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Conheça a história de ávidos leitores e iniciativas que farão você se aventurar pelo universo da literatura

O professor José Gilson Lopes, que desenvolveu o projeto Mala de Leitura para incentivar a inclusão por meio do hábito de ler, está em pé em frente a alunos, mostrando uma mesa cheia de livros.

O que as histórias de vida de um aluno do Amapá, um professor cearense e uma narradora de audiolivros do Paraná têm em comum? Essas pessoas, cada uma de uma região do Brasil, possuem uma relação especial com os livros que têm inspirado o hábito de ler em seu entorno.

Em um cenário onde o mercado editorial brasileiro passa por uma séria crise e algumas das maiores livrarias do país entraram com pedido de recuperação judicial e fecharam as portas em 2018, livreiros, escritores e editores chegaram a desenvolver algumas campanhas para estimular que as pessoas presenteassem amigos e familiares com livros durante o Natal do ano passado. Uma estratégia para aquecer o setor e contribuir com o desenvolvimento do hábito da leitura.

Mas para Cristiane de Fátima Costa, José Gilson Lopes Franco e Kauê Capiberibe o relacionamento com os livros nunca esteve em crise, pelo contrário: o contato com a literatura é cada vez mais próximo, inspirador e libertador.

Em um ano, ela leu 523 livros

Cristiane de Fátima Costa, 53 anos, é deficiente visual, trabalha como narradora de audiolivros e é uma leitora voraz. Em 2018, ela emprestou e leu 523 livros da Biblioteca Pública do Paraná – a maioria deles em braille.

Graduada em Língua Portuguesa e especialista em Literatura Brasileira, seu hábito está muito acima da média do país, que é de 2.43 livros por ano, segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, desenvolvida em 2016 pelo Instituto Pró-Livro. Para alcançar a sua marca pessoal, ela visitava o local a cada dois ou três dias.

Na visão de Cristiane, ler é mais do que entretenimento. “A leitura permite a comunicação, agrega conhecimento sobre diferentes assuntos, amplia os horizontes e faz com que atinjamos maiores patamares, tanto em uma esfera pessoal quanto profissional”, considera.

Há mais de quatro décadas os livros acompanham a vida da educadora: quando tinha seis anos, aprendeu a ler em braille e na adolescência começou a desenvolver, de forma mais consistente, o hábito de ler. Olhando para sua trajetória como docente e discente, ela acredita que só há uma forma de incentivar crianças, jovens e adultos.

“Você pode viver a vida inteira cercada de livros, mas não ter vontade de explorar esse universo. Ao mesmo tempo, uma pessoa que não tem tanto acesso à literatura, pode se transformar em um leitor assíduo. Para manter um hábito frequente não há nenhum mistério ou fórmula mágica: é preciso ler!”, opina.

O menino amapaense que leu 230 livros em um ano

Apesar de ter só 11 anos de idade, Kauê Capiberibe já tem planos para o futuro profissional. “Quero me tornar escritor e jornalista um dia, por isso pretendo ler muito”, disse ele em entrevista ao Portal G1.

Em 2018, o aluno da Escola Municipal Rondônia, localizada em Macapá (AP), leu 230 livros. Seu feito foi reconhecido pelo projeto “Escola de Leitores”, que premia alunos que leem mais de 20 livros durante o ano.

O “Escola de Leitores” também trabalha para tirar o Amapá das últimas posições do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), uma forma de avaliação da qualidade do aprendizado no Brasil, desenvolvida pelo Ministério da Educação.

“É o atrevimento pedagógico que dá sentido à vida da gente”

Na E.T.I Professor Ademar Nunes Batista, localizada na cidade de Fortaleza (CE), há um projeto que pratica a leitura como forma de inclusão e exercício da cidadania: o Mala da Leitura. Uma iniciativa que leva o hábito de ler para comunidades da periferia de Fortaleza.

O professor José Gilson Lopes está posando ao lado de sete alunas dentro da sala de aula. Ele desenvolveu o projeto Mala de Leitura para incentivar a inclusão por meio do hábito de ler.

Há quase quatro anos, o professor José Gilson Lopes Franco, percebeu que alunos da escola com algum tipo de deficiência ficavam excluídos durante o recreio e sem realizar muitas atividades nesse período. Foi a partir daí que ele teve a ideia de reunir as crianças em torno dos livros.

“A escola é um espaço de todos e para todos e é nosso dever, como educadores, encontrar estratégias para promover a inclusão de alunos com alguma deficiência ou que sofrem bullying, por exemplo. A forma como encontrei de fazer isso foi por meio da leitura”, conta o professor, que na hora do intervalo se reúne com os alunos para lerem juntos.

O sucesso foi tão grande que ultrapassou os muros da escola. Durante os finais de semana, José Gilson leva uma mala com mais de 100 quilos de livros para espaços públicos de diferentes comunidades da periferia de Fortaleza, como praças, garagens e campos de futebol. “Já chegamos a reunir mais de 30 crianças em um encontro”, revela José Gilson.

O projeto conquista, a cada ano, cada vez mais pessoas, pois, segundo o professor, é muito bem aceito pelas crianças e por suas famílias. A iniciativa também contribui para que a escola esteja mais próxima da comunidade, o que pode ser observado quando os próprios moradores cedem espaços de suas casas para que o projeto seja realizado.

Para o professor, a iniciativa parte de uma grande ousadia e precisa seguir adiante.

“A ideia retrata a literatura como ela é: itinerante e não fica parada. É o atrevimento pedagógico que dá sentido à vida da gente”, conclui.

Histórias inspiradoras estimulam o hábito de ler
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