Abrindo espaço para falar sobre sentimentos e emoções, o ambiente escolar aproxima-se da realidade do estudante investindo em uma formação integral
Estabilidade emocional, autonomia, resiliência e solidariedade são conceitos que deveriam estar cada vez mais ligados à sala de aula. Para além da Física, Matemática e História, parte fundamental da construção do autoconhecimento do estudante vem da interação no ambiente escolar. Portanto, o desenvolvimento de habilidades socioemocionais está diretamente ligado ao aprendizado cognitivo.
Educar as emoções através da convivência, saber a hora de falar ou de agir, aprender a lidar com os impulsos e as emoções fazem parte do trabalho da escola porque dizem respeito ao autoconhecimento e à convivência social.
Trabalhar essas habilidades ajuda os jovens a conhecer os próprios limites e os dos outros, os auxilia a tomar decisões conscientes, a lidar com desafios e a resolver problemas complexos da vida real. Dinâmicas de socialização, projetos, jogos e criação de espaços de debate estão envolvidos na proposta de mediar conflitos, estimulando a empatia na relação entre os pares.
Integralidade na Educação
O debate sobre o que seriam as chamadas competências socioemocionais começou a ser disseminado em meados dos anos 90, quando organizações como a ONU e a UNESCO passaram a divulgar relatórios mostrando a importância da educação integral como chave de transformação do ser humano, estabelecendo parâmetros para valorizar o aprendizado exigido no século XXI.
O conceito de Educação Integral entende que é preciso garantir o desenvolvimento de pessoas em todas as suas dimensões: intelectual, física, emocional, social e cultural. É um projeto coletivo, envolvendo crianças, jovens, famílias, educadores, gestores e comunidades locais.
Segundo o especial sobre habilidades socioemocionais, compilado pelo Porvir, o relatório de Jacques Delors, da UNESCO (1999), fundou os pilares que abriram espaço para reflexões e pesquisas na busca por uma formação plena.
De forma geral, o documento defende que priorizar o desenvolvimento intelectual através do ensino de conteúdos em detrimento de outros aspectos, não prepara o aluno de forma integral, pois não reflete a complexidade das relações humanas.
É importante entender que as habilidades cognitivas estão estreitamente ligadas às socioemocionais e desenvolver práticas pedagógicas que ensinem a lidar com as emoções, demonstrar empatia, manter relações sociais positivas e tomar decisões de maneira responsável.
Em 2000, o economista norte-americano, James Heckman ganhou o Prêmio Nobel relacionando habilidades como equilíbrio, controle, planejamento e visão ao desempenho na vida profissional. Além disso, políticas públicas e práticas para garantir o desenvolvimento das habilidades socioemocionais também ganharam força ao longo dos anos.
No Brasil, o artigo 1º da Lei de Diretrizes e Bases estabelece que a Educação deve se comprometer em englobar o ensino de competências para convivência humana, e que atividades de incentivo devem estar inseridas no currículo regular a partir de 2020.
Aplicação prática
Identificação e cultura de paz: Tudo começa com a identificação dos sentimentos. Cada degrau da Educação Básica exige uma abordagem diferente, mas o essencial é construir uma linguagem que cause reflexão nos estudantes e que eles possam trabalhar conceitos como senso de pertencimento e de comunidade. Contar histórias, realizar dinâmicas em grupo, mostrar exemplos inspiradores, apresentar vídeos e séries podem ser aliados. O importante é criar espaço para discussão e promover um tratamento acolhedor na resolução de problemas!
Brincando e lidando com sentimentos: Sejam competitivos ou colaborativos, os jogos ajudam a trabalhar as emoções de forma lúdica: o jovem aprende a reagir com ganhos e perdas, respeitar o limite do outro, trabalhar em grupo e estruturar raciocínio para a resolução de problemas.
Projetos: desenvolver projetos é um meio para o educador iniciar a discussão dentro do currículo regular, convidando os estudantes a se envolverem com temáticas relevantes e de interesse do grupo. Projetos que envolvam temas ligados à comunidade e usam o território em que vivem, fortalecem o senso crítico e o aprendizado. A proposta envolve, desde trazer os pais para a sala de aula, utilizar equipamentos públicos, contar com o comércio, indústria e organizações do bairro, até a criação de um Projeto de Vida ou de coletivos estudantis que trazem soluções para problemas locais.
Quem faz
As escolas EMEI Nelson Mandela, de São Paulo, e a Escola Municipal André Urani, mais conhecida como GENTE (Ginásio Experimental de Novas Tecnologias Educacionais), trabalham de maneira estruturada a afetividade, o processo de autonomia e protagonismo dos estudantes. Utilizam o diálogo, a cultura de paz e até mesmo a tecnologia para mediar os conflitos.“Nós trabalhamos esse conceito quando dizemos aos jovens que são bem vindos aqui. Resolver problemas através do diálogo e da participação ativa é um diferencial. Isso faz parte da educação para a paz!”, comenta Marcela Oliveira, coordenadora pedagógica do GENTE.
Uma parceria entre a Fundação Telefônica Vivo, o Instituto Lótus e a Nuvem9Brasil promove os pilares da Educação Socioemocional para 1.000 alunos, do primeiro ao nono ano, da EMEF Professor Antônio Duarte de Almeida, localizada na Zona Leste de São Paulo.
“Algumas competências como aprender a conviver e a respeitar o outro não estão previstas no currículo das escolas, mas são tão importantes quanto as habilidades cognitivas”, relata o diretor da escola, José Silveira.
Outra frente importante é a capacitação de professores, gestores e diretores de escolas para que possam estar aptos a ensinar e trabalhar suas próprias emoções com os alunos. O Mind Lab, o Programa Semente e o LIV – Laboratório Inteligência de Vida, promovem iniciativas formativas.
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