Em comemoração aos 25 anos, a Fundação realizou o evento "Transformação Digital na Educação: Desafios e Tendências”, que explorou como a tecnologia pode contribuir com a educação, com a participação de especialistas renomados nacionais e internacionais.
Especialistas, educadores, atores da esfera governamental e do terceiro setor se reuniram na terça-feira (1/10), a convite da Fundação Telefônica Vivo, para comemorar os 25 anos de sua atuação no Brasil. O evento “Transformação Digital na Educação: Desafios e Tendências” trouxe muitas discussões, principalmente sobre o uso da Inteligência Artificial (IA) na educação.
A abertura foi conduzida pelo CEO da Vivo e Presidente do Conselho Curador da Fundação Telefônica Vivo, Christian Gebara, que ressaltou a importância da educação para o desenvolvimento do país. “A educação sempre foi a razão de ser da Fundação Telefônica Vivo”, afirmou Gebara. Ele destacou que a IA já é uma realidade em muitas empresas brasileiras e que, embora o Brasil seja um país bastante conectado, 50% das pessoas não têm habilidades digitais para fazer tarefas mais complexas. “A IA vai provocar uma mudança enorme no mundo do trabalho”, disse ele. “Precisamos evitar que a desigualdade digital acelere ainda mais a desigualdade social”, completou.
Em um cenário de grandes transformações tecnológicas, os especialistas presentes destacaram a Inteligência Artificial como uma ferramenta promissora para revolucionar a educação. Além de otimizar a gestão escolar, a IA tem o potencial de tornar os processos de ensino e aprendizagem mais interessantes. No entanto, surge a questão de como preparar professores e estudantes para essa nova realidade. Para discutir esses desafios, o evento abordou não apenas as vantagens e oportunidades da IA na educação, mas também os riscos e desafios associados ao seu uso.
Educação e inteligência artificial: transformando o ensino e a aprendizagem
A palestra principal foi do americano Charles Fadel, professor e pesquisador da Universidade de Harvard, também fundador e presidente do Center for Curriculum Redesign (CCR), uma iniciativa global e sem fins lucrativos dedicada a tornar a educação mais relevante para os alunos, professores e sociedade.
Ele lançou no evento seu mais recente livro, “Educação para a era da inteligência artificial”, traduzido para o português com o apoio da Fundação Telefônica Vivo, Fundação Santillana e Instituto Península. A obra foi escrita em parceria com os também pesquisadores Alexis Black, Robbie Taylor, Janet Slesinski e Katie Dunn.
Lançamento do livro com Daniela Kimi, do Instituto Pensínsula, Lourdes Pereira, representando os educadores de escolas públicas, Charles Fadel, Lia Glaz, Luciano Monteiro da Fundação Santillana e Seiji Isotani
Estruturada em oito capítulos, examina o avanço da IA e desmistifica os temores sobre superinteligência, destacando que o uso inteligente dessa tecnologia pode transformar as profissões e dar vantagem competitiva aos profissionais que a dominarem. Reforça, ainda, que a educação deve continuar atendendo tanto às necessidades psicossociais quanto às econômicas, com foco no desenvolvimento da sabedoria, e propõe um modelo educacional baseado em quatro dimensões fundamentais: conhecimento, habilidades, caráter e meta-aprendizado. A obra oferece exemplos práticos de como a IA pode ser usada para auxiliar os professores no planejamento de aulas e avaliações, apresentando um novo caminho para a educação na era digital.
“Os próximos 25 anos vão parecer 100 em termos de mudanças tecnológicas. Então, é melhor estarmos preparados para acelerar”, disse Fadel, no evento. Ele defende que a IA deve ser o meio, uma ferramenta a mais na educação, não um fim em si mesma. “Professores têm o emprego mais difícil do mundo, pois estão pedindo para eles irem além dos seus limites. Precisamos dar mais ferramentas para eles que possam trabalhar”, disse em defesa da adoção de IA. Mas destacou que a ausência de supervisão humana pode resultar em usos indevidos e indesejados das tecnologias com IA.
Mesas discutem papel da educação e do professor na era digital
A primeira mesa, intitulada “Como repensar a educação básica na era digital” foi mediada por Renato Gasparetto, vice-presidente de Relações Institucionais e Sustentabilidade da Vivo. Participaram do debate Frederico Amancio, Secretário de Educação de Recife (PE), Ivan Siqueira, professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), pesquisador nos temas de educação, Inteligência Artificial e políticas públicas e relator no Conselho Nacional de Educação (CNE) sobre a BNCC Computação e Priscila Cruz, presidente e cofundadora do Todos Pela Educação.
Renato Gasparetto, Frederico Amancio (no telão), Priscila Cruz e Ivan Siqueira
Na abertura, Renato Gasparetto destacou que “a melhor forma de comemorar os 25 anos da Fundação seria trazer um espaço de debate e reflexão sobre o papel da digitalização e da tecnologia na educação e na escola pública”.
Priscila Cruz, presidente do Todos Pela Educação, afirmou que “a Inteligência Artificial pode ser um grande drive para novos conhecimentos”. No entanto, ela afirmou a necessidade de desenvolver esses usos em diferentes níveis. Para que a adoção da IA na educação avance, é essencial também valorizar a carreira dos professores. “O professor no Brasil não tem uma carreira atrativa. É a profissão mais complexa, mais importante e a valorização social é pequena”, disse Cruz, defendendo que o professor deveria ser “a grande obsessão do país”.
Ivan Siqueira enfatizou a importância de ensinar a fazer perguntas e melhorar a qualidade da informação disponível. “A oportunidade de acessar informação de qualidade é mal distribuída, e isso tem um efeito terrível”, avaliou. Frederico Amancio, Secretário de Educação de Recife (PE), afirmou que apenas uma infraestrutura robusta não é suficiente. É necessário investir em capital humano, especialmente na qualificação de docentes e no fortalecimento das redes por meio de cursos de extensão e formação continuada.
A segunda mesa, “Inteligência Artificial na sala de aula: o que muda na profissão professor”, foi mediada por Lia Glaz, diretora-presidente da Fundação Telefônica Vivo. Participaram Barbara Born, diretora do Instituto Singularidades, Seiji Isotani, professor de Ciência da Computação na USP e Lourdes Pereira, professora de Matemática da rede estadual de São Paulo e mestre em educação matemática.
Lia Glaz, Barbara Born, Seiji Isotani e Lourdes Pereira
Lia Glaz reforçou a necessidade de um olhar especial na formação e na carreira dos professores. “Temos a difícil tarefa de formar esses profissionais para que eles deem conta não só das tecnologias, mas também de tudo o que elas demandam para o desenvolvimento dos alunos”, afirmou.
Seiji Isotani, autor do prefácio da edição traduzida para o português do livro “Educação para a era da inteligência artificial”, compartilhou sua experiência como professor de ciência da computação voltada para a aprendizagem na USP e na Universidade de Harvard, onde atuou como professor visitante. “É muito interessante pensar na Inteligência Artificial como uma ferramenta que aumenta nossas capacidades. E onde podemos aumentar ao máximo? Nas regiões mais vulneráveis, com dificuldades de infraestrutura, energia elétrica e capacitação”, disse Isotani. Ele destacou uma experiência bem-sucedida de “inteligência artificial desplugada”, onde, mesmo em áreas remotas com recursos mínimos, como um celular e um ponto de conexão de internet próximo da escola, é possível obter bons resultados para facilitar o trabalho dos professores e o aprendizado dos estudantes. Como exemplo, citou uma ferramenta de IA que lê redações escolares, elaborando relatórios personalizados sobre as deficiências dos alunos e oferecendo orientações aos professores.
25 anos de apoio à educação no Brasil
Os 25 anos da Fundação Telefônica Vivo foram celebrados com entusiasmo pelos convidados, como demonstram os depoimentos sobre o evento.
Alessio Costa Lima, presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), destacou: “Em sua história de 25 anos, a Fundação Telefônica Vivo já acumulou uma vasta experiência e conhecimento que complementam o que fazemos na gestão pública”. Ele também ressaltou que as parcerias com a Fundação Telefônica Vivo “têm se mostrado bastante frutíferas”, pois a Undime “tem conseguido levar cursos ofertados através da tecnologia à distância para professores de todo o Brasil”.
Cláudia Costin, presidente do Instituto Singularidades e membro do Conselho da Fundação Telefônica Vivo, afirmou que acompanha o trabalho da instituição desde o seu início e percebe as mudanças ao longo do tempo. “Eu vi essa instituição crescer em apoio à educação pública no Brasil. Agora, não se trata apenas de fornecer material para apoiar a inclusão digital de professores, que é uma tônica da Fundação, mas também de ajudar na implantação de um ensino médio muito mais significativo, com o itinerário formativo. Iniciativas como o Pense Grande Tech influenciam positivamente a sociedade e as políticas públicas”, disse ela, referindo-se ao programa da Fundação Telefônica Vivo que contribui para o desenvolvimento de competências digitais de estudantes da Educação Profissional na área de tecnologia, em redes públicas. E colabora com o fortalecimento da atuação do setor produtivo na formação e empregabilidade de estudantes do Ensino Médio na área de tecnologia. E, entre outras inciativas, desenvolveu o itinerário de formação técnica e profissional em Ciência de Dados.
A professora Iara Tavares, gestora educacional da Secretaria Municipal de Educação de Aracaju (SE), definiu sua participação na comemoração como uma experiência “enriquecedora” e elogiou o foco na “preocupação com o professor, que é quem está em sala de aula”. Ela também comentou sobre a atuação da Fundação, que “se preocupa com algo fundamental para a sociedade: a educação pública”.
Assista na íntegra ao evento de 25 anos da Fundação Telefônica Vivo, “Transformação Digital na Educação: Desafios e Tendências”.