Por meio de parceria entre a Secretaria de Estado de Educação, a Fundação Telefônica Vivo e o Instituto Natura, o estado incorporou habilidades digitais na formação de educadores e apresentou ótimos resultados
A última pesquisa TIC Educação, coordenada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), constatou que 54% das escolas brasileiras ofertam formação em competências digitais para docentes. A sondagem, que consultou mais de 3.000 escolas entre agosto de 2023 e abril de 2024, apontou que as redes estaduais são as que mais ofertam essas formações, para 67% de seus professores, seguidas pelas escolas particulares (64%) e municipais (47%).
De acordo com a avaliação PISA 2022 (Programme for International Student Assessment ou, em português, Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), o desempenho dos alunos está diretamente ligado ao modo como os dispositivos eletrônicos são inseridos na rotina escolar, como prevê a Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
No entanto, o uso de forma didática e o ganho em aprendizagem só acontecem quando há professores habilitados para conduzirem as atividades que utilizam as chamadas TDICs (Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação) no contexto escolar. Buscando atualizar currículo e melhorar a aprendizagem dos estudantes desde 2023, o Mato Grosso, no Centro-Oeste brasileiro, adotou o Programa de Formação de Professores em Competências Digitais, que conta com o apoio da Fundação Telefônica Vivo e do Instituto Natura.
A rede de ensino do MT incluiu na sua política formativa a metodologia de oferta de cursos por nível no programa estruturado em trilhas formativas, com aprendizado híbrido (on-line e presencial), nas áreas Pedagógica, de Cidadania Digital e de Desenvolvimento Profissional. Além disso, foram ofertados cursos de Formação Docente on-line nas grandes áreas de conhecimento e tecnologia.
Para iniciar a formação, os professores da rede estadual mato-grossense são incentivados a fazer uma autoavaliação na plataforma GuiaEdutec, pela qual será constatado o nível de desenvolvimento em competências digitais. A autoavaliação, desenvolvida pelo Centro de Inovação para a Educação Brasileira (CIEB), contém uma série de perguntas que envolvem 12 competências digitais, e os resultados são apresentados em cinco níveis de apropriação: Exposição, Familiarização, Adaptação, Integração e Transformação.
No nível Exposição, por exemplo, estão os docentes que têm conhecimento básico da tecnologia para o uso pessoal, mas ainda não tiveram a oportunidade de aprofundar o aprendizado para dominá-la e incorporá-la em sala de aula. Já os que estão no último nível de desenvolvimento em competências digitais de Transformação, são aqueles aptos a usar a tecnologia de forma inovadora em seus planos de aulas, compartilhando com seus colegas e envolvendo a comunidade escolar. São os que usam a tecnologia como uma ferramenta de transformação social. Após a autoavaliação, a ferramenta envia aos educadores uma devolutiva individual com os resultados, e os professores e gestores são incentivados a fazer cursos híbridos — presenciais e on-line — para aprimorarem suas competências digitais.
“Agora, os professores vêm aplicando as tecnologias de forma mais intencional. Muitos já estão instruídos e trabalham com competências digitais dentro do planejamento e nos seus objetivos”, diz Carinna Pires, Formadora de Tecnologia da Diretoria Regional de Ensino de Cuiabá (MT).
Em especial, na Formação Docente on-line, foram ofertados pela Fundação Telefônica Vivo oito cursos autoinstrucionais de aperfeiçoamento dos docentes em competências digitais — do catálogo Escolas Conectadas — nas áreas de conhecimento como Linguagens, Língua Portuguesa, Matemática, Ciências da Natureza e Ciências Humanas, alinhadas por etapas, dos anos finais do Ensino Fundamental II e iniciais do Ensino Médio, que resultaram em mais de mil horas de formação.
O desenvolvimento do Programa de Formação Docente em Competências Digitais é uma das frentes da Coalizão Tec Educação, formada pela Fundação Telefônica Vivo em parceria a outras organizações da sociedade civil: o CIEB, a Fundação Lemann, MegaEdu, Instituto Sonho Grande e o Instituto Natura. É viabilizado também pelo ProFuturo, um programa global de educação em parceria com a Fundação Telefônica Vivo e a Fundação “la Caixa”.
Casos de sucesso e Prêmio Cidadão Digital
Depois do início do programa de formação, os resultados evidenciaram um avanço notável no nível de apropriação de competências tecnológicas dos professores e gestores escolares em Mato Grosso. Entre 2022 e 2023, houve um aumento de 25,4% para 52,6% de educadores avaliados em patamares considerados adequados em competências digitais. Desde o início do programa, o estado já formou mais de 16 mil pessoas entre professores e gestores, impactando positivamente mais de 350 mil estudantes.
Os docentes, que incorporaram em suas aulas o uso das tecnologias digitais, de forma a melhorar a aprendizagem e o engajamento dos alunos, foram incentivados a se inscreverem no Prêmio Cidadão Digital. A iniciativa criada pela Secretaria Estadual do Mato Grosso (Seduc/MT), em 2023, teve mais de 6 mil práticas docentes inscritas.
Foram premiados dez professores com projetos pedagógicos inovadores, das escolas: E. E. Governador José Fragelli e E.E. André Avelino Ribeiro, em Cuiabá; E.E. Governador José Garcia Neto, em Várzea Grande; E.E. 7 de Setembro, em Barra dos Bugres; E.E Modelo Santo Antônio, em Jaciara; E.E. 13 de Maio, em Nova Guarita; E.E. Dr. Anísio José Moreira, em São José do Rio Claro; E.E. Lourenço Peruchi, em São José dos Quatro Marcos; E.E. Cel. Ondino R. Lima, em Ribeirão Cascalheira e E.E. Prof. João Batista, em Tangará da Serra.
Um deles é o professor de Educação Física Astolfo Góes, da Escola Estadual Governador José Garcia Neto, em Várzea Grande. Ele desenvolveu uma “trilha didática” — de acordo com suas palavras — para integrar a tecnologia às atividades e motivar seus alunos. Os jovens realizam uma pesquisa sobre alguma arte marcial e criam um site para apresentarem seus trabalhos. Além das práticas físicas, incluindo a postagem de fotos e vídeos dos próprios estudantes praticando a arte marcial escolhida, eles também aprendem questões como direitos autorais no uso de imagens de terceiros e risco de plágio ao copiarem trechos de outros sites.
“Eles adoram, se envolvem demais. Nós usamos o Google Sites, que é muito simples e intuitivo”, diz Góes. O professor explica que, para evitar a exposição desnecessária dos alunos — todos menores de idade —, os sites são “fechados”, isto é, não estão on-line, são acessados apenas pela própria comunidade escolar. Para Astolfo Góes, o programa de formação em competências digitais foi fundamental para ele se reconectar com seus estudantes.
Outra egressa do programa de formação e ganhadora do prêmio é a professora Grace Vilarinho Nobre, docente de Química na Escola Estadual Professor João Batista, em Tangará da Serra, município a cerca de 250 quilômetros ao norte de Cuiabá. Ela conta que desenvolveu um projeto utilizando os programas gratuitos Padlet e Canva para ajudar no ensino de alunos entre 14 e 17 anos, do 9º ano do Ensino Fundamental ao 3º do Ensino Médio. Seu projeto, além de envolver química, também incorporava questões como sustentabilidade, reciclagem e economia circular. “O Canva eu já sabia usar, mas o Padlet conheci no curso de formação. Ele é ótimo porque é colaborativo, funciona como um mural interativo em que os alunos vão postando informações”, explica. Depois, ela auxilia os alunos a fazerem conexões entre os diferentes conteúdos que eles espalham no mural, tudo dentro da sua proposta pedagógica.
“O programa de formação foi importante porque os alunos têm essa ligação com a tecnologia, porém, não sistematizam. Sabem usar redes sociais, Instagram, TikTok, mas não para aprofundar o conhecimento”, avalia a professora, que reconhece a importância de “direcionar” os estudantes para usos mais produtivos e didáticos das tecnologias. “É duro prender a atenção deles, então precisamos trabalhar com coisas que eles gostam”.
Toda a experiência e os principais resultados do Programa de Formação Docente em Competências Digitais em Mato Grosso podem ser conhecidos na publicação disponível no site da Fundação Telefônica Vivo.
Formação de docentes no Maranhão e Recife (PE)
O estado do Maranhão iniciou no segundo semestre deste ano a Jornada de Formação em Competências Digitais, com o apoio da Fundação Telefônica Vivo. A iniciativa acontece nos mesmos moldes do programa em Mato Grosso, com a autoavaliação diagnóstica em competências digitais e formações no tema para docentes da rede estadual.
Inicialmente, foi realizada a mobilização dos professores para a realização da autoavaliação para docentes e gestores da rede. A ação contou com os esforços de gestores escolares, parceiros e de ampla campanha nas redes sociais da Seduc/MA.
O subsecretário de Educação do estado, Anderson Lindoso, foi um dos gestores públicos que gravou um vídeo convidando os professores para a ação. Ele recorda que competências digitais é uma das exigências da Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
Já a rede municipal de Recife, com 320 unidades escolares, sendo 231 escolas, 47 creches, e 42 creches escola, adota o programa de formação continuada de professores em competências digitais desde o 2º semestre de 2022. A rede, que contabiliza cerca de 92 mil estudantes e mais de 5.400 professores, pretende garantir uma aprendizagem com e sobre a tecnologia em todas as escolas”.