Entenda porque as escolas devem se aprofundar nesse tema e contribuir com a preparação dos jovens para o futuro do trabalho, que cada vez mais é pautado no uso da tecnologia
A tecnologia vem causando mudanças significativas nas indústrias e na forma como nos comunicamos, nos relacionamos e vivemos. Seja por meio do uso de dados, dos drones, do metaverso, da inteligência artificial, entre outros recursos. O mundo está cada vez mais digital. A educação também vem passando por transformações nesse sentido. Em contrapartida, não são todas famílias, professores e escolas que acompanham o ritmo das mudanças. Portanto, entre tantos desafios, o que deve ser feito para que os jovens estejam preparados para o futuro do trabalho em um mundo digital?
De acordo com dados do estudo Emprego dos sonhos? As aspirações de carreira dos adolescentes e o futuro do trabalho, realizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), jovens de todo o mundo ainda optam por profissões tradicionais em vez de olhar para o digital. Assim como não consideram novos tipos de empregos que surgem na 4ª Revolução Industrial.
Por exemplo, Medicina, Licenciatura, Engenharia e Direito continuam entre as carreiras mais desejadas pelos jovens há quase 20 anos. Ou seja, o cenário mudou pouco com a era das mídias sociais e da popularização da tecnologia no mercado de trabalho.
Os resultados, relativos ao ano de 2018, mostram que a expectativa de carreira dos estudantes está ainda mais concentrada em poucas ocupações. Se em 2000, 49% dos jovens de 15 anos esperavam chegar aos 30 atuando em uma das dez profissões mais citadas, o número aumentou a 53%, em 2018.
Aprendizado profundo sobre o futuro do trabalho
Para Arthur Igreja, especialista em inovação e tecnologia, a escolha das profissões tradicionais têm três explicações. Uma é a própria oferta de cursos. “Claro que isso muda um pouco com a possibilidade de estudar on-line. Mas muita gente estuda em cidades onde há poucas opções”, explica.
Logo depois, a segunda explicação tem a ver com previsibilidade. “Por mais que haja profissões promissoras, elas também são sinônimos de caminhos mais desconhecidos. Enquanto as profissões já estabelecidas transmitem sensação de previsibilidade”, complementa.
Por fim, o terceiro ponto se relaciona com a clareza que o jovem tem ou não tem a respeito das possibilidades. Ou seja, o quanto o estudante pesquisa a respeito das novas profissões. Portanto, o interesse do jovem, na visão do especialista, está ligado à possibilidade de ele ter contato com novas descobertas do mundo digital.
“É preciso ser lúdico, convidativo e atraente para apresentar as possibilidades. Por exemplo, por que hoje em dia tem um boom de gente trabalhando com tecnologia? Não é só o fato de a remuneração ser boa. Mas porque deixou de ser uma área nerd. Antigamente, as ferramentas eram extremamente complexas. Atualmente, você consegue ser um desenvolvedor de tecnologia sem ser um ultra-hacker. Falta tornar as coisas um pouco mais acessíveis”, explica.
Então, diante dos desafios, como as escolas podem preparar os estudantes para um mundo cada vez mais digital e para o futuro do trabalho? Para Arthur, antes de mais nada, as escolas, os educadores e todas instituições precisam passar por imersão, experimentação e vivência no mundo digital.
“É preciso haver a mão na massa e mergulhar nas questões. Além de oxigenação e um aprendizado muito profundo, por parte de quem está na liderança das instituições, a respeito do futuro do trabalho. É assim que você consegue reconhecer oportunidades de forma mais natural”, conclui.
Jovem do futuro
Como resultado de todas essas mudanças, o perfil do jovem para acessar as profissões do futuro é essencial. “São pessoas com o vetor da tecnologia. Pois isso é transversal e atravessa todas as profissões. Mas também um perfil humano, que vem se tornando escasso e faz a diferença no final do dia”, explica.
Para o especialista, o aspecto humano e o reconhecimento das questões relacionadas às pessoas é absolutamente fundamental.
Soft Skills são competências que envolvem habilidades socioemocionais e interpessoais. Estão relacionadas à forma de solucionar problemas e tomar decisões baseadas no impacto que geram em outras pessoas. Empatia, persuasão, flexibilidade, liderança, trabalho em equipe são algumas delas.
“A tecnologia pode ser comprada, contratada e desenvolvida. Mas as soft skills dependem mais do indivíduo e são mais complexas. Acho que a combinação das duas habilidades gera uma oportunidade muito grande”, completa.
Arthur ainda lembra da importância dos nativos digitais – os nascidos entre os anos 1990 e 2010, já imersos na cultura digital – compreenderem as demais gerações para conseguirem se relacionar melhor. Assim como quem não é nativo digital também teve de entender os nativos digitais.
Para o futuro do trabalho, a evidência fica para quem for contemporâneo e não resistir às novas ideias, sejam nos ambientes digitais ou não, respeitando também os que vieram antes. Com os constantes desafios das mudanças do mercado e da tecnologia, é preciso estar atento para não embarcar atrasado, sem deixar de aprender com o passado e nem perder as habilidades emocionais.
Human Coders: análises e pesquisas sobre educação e o futuro do trabalho
É o que apresenta o estudo Human Coders: reprogramando futuros, realizado pela 42 São Paulo. O projeto reúne relatórios, pesquisas e análises de especialistas sobre o impacto da programação nas áreas de educação, empregabilidade e mercado de trabalho. E sobre o papel da educação na formação de cidadãos digitais.
A série de três livros de tendências foi realizada em parceria com a produtora de conteúdos de impacto Mariposa. Além disso, contou com apoio da Fundação Telefônica Vivo, Zup e Itaú.
No volume sobre Educação, o estudo apresenta um dado levantado em 2020 pela Microsoft: o setor de tecnologia prevê uma demanda de 6,3 milhões de programadores até 2025. Por outro lado, estima-se que 67% das vagas não poderão ser preenchidas por falta de profissionais qualificados. Sendo assim, uma das maiores tendências reveladas pelo estudo é a importância de formar programadores (coders) para, antes de tudo, impactarem positivamente a sociedade como seres humanos (humans).
Em outras palavras, é preciso potencializar o desenvolvimento de habilidades socioemocionais. Ao mesmo tempo em que se trabalha a proficiência tecnológica, o conhecimento do ambiente digital, para o futuro do trabalho. Assim, a educação e a programação se misturam para construir as competências essenciais para estes Human Coders.
Entretanto, a falta de diversidade de gênero, raça, idade e cultura no mundo da programação também é um tema apresentado pelo estudo, no volume sobre Empregabilidade.
Nesse sentido, há uma demanda pela desmistificação da tecnologia para que mais pessoas queiram programar. De acordo com a publicação, embora o estereótipo do programador esteja mudando, ainda é um ambiente pouco diverso; a maioria dos profissionais ainda é homem cis.
Para que os estudantes se preparem para trabalhos que exigem cada vez mais o desenvolvimento de competências digitais, o uso de tecnologias na educação se faz necessário. Dessa maneira, a comunidade escolar precisa se manter atualizada.
Saiba como foi o enlightED 2022!
A temática abordada nessa matéria foi um dos assuntos debatidos durante o enlightED 2022, uma das maiores conferências globais sobre tecnologia, educação e inovação. A programação brasileira do evento foi pautada pelo tema Inovação que Conecta. Educação que Transforma. Clique aqui e assista às palestras na íntegra.