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Confira a nota técnica da Fundação Telefônica Vivo sobre o GEM Report - Technology on her terms, que destaca o uso da tecnologia na educação sob a ótica da equidade de gênero

Imagem mostra três jovens em uma sala de estudos utilizando notebook. Dois jovens são negros e uma é branca

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) divulgou, em 25 de abril, o GEM ReportTechnology on her terms1 (Relatório Global de Monitoramento da Educação – Tecnologia nos termos delas).  O documento analisa a interação entre tecnologia e aprendizado com uma lente de gênero.

 

Mulheres geralmente estão “do lado errado” da divisão digital 

O primeiro destaque do relatório diz respeito às diferenças globais no acesso à tecnologia. Como exemplo, é mencionado que, enquanto 70% dos homens utilizaram a internet em 2023, 65% das mulheres fizeram uso do mesmo recurso no período. Essa diferença de 5 pontos percentuais (p.p) equivale a 244 milhões a mais de homens utilizando a internet em todo o mundo em comparação à quantidade de mulheres. Essa distância tende a aumentar à medida que se reduz a renda da localidade analisada: em países mais pobres, o diferencial pode chegar a 14 p.p.

Os resultados sugerem que normas sociais e culturais inibem o acesso equitativo e o engajamento com a tecnologia dentro e fora da escola, deixando as meninas e mulheres – “do lado errado” da divisão. Em especial, durante a pandemia, as tarefas domésticas, realizadas majoritariamente por pessoas do gênero feminino, competiam com as atividades de aprendizado. De acordo com o GEM Report, professoras relatam que, naquele período, tiveram que assumir a maior parte das responsabilidades domésticas e de cuidado, limitando suas oportunidades para desenvolver competências tecnológicas.

O relatório também pontua que a inteligência artificial abriu um território inexplorado de assédio virtual e cyberbullying, especialmente pela circulação de imagens falsas, e que as meninas têm mais probabilidade de serem alvos desses tipos de crimes. Em média, nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) com dados disponíveis, 12% das meninas de 15 anos relataram terem sido vítimas de cyberbullying, em comparação a 8% dos meninos. Esta realidade faz com que haja um monitoramento mais frequente das meninas na internet pelos pais e responsáveis, influenciando negativamente seu envolvimento o mundo digital.

O uso das redes sociais também impacta o bem-estar e a autoestima dos estudantes, especialmente das meninas. A facilidade com que o cyberbullying pode ser amplificado por meio do uso de dispositivos on-line no ambiente escolar é motivo de preocupação. Esse cenário reforça a importância dos professores enquanto orientadores do uso da tecnologia na escola, para que esta seja incorporada ao ensino de forma ética e responsável.

 

Educação equitativa como indutora do desenvolvimento tecnológico inclusivo 

O relatório pontua que, muitas vezes, as discussões sobre tecnologia no contexto da educação se resumem ao impacto dos recursos digitais sobre o ensino e a aprendizagem. No entanto, é importante considerar também que a educação influencia o desenvolvimento tecnológico.

Em outras palavras, a atual desigualdade de oportunidades iguais para estudar e trabalhar em carreiras de ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM) se reflete em um desenvolvimento tecnológico pouco inclusivo, orientado por homens e para homens, potencializando vieses de gênero.  Cria-se, assim, um ciclo vicioso de desigualdades.

O documento traz evidências desse tipo de desequilíbrio logo no início da trajetória de formação das estudantes.  Dados apresentados pela UNESCO indicam que a confiança das meninas em matemática – disciplina fundamental para a formação de habilidades analíticas necessárias para posterior atuação em áreas STEM – tende a ser menor do que a dos meninos, mesmo quando elas apresentam bom desempenho nessa matéria.

Nesse cenário, o Brasil se destaca negativamente, sendo um dos países com maior índice de ansiedade em matemática entre as estudantes de 15 anos, como indicado na figura abaixo. O índice apresentado varia de -1 a 1 (sendo 1 o patamar mais elevado de ansiedade).

Como apresentado, o Brasil ocupa a 5ª posição no ranking dos países com índices de ansiedade em matemática mais elevados entre as meninas (0,76, contra uma média de 0,39 dos países da OCDE). O gráfico da direita indica que a diferença do patamar de ansiedade em matemática comparativamente aos estudantes do gênero masculino também é um dos mais elevados (0,47, ligeiramente acima da média OCDE).

Essa ansiedade pode estar associada à falta de confiança na área, que é um dos fatores que influencia a decisão de carreira das mulheres. No mundo todo, as mulheres são consideravelmente menos propensas a escolher áreas de STEM: entre 2018 a 2023, a proporção de graduadas em cursos STEM foi de apenas 35%, segundo dados do GEM Report.

É ainda mais alarmante o fato de que, para um subconjunto de 50 países analisados pela UNESCO, não houve evolução da participação feminina entre graduados em cursos STEM nos últimos anos.

Ainda que as mulheres tenham ganhado espaço em algumas modalidades de ensino no Brasil, como apresentado em estudo2 recente divulgado pela Fundação Telefônica Vivo sobre a Educação Profissional e Tecnológica (EPT), os resultados da UNESCO evidenciam que há um caminho longo a ser trilhado rumo à equidade de gênero na educação. Embora tenha mostrado evolução positiva nos últimos anos, o relatório aponto que a participação de mulheres em cursos STEM no Brasil segue ligeiramente abaixo da média global de 35%, estando próxima a 34%.

Essa baixa proporção chama ainda mais atenção quando se considera o fato de que as jovens têm maior probabilidade de se formar na universidade na maioria dos países. Uma análise mais detalhada evidencia que a diferença de gênero nas escolhas da educação terciária é mais acentuada: apenas 15% das estudantes escolhem STEM em vez de outros cursos, enquanto a proporção correspondente de estudantes homens é de 35%.

Tais desequilíbrios significam que as disparidades de gênero persistem nas carreiras de STEM e até mesmo entre os professores de STEM. Os resultados globais levantados pelo GEM Report mostram que, em 2021, as mulheres ocupavam apenas 29% de funções em STEM do mercado de trabalho (e 49% das posições não STEM). Além disso, observa-se que 31% dos professores do sexo masculino do Ensino Médio secundário superior ensinam disciplinas dessa área, em comparação com 25% das professoras do sexo feminino. Disparidades ainda mais acentuadas de gênero foram observadas na Dinamarca (14 pontos percentuais), Brasil (10 pontos percentuais) e Eslovênia (8 pontos percentuais).

As disparidades na distribuição de professores de STEM podem ser entendidas como a ponta de toda uma cadeia marcada pela desigualdade de oportunidades, que se inicia na infância. Em outras palavras, elas são o resultado de um processo educacional que já nasce desigual. A superação dessas diferenças requer, portanto, a articulação e implementação de políticas públicas que promovam a equidade no acesso à educação e à tecnologia desde os primeiros anos escolares. Além disso, para potencializar e acelerar a promoção da equidade, pode-se também atuar diretamente na inclusão de profissionais do gênero feminino como professoras nas áreas STEM. Educadoras nessas áreas não apenas contribuem para diversificar e enriquecer o ambiente educacional, como também podem inspirar outras meninas a seguirem carreiras STEM. Investir na presença e no reconhecimento das mulheres como professoras de STEM é estratégia fundamental para promover a igualdade de gênero e impulsionar o progresso na inclusão digital e tecnológica.

 
Referências bibliográficas

1 Disponível em: < https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000389406>. Acesso em 25/04/2024.

2 Educação Profissional e Tecnológica (EPT) como oportunidade para equidade de gênero. Disponível em: https://www.fundacaotelefonicavivo.org.br/noticias/educacao-profissional-e-tecnologica-ept-como-oportunidade-para-equidade-de-genero/ Acesso em 25/04/2024.

Análise sobre o GEM Report – <em>Technology on her terms</em>
Análise sobre o GEM Report – Technology on her terms