Evasão escolar: segundo pesquisa, 11% das crianças e adolescentes não frequentam a escola no Brasil - ou cerca de dois milhões de estudantes.
Divulgada em setembro, a pesquisa “Educação brasileira em 2022 – a voz de adolescentes”, produzida pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), traz dados atualizados sobre a dura realidade da evasão escolar no Brasil. Segundo o levantamento, 11% das crianças e adolescentes de 11 a 19 anos não estão frequentando a escola – totalizando aproximadamente dois milhões de estudantes.
Desse total, 48% afirmam ter parado de estudar porque precisam trabalhar. Além desse motivo primordial, outras causas impulsionam a evasão escolar no país: falta de interesse pela escola (27%); dificuldades de aprendizado (30%) ou de acesso à escola e ao transporte escolar (18%); problemas familiares (28%); gravidez precoce (14%); mudança de endereço (18%); situações de violência doméstica ou conflitos armados no território (16%).
A evasão desliga o aluno da escola tanto no vínculo pedagógico como no social”, aponta o professor da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) Wander Augusto Silva, especialista em evasão escolar e educação. “O principal responsável por resolver esse problema é o poder público, que tem recursos e possibilidades para tanto, mas os professores podem e devem atuar para reduzir o abandono e a evasão”, defende.
Em 2020, devido aos impactos ocasionados pela pandemia de Covid-19, quatro milhões de estudantes brasileiros abandonaram os estudos, segundo dados do Datafolha. Destes, 54% pertenciam às classes D e E. A pesquisa também mostrou os caminhos para o retorno à escola apontados pelos próprios jovens: garantia de trabalho e renda; acesso a equipamentos tecnológicos que permitam assistir às aulas; e apoio familiar e psicossocial.
Recursos digitais para combater a evasão escolar no Brasil
Ainda de acordo com a pesquisa, levando em conta os últimos três meses, 27% dos estudantes entre 15 e 19 anos pensaram em desistir da escola – metade deles por “não conseguir acompanhar as explicações ou atividades passadas pelos professores”. Nesse contexto, o especialista sugere que os professores busquem aplicar práticas pedagógicas ativas e participativas em sala de aula.
“A utilização de mais recursos pedagógicos digitais, com atividades em smartphones e usando vídeos, são interessantes formas de engajar os jovens estudantes, lembrando que para isso eles precisam ter acesso à equipamentos e à internet. O docente também pode sempre indicar um uso prático daquele conteúdo que está sendo ensinado, para que o aluno entenda como aquilo que está aprendendo impacta em sua vida”, observa Wander.
Professor: fundamental no combate à evasão
A evasão escolar é uma questão histórica da educação brasileira. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) de 2019, por exemplo, indicou que mais da metade (52%) das pessoas que têm mais de 25 anos de idade não terminaram o ensino básico – ou seja, evadiram.
O abandono escolar acontece quando o aluno interrompe o ano letivo, parando de frequentar as aulas. Já a evasão ocorre quando este estudante, que abandonou a escola, deixa de fazer a matrícula no ano seguinte.
Sendo a evasão um problema intersetorial, as soluções precisam também ser articuladas por múltiplos atores da gestão pública. Dentro desse cenário, o professor é considerado como participante da linha de frente no combate à evasão, já que ele convive diretamente com o aluno e, inclusive, será o primeiro a notar quando ele começar a faltar muito nas aulas, um dos primeiros sinais de desmotivação com a escola.
O professor é um ponto fundamental de identificação e diagnóstico dos estudantes propensos à evasão”, reflete Wander. “Dar aula não é só passar conteúdo, dar aula é educar – e educar é dialogar, conhecer o mundo. Mesmo não sendo médico ou psicólogo, o educador deve identificar sinais nos alunos, e para isso é fundamental interagir e estar atento para reconhecer esses sinais negativos. Conforme ele identifica isso, pode utilizar estratégias que levem aquele aluno a sentir que está aprendendo, usando recursos pedagógicos de uma forma mais ampla.”
Um exemplo de sucesso no combate à evasão é a iniciativa Busca Ativa Escolar, realizada pelo Unicef e Undime (União dos Dirigentes Municipais de Educação), entre outros parceiros, que prepara profissionais para atuar na busca de estudantes da educação básica que deixaram a escola. Entre o início de 2019 e maio de 2020, 49 mil crianças já tinham sido rematriculadas após a atuação da busca ativa.
Fortalecer o percurso escolar
Entrar em contato com a família do estudante, para entender a situação em que está vivendo, também é uma importante etapa exercida pelos docentes no combate à evasão. “E, por fim, deverá apresentar esse problema à coordenação e direção da escola.”
Ou seja, é principalmente através da criação de pontes e conexões entre a realidade dos estudantes e o cotidiano escolar, estabelecendo a sensação de pertencimento e cuidado, que os altos índices de evasão e abandono escolar no Brasil poderão ser atenuados. “São formas de fortalecer o percurso escolar. E para isso a ação dos professores é essencial, alimentando esse processo no dia a dia de suas turmas”, finaliza Wander.