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O Fórum Interamericano de Filantropia Estratégica discutiu a importância da tecnologia e da análise de dados em projetos sociais, o aumento de ações voluntárias e doações na pandemia, o fortalecimento comunitário e muito mais!

A ilustração mostra 5 braços com mãos, de diferentes tonalidades de cores, segurando corações.

O Fórum Interamericano de Filantropia Estratégicao Fife 2020 – aconteceu entre os dias 25 e 28 de agosto. Em sua 7ª edição, o maior evento voltado à gestão de organizações do terceiro setor do país aconteceu pela primeira vez de forma remota e contou com mais de 100 atividades. As palestras e conversas, sempre com foco na troca de experiências, abordaram a relação entre tecnologia e impacto social com temas que foram da captação de recursos, comunicação e marketing, até legislação, voluntariado e sustentabilidade.

Americo Mattar, diretor-presidente da Fundação Telefônica Vivo, falou sobre a importância do uso da tecnologia para gerar impacto social. Ele relatou como as ações da Fundação foram potencializadas mesmo por meios digitais durante a pandemia. “O digital está longe de ser algo frio. Está longe de ser algo distante, ou desconectado”, comentou.

Confira abaixo alguns dos principais momentos e as lições trazidas pelo Fife 2020:

A tecnologia não funciona sozinha

No evento, Americo Mattar ressaltou a importância de flexibilizar os programas da instituição durante a pandemia. Foram criadas algumas ações frente à Covid-19, focando as áreas da saúde e da segurança alimentar.

“Mesmo não sendo um foco de atuação da Fundação, a gente entendeu a importância de flexibilizar o modelo para permitir que olhássemos para outras dimensões sociais nas quais poderíamos contribuir”, pontuou.

Nesse contexto de se abrir a mudanças, foi necessário potencializar meios de atuação que já existiam, como o voluntariado digital. “Nós ainda temos o paradigma de que a ação voluntária exige a presença física, o contato físico, mas neste cenário nós criamos condições para que dentro de casa fosse possível colocar em prática a solidariedade”.

Há mais de oito anos a Fundação já utiliza a tecnologia em projetos educacionais, mas durante a pandemia foi necessário se reinventar. “No Escola Digital foi criada uma funcionalidade em apoio a pais e professores para a criação de roteiros de estudo para ajudar no desenvolvimento escolar”.

Americo Mattar enfatizou, contudo, que a pandemia jogou por terra a teoria de que é possível substituir com recursos digitais uma sala de aula. “Isso é absolutamente impensável. Não dá para substituir o professor. A tecnologia pode potencializar a sua prática pedagógica, mas não o substitui”.

O impacto do digital no campo social

“Dados estão sendo tratados como o novo petróleo”, comentou Márcio Tomelin, diretor de produto e mercado da WK Sistemas, no debate sobre a Lei Geral de Proteção de Dados no Brasil. Ele ressaltou o que a revista The Economist vem falando deste 2017: os dados são tratados como verdadeiras mercadorias pelo seu valor e influência na economia digital.

Todos os dias, milhões de pessoas se informam, se relacionam e compram na internet. No entanto, apesar da importância dos dados na nova economia, muitas organizações do setor social têm dificuldade em coletá-los e analisá-los corretamente. Foi pensando nisso que a Atados, em parceria com a Fundação 1Bi, criou a Rede Tech for Good.

“Nosso objetivo é conectar organizações, empresas interessadas em investigar um pouco mais o campo de tecnologia para impacto social”, comenta Gabriel Nardelli, gerente de projetos de inovação e líder da Rede Tech for Good. “As tecnologias de impacto social com maior potencial escalável respeitam três pontos principais: geram ou iniciam um movimento, promovem e mantém uma rede conectada, e já trabalham com dados”, explica.

Um projeto que trabalha em rede permite troca de conhecimento e participação ativa dos usuários com colaboração e modificações para alcançar a resolução de problemas sociais. Criar uma rede pode significar utilizar aquelas que já existem para estabelecer uma troca de conhecimento. Um bom exemplo é o do AprendiZap, uma estrutura de ensino a partir do WhatsApp. Alguns exemplos de iniciativas de impacto que fazem bom uso da tecnologia para captar e analisar dados são o Cataki, Colab, Brasil Sem Corona e Livia.bot.

Aumento da solidariedade e da doação

Na roda “O que Sabemos sobre os Doadores Brasileiros”, Andrea Wolffenbüttel, diretora de Comunicação do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS), traz dados importantes sobre doações no país, baseados nas pesquisas: Doação Brasil, feito em parceria do instituto com o Brasil Giving Report e o World Giving Index.

Sempre existiu uma cultura de doação no país: mais de 60% dos brasileiros já fizeram uma doação, e ao menos metade doa para as Organizações da Sociedade Civil pelo menos uma vez por ano. No entanto, os valores ainda são baixos. Para comparação, nos Estados Unidos doa-se sete vezes mais que no Brasil: 1,5% do PIB, contra 0,2%, respectivamente.

Em resposta à pandemia, no entanto, o valor das doações atingiu R$ 6 bilhões no nosso país, montante maior que o transferido por investidores sociais privados no ano de 2019.

Na palestra “Voluntariado: felicidade ou propósito”, Giuliana Preziozi, especialista em sustentabilidade e sócia na Conexão Trabalho Consultoria, também falou sobre o aumento da participação no voluntariado na pandemia. Ela citou as ideias de Jim Haudan, autora do livro The Art of Engagment e comentou que as pessoas se tornam voluntárias, pois querem ter uma jornada significativa e que suas contribuições façam a diferença.

“As pessoas aprenderam a ter mais confiança na capacidade e no poder das organizações sociais. Descobriram o próprio poder de transformação. Muita gente viu que as doações fizeram efeito no combate à pandemia”, explicou. “Agora nós temos de pensar como educar este doador para que seja cada vez mais engajado e consciente de seu papel”.

É preciso fortalecer o comunitário

Ainda que a tendência seja de alta no voluntariado, nem todos os dados são positivos para o terceiro setor. O estudo “Impacto da COVID-19 nas OSCs brasileiras: da resposta imediata à resiliência”, mostra que 73% da organização foram enfraquecidas durante a pandemia, e a maioria prevê redução na captação de recursos até o fim do ano.

Quem trouxe essa pesquisa foi Fernando Rossetti, ex-gestor de organizações como o GIFE, o Greenpeace Brasil e a Cidade Escola Aprendiz e que hoje mora em Serra Grande (BA), onde é presidente do Conselho de Administração da Tabôa – Fortalecimento Comunitário. Ele destacou a importância de estimular comunidades e pequenas organizações.

Mesmo com pouco dinheiro, em média R$ 100 mil por ano, as pequenas instituições causam forte impacto onde estão alocadas. Ainda assim, durante a pandemia, os investidores sociais privados acabaram direcionando as doações a organizações maiores.

“Precisamos fortalecer as comunidades e não desenvolvê-las, porque essa ideia pressupõe que elas são subdesenvolvidas”, pontua. E para isso, a alocação de recursos deve ser decidida de baixo para cima com as comunidades decidindo o que deve ser desenvolvido.

“Existe uma cultura vertical no Brasil. Só que não adianta fazer um ‘projeto para’, é necessário fazer um ‘projeto com’. Quando eu cheguei em Serra Grande (BA), percebi que os meus conceitos de desenvolvimento estavam errados. Quando eu falo que aqui é um lugar pobre, as pessoas se ofendem. E com razão! Há uma outra riqueza que a gente não considera, a riqueza histórica e cultural”, ensina Fernando Rossetti.

Fife ensina lições sobre a relação entre tecnologia e impacto social
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