Horizontal, transdisciplinar, tecnológica: confira quais são as novas tendências da educação e como elas podem mudar a vida de alunos e educadores.
Horizontal, transdisciplinar, tecnológica: um passeio pelas novas tendências
Ao invés de matérias fragmentadas, aulas interdisciplinares. Alunos que aprendem, mas que também participam ativamente da produção de conteúdo, apropriando-se de novas tecnologias e mídias para tornar o ambiente da sala de aula cada vez mais democrático. Professores que são mais orientadores, instigando seus alunos a irem além. Quando a Finlândia anunciou, em março desse ano, que iria reformar seu sistema educacional, a mídia internacional reportou espantada: o país iria abolir o sistema tradicional de ensino.
Não foi bem assim, como explicou o educador Pasi Salbergh em artigo publicado no site The Conversation. A Finlândia ainda ensinaria as matérias tradicionais como música, história e matemática. O que esse país – vencedor constante do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) e referência em métodos inovadores pedagógicos – se propôs a fazer é diluir as fronteiras entre as disciplinas, combinando-as em atividades chamadas “fenômenos”. Os alunos serão criadores e ativos participantes de projetos interdisciplinares após as aulas de matérias convencionais. O professor não passará somente conteúdos e, sim, desafios práticos, que desenvolvam competências e habilidades.
Essa simbiose entre professor e aluno, conteúdo e prática, não deixa de ser uma revolução pedagógica. O Brasil – que ocupou em 2012 o 58° lugar no PISA em um ranking de 65 países – ainda sofre da herança de uma educação estratificada e autoritária, oriunda da colonização portuguesa e do método de ensino dos jesuítas. Se o sistema tradicional encontra-se em crise, professores e pesquisadores têm apostado em métodos não convencionais para tornar o ambiente escolar mais participativo. Como explica o professor José Manuel Moran: “O modelo escolar industrial infelizmente ajuda pouco o aluno a preparar-se para o mundo. Você tem que usar desafios, e não certezas. É muito mais complexo e rico.”
Cofundador do Projeto Escola do Futuro da USP e consultor na formação de cursos à distância e semipresenciais, José é enfático na premência de que as instituições de ensino acompanhem o cotidiano de seus alunos: “Nós estamos longe de reproduzir na educação o que fazemos na vida. Estamos o tempo todo misturando os momentos de encontro físico e de contato virtual. Conversamos pessoalmente e olhamos o celular para ver uma mensagem, fazer uma pesquisa, integrar informação. Temos que quebrar o sistema tradicional, tanto nos modelos como na legislação, nas práticas pedagógicas e no currículo escolar”.
Essa revolução não é simples e exige tanto a disposição do aluno quanto o melhor preparo do professor. Mas existem bons exemplos a serem estudados e reproduzidos: A escola Âncora, em Cotia, interior de São Paulo, trabalha com projetos sem disciplinas definidas, integrando conhecimentos e também diminuindo relações hierárquicas entre professores e alunos, para um aprendizado mais horizontal. Já no ensino superior, a Faculdade Uniamérica, em Foz do Iguaçu, utiliza um método que integra atividades grupais presenciais, mas também espaços virtuais onde a discussão iniciada em sala de aula é continuada.
A interdisciplinaridade também funciona como base essencial para o trabalho desenvolvido pela educadora Cláudia Mogadouro. Especialista em cinema, ela defende que o audiovisual ocupe um espaço maior dentro das salas de aula e seja objeto de estudo, não somente “um tapa buraco para quando o professor falta”: “O cinema é essencialmente transdisciplinar. Não há nada de errado se um professor usa um filme pra tratar o conteúdo de uma aula, mas ele pode ser muito mais que isso. O filme transmite valores, desconserta, incomoda, emociona e, mais que tudo, pode desenvolver o sentimento da alteridade. Acredito mesmo no cinema como instrumento poderoso na educação para a diversidade.”
Cláudia foi consultora pedagógica do Educativo Tela Brasil. O projeto realizava sessões de cinema brasileiro para alunos e professores, capacitava orientadores a utilizar o cinema na sala de aula e promovia oficinas audiovisuais, onde os alunos podiam criar curtas-metragens: “Quando existe uma proposta bacana com o cinema, com intencionalidade educativa, com planejamento, vencida a primeira resistência dos alunos, eles mergulham na experiência com prazer. O que é importante é mostrar para os alunos que cinema na escola não é sessão da tarde. Ele está ali com um sentido, inclusive dar prazer, mas precisa também incomodar, provocar reflexão, formar o gosto estético da forma mais diversificada possível.”
Paulo Freire já denunciara a crise da educação bancária, onde o conteúdo é depositado dentro da cabeça do aluno sem trocas e questionamentos. Práticas educativas inovadoras consideram o aluno a parte mais vital do desenvolvimento de um projeto pedagógico, ele tem as rédeas para decidir como aprender e como experimentar: “A escola tem que estar mais sensível às demandas da sociedade e aos anseios do aluno. Mas isso não quer dizer que a escola vai agir com a lógica do mercado. Ela não tem que ‘agradar’ os alunos, mas compreender melhor seu universo”, conclui Cláudia.