Estudantes de escolas técnicas apresentam projetos no Demoday, que destacou ideias potencializadas pela formação de professores na metodologia Pense Grande
Uma formação de educadores que prepara os alunos para pensar “fora da caixa” pode gerar resultados incríveis. O Demoday, que aconteceu no dia 27 de setembro, em São Paulo, foi um exemplo de como a metodologia Pense Grande ajuda a inovar o ensino e a aprendizagem.
Pela primeira vez, o programa Pense Grande envolveu os professores multiplicadores, que passaram por uma capacitação para aplicar a metodologia focada em empreendedorismo social em sala de aula para os estudantes. Foram capacitados 89 educadores, que ofereceram as oficinas para cerca de 3.000 alunos de ETECs do Estado de São Paulo.
O Demoday é o evento de encerramento para quem participa do programa, no qual os jovens das escolas técnicas são convidados a apresentar propostas para criação de um negócio que impacta positivamente a vida de outras pessoas, ao mesmo tempo em que gera renda.
Os trabalhos são desenvolvidos ao longo do primeiro semestre e são baseados nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (Organização das Nações Unidas). Das 130 propostas, dez foram selecionadas para se apresentarem e três grupos foram premiados.
Os projetos disruptivos
Avaliação de problemas, definição de público-alvo, desenvolvimento de modelo de negócio, análise de concorrência, formas de divulgação, prototipação e diversos outros pontos fundamentais para uma empresa foram abordados pelos alunos nas apresentações dos 10 projetos de impacto social.
Cada um teve 5 minutos para esta etapa, além de 2 minutos para perguntas do júri, composto por empreendedores, professores e investidores que avaliaram itens como inovação, uso da tecnologia, sustentabilidade, impacto socioambiental e a qualidade da apresentação.
Três grupos ganharam destaque. O primeiro lugar ficou com o Girl Power, uma ferramenta desenvolvida por alunas da ETEC de Hortolândia, sob orientação da professora Priscila Martins. A ferramenta alerta uma central sobre atos de violência ou assédio para ajudar mulheres e oferece um mapa com pontos de risco, além de ter um espaço para depoimentos e conversas entre as usuárias.
“Trabalhamos no projeto desde fevereiro. Nossa professora participou das formações e depois nos direcionou na realização do aplicativo, o que permitiu fundamentar e estruturar a nossa ideia”, conta Mariana Lima, de 17 anos, uma das responsáveis pela ideia.
“Pretendemos levar a ideia para frente. Já nos inscrevemos em outras feiras”, afirma Amanda Lucena, 16 anos, outra criadora do app.
“A formação do Pense Grande foi muito bacana, pois todo mundo saiu pensando sobre novas metodologias e como aplicá-las. Temos mil recursos hoje em dia e, com o curso de formação, vimos que somos capazes de usá-los”, contou a professora Priscila Martins, orientadora do grupo da ETEC de Hortolândia. “Apliquei as metodologias do programa em mais de uma turma e nas ferramentas que já usávamos na escola. Ampliamos a utilização a partir do Pense Grande”.
Como prêmio, o grupo recebeu ingressos para o Wired Festival Brasil, evento de ciência e tecnologia que ocorre no fim do ano no Rio de Janeiro (RJ). Além disso, a instituição de ensino também foi premiada com um carrinho equipado com livros, tablet e projetor.
Outros dois grupos chamaram a atenção. O projeto MedOi, um aplicativo que armazena históricos médicos de pacientes e pode ser acessado por qualquer profissional, foi criado por alunos da ETEC Professora Maria Cristina Medeiros, de Ribeirão Pires.
Já o aplicativo Refuge Safe, da ETEC Irmã Agostina, em São Paulo, visa ser um canal para que doações de interessados em auxiliar refugiados cheguem às ONGs. O segundo e o terceiro lugar ganharam uma mentoria da Impact Hub e outras formações online sobre empreendedorismo.
Inovando na formação de educadores
Para o professor Gislayno Monteiro, coordenador de projetos do Centro Paula Souza, o programa Pense Grande “traz ótimos resultados, tanto para as escolas quanto para os alunos, que desenvolvem competências profissionais muito buscadas no mercado”.
Para ele, tornar o professor multiplicador da metodologia que trabalha conceitos como empreendedorismo social, tecnologia e desenvolvimento de competências socioemocionais é uma forma de valorizar quem está na sala de aula.
“Uma maneira de atingir diretamente o aluno foi trabalhar com ele dentro da sala de aula, e o Pense Grande possibilitou isso, sendo que o professor passou a ser um gestor do projeto”, analisa Monteiro. Além disso, formar educadores que atendam às necessidades de metodologias ativas dos jovens dinamiza o ensino e a aprendizagem. “O ganho da escola é um aluno engajado, disciplinado e organizado, além da melhora na relação com os estudantes, pois o professor consegue entender melhor quais são as demandas deles”, finaliza o coordenador.
Interação com o público
Foi realizada no evento uma roda de conversa sobre os resultados da pesquisa Juventudes e Conexões, fazendo um recorte sobre eixo empreendedorismo. O estudo é idealizado pela Fundação Telefônica Vivo, realizado pela Rede Conhecimento Social em parceria com o IBOPE Inteligência, e busca entender como os jovens no Brasil se relacionam com a internet, as tecnologias digitais e as múltiplas formas de conexão.
Seguindo a cocriação para a elaboração da pesquisa, houve interação com a plateia para que os presentes respondessem a questões similares às levantadas no estudo. No Juventudes e Conexões, disponível gratuitamente para download, mais do que o público-alvo, os jovens atuaram como colaboradores na construção dos dados, compondo um grupo que ajudou na definição de perguntas, análises e produção do conteúdo.