Presente em 56 escolas de Ensino Fundamental – anos iniciais, o projeto Aula Digital leva tecnologia a 15 mil estudantes e 900 educadores de Viamão, zona metropolitana de Porto Alegre.
Formando uma roda, as crianças do 1º ano da EMEF Presidente João Goulart observam atentamente enquanto a professora tira um tablet da maleta. “Vocês sabem o que é e como funciona?”, pergunta. Alguns levantam as pequenas mãozinhas e esperam sua vez de relatar uma experiência.
A professora, então, explica que o dispositivo passará a fazer parte das aulas. Algumas instruções são passadas aos ansiosos ouvintes que, em instantes, já estão devidamente equipados e engajados em diversas atividades.
O uso parece intuitivo, mesmo para aqueles que nunca tiveram contato com a tecnologia. “Gostei muito de mexer num tablet. Já aprendi como faz”, diz a tímida Juliana, 8 anos, enquanto enfeita a roupa e o cabelo de uma bonequinha digital. Já Rodrigo, 7 anos, garantiu que vai ensinar os amigos a jogar caça-palavras, como faz em casa. “Ainda bem que agora vou jogar na escola também”, comemora.
Impressionada com o engajamento das crianças, a professora Juciléia Correia não vê a hora de começar os cursos de capacitação para trabalhar os conteúdos pedagógicos com as novas ferramentas digitais. “Fico muito feliz com a possibilidade de dar uma mesma atividade para a turma com diferentes níveis de dificuldade. É uma ótima maneira de equilibrar o aprendizado de todos”, avalia.
Localizada em Viamão (RS), a escola é uma das 56 EMEFs do município que receberam as maletas com os kits tecnológicas do projeto Aula Digital, uma iniciativa global trazida pelo Brasil pela Fundação Telefônica Vivo para proporcionar uma educação mais inovadora, dinâmica e significativa a milhares de estudantes. Realizada em parceria com a Secretaria de Educação de Viamão, a iniciativa beneficia 15 mil estudantes e 560 educadores em toda a rede.
Na EMEF Presidente João Goulart, os kits tecnológicos vão ajudar a escola a melhorar a aprendizagem de seus quase 300 alunos – alguns em situação de extrema carência –, trazendo inclusão digital, além de fortalecer o trabalho socioemocional que já é foco da instituição, como relata a diretora Patrícia Silva da Silva no vídeo abaixo:
E o mundo se expande
Os kits tecnológicos, que passarão a fazer parte de cada uma das escolas municipais, foram entregues na manhã do dia 24 de abril, em evento para mais de 200 gestores e educadores, na Tecnopuc Viamão.
Os presentes reafirmaram o compromisso de participação no Aula Digital. O projeto proporciona formação continuada a educadores, acompanhamento nas escolas e a cocriação de conteúdos digitais e interativos para serem trabalhados em sala.
O evento também contou com a presença de representantes da Fundação Telefônica Vivo, além do prefeito de Viamão (RS), André Nunes Pacheco, e do secretário de educação Carlos Bennech, que chamou a atenção para o impacto do programa.
“Começamos um trabalho de mudança em 2013, com a EMEF Zeferino Lopes de Castro, que hoje é referência nacional, pensando na criança como protagonista. É justo que uma criança chegue ao 6º ano sem saber ler e escrever? Claro que não! Como mudamos isso? Abrindo nossas mentes para acreditar que é possível lutar por um mundo melhor a partir do nosso trabalho”, declarou à plateia, arrancando aplausos encorajadores.
Aula Digital em 2019:
- 5 territórios atendidos: Manaus (AM), Sergipe (SE), Viamão (RS), Goiânia (GO) e Vitória de Santo Antão (PE)
- 1.000 escolas municipais e estaduais recebem o projeto;
- 190 mil estudantes atendidos;
- 7 mil educadores envolvidos;
Para o secretário de educação, o Aula Digital vai potencializar a aprendizagem e garantir a inclusão digital. “80% das crianças que estão em escolas públicas não têm acesso às ferramentas digitais, mas essa inclusão é essencial porque traz autoestima e empoderamento através do conhecimento”, disse Carlos Bennech.
Presente no evento e gestora há 27 anos da EMEF Coracy Prates da Veiga, Simone Geraldo está animada com o programa. “É uma grande oportunidade, especialmente para os meus alunos que são de uma escola rural e têm pouquíssimo contato com a vida urbana. As maletas, os tablets e a tecnologia vão ampliar o mundo para eles”.
Novos materiais, novas oportunidades
Trabalhar com inovação educativa, seja com ou sem tecnologia, traz uma série de desafios, mas também oportunidades aos educadores. Uma delas é poder conciliar o currículo pedagógico com aulas, formatos e práticas diferenciadas.
“A gente sempre quebrou a cabeça para entender a melhor maneira de fazer isso. O que tem nos ajudado é partir dos conceitos de aprendizagem e, então, inserir no currículo”, descreve Max Ribeiro, coordenador pedagógico da EMEF Zeferino Lopes de Castro, referência em Viamão (RS) e, desde 2013, integrante de outro programa da Fundação Telefônica Vivo, o Inova Escola.
O comentário ganha a chancela da professora Beatriz Corso Magdalena, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que palestrou sobre Inovação e Gestão: uma relação imprescindível na escola: “Não adianta mais a gente ficar preocupado com os conteúdos estanques de livros do século XIX. Temos que trabalhar conceitos, competências e valores. É mais importante que os alunos entendam os fenômenos da natureza e a importância da Amazônia, por exemplo, do que diferenciar angiosperma e gimnosperma”.
E complementou: “A educação é feita de “e”, não de “ou”. Não é porque agora eu tenho um recurso tecnológico que vou deixar de dar uma boa aula expositiva sobre um assunto que eu achar pertinente. Nós vamos trazendo as ferramentas para agregar, não substituir”, incentivou Beatriz.
É justamente por acreditar nessa integração que Eduardo Cruz, diretor da EMEF Jerônimo Porto, também da zona rural de Viamão (RS), se diz empolgado com a chegada das maletas em sua escola.
“Elas vão acrescentar, porque vamos usar em nossos projetos com foco na alfabetização, matemática e, principalmente, no trabalho com robótica. Nós fazemos muita coisa com sucata, off-line, agora vamos ter a possibilidade de partir para o digital”, celebra o gestor.