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A falta de suporte leva mães adolescentes a abandonar a escola e engrossar a taxa de evasão escolar. Entenda como o posicionamento da escola pode mudar esse cenário.

Jovem usando coque e jaqueta jeans, com mochila no ombro, ilustra matéria sobre gravidez na adolescência.

Cerca de 610 mil mulheres na faixa dos 15 aos 17 anos que estavam fora da escola em 2016, 35% eram mães, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE. Em 2018, o cenário sobre gravidez na adolescência permaneceu alarmante. Dados da UNICEF mostram que o Brasil é o 4º entre países da América do Sul com o maior número de adolescentes grávidas, com 68,4 por grupo de 1.000 jovens – sendo 66 a média sul-americana.

“Eu gostaria de ter tido uma escola que enxergasse o aluno de maneira horizontal, que tivesse aproveitado a minha experiência para gerar conhecimento para mim, mas também para os outros colegas”, afirma Amanda Amparo, pesquisadora do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), especialista em políticas para juventude e mãe de William Amparo. “Engravidei aos 16 anos, e não recebi nenhum tipo de acolhimento”.

Amanda Amparo é parte dos 2% de jovens mães que continuaram os estudos após a gravidez, tanto no Ensino Médio quanto no Ensino Superior. A socióloga aponta o apoio da família, o emprego como jovem aprendiz e a força de vontade como fatores decisivos para se manter na escola da rede pública em que estudou, na zona oeste de São Paulo.

“Nós éramos simples, mas o incentivo para que eu fosse independente nunca faltou. Ainda assim, eu tive que me adaptar a minha condição, não encontrei um espaço preparado para mim, e isso dificultou muito o processo”, relembra Amanda. “A escola precisa se colocar como base nesse suporte, caso contrário o esforço terá de partir única e exclusivamente dos jovens, que vivem em condições muito diversas”.

Por que a escola precisa agir?

Os motivos que levam jovens a abandonarem a escola ao ter de lidar com a gravidez na adolescência vão desde o posicionamento da instituição à estrutura curricular rígida,, até a forma como são tratadas dentro daquele espaço. Isso sem contar as necessidades físicas: enjoos, idas frequentes ao banheiro e, após o nascimento do bebê, ter de se ausentar algumas vezes ao dia para amamentar.

“O ambiente deveria ter uma preparação, articulando funcionários pra receber essa aluna, compreendendo e colaborando com o momento dela. Apesar de ser uma realidade, ela sofre, tanto da parte dos colegas, quanto dos docentes, certo tipo de discriminação”, endossa Rebeca Otero, coordenadora de educação da UNESCO no Brasil. “Ninguém investe no potencial dela e isso dificulta o acesso à escola”, completa.

Para Rebeca Otero, a escola poderia ir além e contribuir com orientação em relação a exames, a pré-natal, vacinas e se articular com outros setores para trazer informações sobre procedimentos. Além disso, pode aproveitar a experiência para estimular o debate sobre métodos contraceptivos, incentivar a empatia e flexibilizar atividades.

“É um direito das jovens contar com esse apoio e é um dever da escola oferecê-lo. Se essa mãe abandonar os estudos nesse momento, ela não volta mais”, acrescenta a coordenadora. “A instituição não precisa esperar um posicionamento nacional para agir, basta analisar os dados em nível local e incluir essa necessidade no projeto político-pedagógico”.

Perguntas certas e respostas efetivas

Apesar de as ações locais não dependerem de política pública, há quem defenda a necessidade de olhar com mais profundidade para a questão, já que a gravidez na adolescência geralmente vem vinculada a outros quadros como: vulnerabilidade social e econômica, trabalho infantil e evasão escolar dos pais das crianças também.

Amanda Amparo, usando batom e com cabelos na altura do ombro e encaracolados, posa ao lado do filho Willian, hoje com 13 anos. A especialista em política para juventude precisou lidar com gravidez na adolescência.

“É importante pensar em todas as dimensões e estruturas em volta dessa questão, inclusive a de gênero e raça, para não deixarmos nenhuma solução de fora”, afirma Amanda Amparo. “A escola precisa ser um espaço da comunidade. A comunidade produz conhecimento tanto quanto a escola. Pensar em um plano pedagógico que aborde essa questão é pensar antecipadamente nela”.

A pesquisadora também propõe alguns questionamentos para formular diretrizes de base: Por que esses jovens saem da escola? Como ajudar uma menina que está grávida e quer prestar o vestibular? Quais são seus sonhos acadêmicos? Como amparar esses sonhos, entendendo que ela tem uma especificidade na relação dela com a escola?  Uma vez sistematizados esses pontos, articulações intersetoriais podem determinar as melhores respostas.

Para a socióloga, a solução jamais deve ser a saída dessa jovem da escola. “A gravidez não faz com que as jovens saiam da escola, a falta de suporte sim. Uma possível política pública teria de dimensionar essa condição dentro do coletivo”, finaliza.

Gravidez na adolescência: como escolas devem lidar para evitar evasão
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