do MIC. Assim, o grupo passou a contar com a orientação da professora Eliane Oliveira.
“Voltamos em 2021 com uma nova ideia e com mais integrantes. O foco passou a ser um aplicativo com artigos científicos de pesquisadoras da região, curiosidades sobre elas e vídeos com suas histórias, de diversas áreas do conhecimento. Além de postagens nas redes sociais”, conta Eliane.
Devido à pandemia, a equipe se organizou em reuniões virtuais para tocar a iniciativa. As tarefas foram divididas de acordo com as habilidades de cada integrante e seguindo as orientações dos professores tanto no desenvolvimento da parte escrita quanto na parte técnica.
Desse modo, à medida que as discussões avançavam, perceberam o quanto o apagamento das mulheres se dá em diferentes áreas. Assim, tomaram consciência do quanto é necessário promover a equidade de gênero na ciência e a divulgação do conhecimento produzido por mulheres. Isso para que outras possam se sentir representadas e motivadas para seguirem seus estudos nas áreas que escolherem.
“Apresentei outros grupos que também atuam com a divulgação científica de mulheres, para que o MIC dialogasse com esses projetos e as estudantes se sentissem motivadas para continuar desenvolvendo o aplicativo”, afirma a educadora.
Um dos melhores do Desafio Criativo da Escola
O MIC foi um dos projetos premiados em 2021 pelo Desafio Criativos da Escola, na categoria Equidade. A iniciativa do Instituto Alana reconhece projetos transformadores protagonizados por crianças e adolescentes de escolas públicas e privadas de todo o país.
A edição do ano passado reconheceu os trabalhos de 50 equipes nas categorias Cidadania, Educação, Meio Ambiente, Qualidade de Vida e Equidade. Cada uma delas foi premiada com R$ 2 mil para investirem no desenvolvimento de seus projetos.
Planos para o futuro
Maysa Ribeiro Macedo, 19, que também integra a equipe premiada, conta que seu plano é conquistar mais conhecimentos para seguir no desenvolvimento do aplicativo.
“Nosso objetivo é a graduação em áreas que nos permitam desenvolver ainda mais o projeto, nos possibilitando levá-lo adiante para trazer uma nova proposta em 2022. Para que dessa forma a gente alcance ainda mais o público feminino, em diversas áreas, desde o Ensino Médio até a graduação. A Maristela quer seguir a carreira de desenvolvedora e eu vou me encaminhar para a área da Comunicação e Marketing”, detalha a jovem.
Para desenvolver o MIC, as estudantes contam que se inspiraram em projetos como o Conectadas, da Universidade Estadual de Maringá (PR), e o Investiga Menina, de Goiás. E deixam uma mensagem para as jovens que, assim como elas, desejam entrar na área das Ciências.
“Não importa as dificuldades que enfrentemos, esse mundo é nosso. Somos mulheres guerreiras e juntas vamos muito mais longe. Acreditem no potencial de vocês, nada é impossível!”, concluem.