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Nativos digitais, naturalizados digitais, colonizadores digitais, refugiados digitais, imigrantes digitais. A maioria dos alunos do ensino médio se encontra no primeiro grupo, dos que nasceram na era da informação. A maioria dos professores está nos outros três, dos que tentam se adaptar às tecnologias. Entender o que significa cada um e como estabelecer uma melhor relação entre eles pode ajudar no planejamento da educação e no trabalho dos educadores.

#NovoEnsinoMédio#TecnologiaDigital

Imagem mostra estudantes utilizando tecnologias digitais na sala de aula

Alana Fontoura (17) é aluna do terceiro ano do ensino médio da Escola Estadual Frederico José Pedreira Neto, em Palmas, (TO). Ela se considera uma nativa digital e não se lembra de um tempo em que não existia internet. A estudante tem celular e notebook e utiliza a rede para conversar com amigos, assistir vídeos, fazer compras e estudar. Segundo ela: “é muito raro um professor trabalhar com recursos digitais em sala de aula. O mais comum são materiais impressos, como livro didático ou outro texto.”

História semelhante é contada por Rogério Oliveira (17), do terceiro ano do ensino médio da Escola Estadual Irmã Laura Martins de Carvalho, que fica em Canaã dos Carajás (PA).  “O professor quase nunca utiliza a internet em sala de aula, mas quando o faz precisa usar seu 4G ou o dos alunos, pois com a internet da escola é quase impossível sequer abrir um site” explica.

A professora Rosilene Cardoso (35) leciona história na Escola Estadual Maria do Carmo Viana dos Anjos, em Macapá (AP). Ela diz que gosta de explorar o potencial pedagógico do celular em sala de aula, pois muitos estudantes usam esse dispositivo o tempo todo. No entanto, explica que a maioria de seus colegas, sobretudo os mais velhos, preferem materiais impressos e têm muita dificuldade com tecnologias digitais. “Muitos tiveram seus primeiros contatos com essas ferramentas por conta da pandemia de Covid-19” ressalta.

Estes três depoimentos descrevem um cenário muito presente na educação pública brasileira: alunos que nasceram imersos em tecnologias digitais; professores em diferentes níveis de compreensão e capacidade de uso destas tecnologias; e escolas pouco adaptadas à sociedade da informação.

 

Que tipo de usuário de tecnologia é você?

A grande maioria dos estudantes da educação básica são nativos digitais, pois nasceram no século 21, período em que o acesso à internet fixa e móvel cresce no Brasil, chegando a 81% dos lares em 2021. No entanto, a maioria dos professores, sobretudo os mais velhos, experimentaram um mundo completamente diferente. Muitos deles rejeitaram usar plataformas digitais até a chegada da pandemia. Outros buscaram se inserir nestes ambientes, tornando-se imigrantes digitais, mas sentem muita dificuldade em lidar com atividades mediadas por telas eletrônicas.

Segundo o estudo Human Coders: Reprogramando o Futuro, da  42 São Paulo, instituto que tem como objetivo ensinar pessoas a programar a partir do zero, existem diversos perfis de usuários digitais. Este projeto é dividido em três cadernos – educação, empregabilidade e mercado de trabalho. Em seu primeiro caderno o estudo destaca quatro tipos de perfis:

“Nativos digitais:  Por nascerem e se desenvolverem em um ambiente digitalizado, são sensíveis a esse meio. Desde cedo, intuitivamente, aprenderam a deslizar o dedo nas telas dos dispositivos móveis. Imersas nessa realidade, essas pessoas desconhecem referências de um mundo não dominado pela tecnologia. Por isso, têm dificuldade para compreender a linguagem e o modo de pensar das pessoas de outras gerações. O trabalho colaborativo e a interdependência fazem com que nativos digitais funcionem melhor em rede.

Naturalizados digitais: Sempre viveram em um ambiente de mudança e transformação e, por isso, carregam consigo o histórico do mundo pré-digitalização. Por terem vivido o início da popularização da internet, em uma idade de pleno desenvolvimento cognitivo, assimilaram-na de maneira orgânica e tornaram-se pessoas que navegam em dois mundos. Da mesma forma como testaram a internet discada, as salas de bate-papo, as primeiras comunidades digitais e todos os primórdios da presença on-line, hoje, têm conhecimento aprofundado de como as ferramentas digitais funcionam – o que as tornam capazes de ressignificar o uso delas e utilizá-las para solucionar problemas. Essas pessoas abraçaram a Revolução Digital, têm a marca da flexibilidade, são excelentes intérpretes e fazedoras de pontes entre mundos.

Colonizadores digitais: aqui se encontra a primeira geração de desenvolvedores ou de usuários avançados de tecnologia. Desbravaram territórios tecnológicos e prepararam o terreno para que, no porvir, outras gerações pudessem migrar com segurança e familiaridade. No entanto, embora tenham criado o idioma oficial, não falam mais essa língua que foi transformada pelos novos ocupantes desse lugar. São muito apegados a tecnologias mais antigas, como sites, e críticos das atuais, como as mídias sociais.

Refugiados digitais: empreendem uma busca por segurança e proteção, porque sempre estiveram distantes da tecnologia ou foram pouco expostos a ela. São pessoas estrangeiras que enxergam essa nova realidade como uma ameaça. O habitat delas foi, de alguma forma, destruído, e adentrar esse novo território não é algo natural e confortável. Na prática, essa pessoa viveu muito tempo como analógica nata, por isso, reproduz esse mundo de outrora no digital. Insegurança e pouca abertura à experimentação são algumas das hipóteses para explicar a dificuldade com tecnologia e a tendência a generalizar as experiências ruins.”

Nativos digitais e imigrantes digitais: a educação precisa de uma ponte entre estes dois grupos

O conceito de nativo digital foi criado por Marc Prensky, professor norte-americano e consultor na área de educação. Em 2001, ele publicou um artigo no jornal On the Horizon, especializado em análises de futuros. Com o título Digital Natives, Digital Immigrants (Nativos Digitais, Imigrantes Digitais), o trabalho defende que “os estudantes de hoje não são o tipo de pessoa que o atual sistema educacional foi desenhado para ensinar”.

Prensky define estes estudantes como nativos digitais e os professores como imigrantes digitais e descreve a lacuna que existe entre estes dois mundos. “Os nativos digitais estão acostumados a receber muitas informações simultâneas e consumi-las muito rapidamente. Gostam de estar em processos que envolvam várias telas e ainda presencial e virtual. Por conta dos games e vídeos, preferem gráficos e imagens. No entanto, quando utilizam texto, não gostam de explicações longas contidas em um único documento, preferem hiperlinks que os levem a um aprofundamento daquele assunto, caso achem necessário.”

Na outra ponta, descreve Prensky: “os imigrantes digitais não acreditam que seus alunos possam aprender com sucesso enquanto assistem vídeo ou ouvem música, porque eles (os imigrantes) não conseguem. Claro que não – eles não desenvolveram esta habilidade constantemente por todos os seus anos de formação… Infelizmente para os professores imigrantes digitais, as pessoas sentadas em suas aulas cresceram na velocidade dos videogames, na instantaneidade do hipertexto, da música baixada, dos telefones no bolso. Eles estão em rede a maior parte ou toda a sua vida”, explica.

 

Metodologias nativas digitais: o aluno como protagonista de uma nova educação

Para o professor norte-americano, a educação do futuro precisa estabelecer uma ponte entre os dois mundos: precisamos inventar metodologias Nativas Digitais para todas as disciplinas, e para todos os níveis de ensino. Para isso, é preciso reconhecer que nossos alunos, como fluentes nesse ambiente, precisam ser mais ativos na construção desse processo. Eles têm muito a nos orientar”, ressalta Prensky no final de seu texto.

Imigrantes digitais: conheça os perfis de usuários de tecnologias e entenda como eles são importantes para pensar a educação
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