No Dia Mundial do Braille destacamos locais que valorizam a inclusão ao traduzir linguagens visuais por meio de recursos táteis
O Dia Mundial do Braille é celebrado no dia 4 de janeiro em homenagem ao nascimento de Louis Braille (1809 – 1852), criador do método de escrita e leitura em relevo para deficientes visuais batizado com seu sobrenome. Cego desde os três anos de idade após um acidente na oficina do pai, o francês criou o código braille ao aperfeiçoar o sistema de leitura no escuro para uso militar, desenvolvido pelo capitão reformado Charles Barbier de la Serre.
Como funciona o sistema braille?
Dos 12 aos 15 anos de idade, Louis Braille simplificou e aperfeiçoou o complicado método de la Serre, chegando muito próximo à estrutura do código usada até hoje mundialmente.
Cada célula braille é composta por seis pontos dispostos em duas colunas paralelas de três pontos cada, numerados de 1 a 6. Dando-se relevo a eles, é possível formar 63 combinações diferentes, com as quais se representam letras, números, sinais de pontuação, notas musicais e símbolos científicos.
Você pode conhecer mais detalhes acessando o Braille Virtual, site feito pela USP para difundir a comunicação com os deficientes visuais por meio da escrita.
Ainda que os avanços tecnológicos permitam cada vez mais acesso a recursos como descrição por áudio, a difusão do braille revolucionou a vida de quem não enxerga, pois abriu caminho para a inclusão e a compreensão do mundo. Segundo a Fundação Dorina Nowill, referência há mais de 70 anos na luta pelos direitos dos deficientes visuais, é por meio da representação tátil que os cegos compreendem símbolos de disciplinas como matemática, física, química, além de ter um entendimento mais completo de ilustrações, gráficos e mapas.
Fundamental para a alfabetização, o braille e outras representações táteis também são ferramentas importantes para que pessoas com deficiência visual possam acessar linguagens como a arte. E é nesse contexto que os museus tornam-se espaços educativos essenciais.
Museóloga e sócia da Museus Acessíveis, Carla Agrião chama a atenção para o fato de 25% da população brasileira ter algum tipo de deficiência, o que só comprova a necessidade crescente por espaços inclusivos. “Os museus, como espaços sociais, precisam atender à demanda. Só assim serão de fato necessários. Para quê serão mantidos espaços arcaicos e antigos? É preciso ter consultores com deficiência, que avaliem os recursos, para termos um mundo mais humano e inclusivo”, afirma.
Criada em 2012, a Museus Acessíveis trabalha em um viés de 360 graus, prestando consultoria a museus e pensando a acessibilidade não apenas física, mas também comunicacional, de avaliação metodológica e de transporte. A ideia é criar maneiras de tornar as exposições acessíveis sem necessariamente fazer grandes investimentos.
“A gente também entende a realidade da instituição. Podemos propor várias ideias, mas temos essa mediação para pensar o que é possível naquele momento. Algo que caiba no orçamento, na realidade do museu”, explica Carla.
Com ajuda da Museus Acessíveis, elaboramos uma lista de exposições temporárias e iniciativas permanentes que utilizam recursos táteis para traduzir elementos visuais. Confira!
Cidade (In)acessível – Museu da Imagem e do Som
Parte de um projeto de extensão universitária do Centro Universitário Senac, a exposição fotográfica Cidade (In)acessível reúne obras de alunos com deficiência visual. As imagens foram produzidas seguindo uma metodologia que explora os outros sentidos de quem não enxerga: fala, audição, tato e olfato, unindo-os ao direcionamento de alunos videntes. Desde 2008, já participaram 80 alunos e esta edição destaca o trabalho de 10 deles.
A mostra tem fotografias em 3D, legendas para quem tem baixa visão e textos em braille para a tradução das imagens. O professor do bacharelado em fotografia do Centro Universitário Senac Santo Amaro e idealizador do projeto, João Kulcsár, explica a importância do evento. “Explora o papel que a fotografia pode desempenhar nas áreas de educação e inclusão social, além de reforçar uma metodologia educacional diferenciada”.
Nome da exposição: Cidade (in)acessível
Data: de 14 de dezembro de 2018 a 13 de janeiro de 2019
Horário: Terça a sábado – 10h às 20h; Domingos e feriados – 09h às 18h.
Local: Foyer Térreo do Museu da Imagem e do Som
(Avenida Europa, 158 – Jardim Europa – São Paulo).
Entrada: Gratuita
Imagens Impressas – Itaú Cultural
A exposição Imagens Impressas: um Percurso Histórico pelas Gravuras da Coleção Itaú Cultural já passou por Santos, Curitiba, Fortaleza, Rio de Janeiro, Ribeirão Preto, Brasília e Santa Catarina. Traz gravuras do século XV ao XX de expoentes como Francisco de Goya, Edvard Munch e Pablo Picasso.
Para cada século retratado há uma adaptação tátil de uma das obras: audiodescrição, matrizes de gravuras e instrumentos para toque, impressão de textos em dupla leitura: português ampliado e braille, além de ter o percurso expositivo sinalizado por piso tátil. Há ainda, vídeo em Libras com legenda para a visita.
Nome da exposição: Imagens Impressas: um Percurso Histórico pelas Gravuras da Coleção Itaú Cultural
Data: de 29 de novembro de 2018 a 17 de fevereiro de 2019
Horário: Terça a Sexta, das 9h às 20h [permanência até as 20h30].
Sábado, domingo e feriados, das 11h às 20h.
Local: Itaú Cultural
(Piso 1 – Avenida Paulista, 149 – Bela Vista – São Paulo).
Entrada: Gratuita
Direitos da Pessoa com Deficiência – Memorial da Inclusão
O Memoria da Inclusão inaugurou a exposição Direitos humanos para quê? durante a Virada Inclusiva, em dezembro. A exposição reflete sobre as conquistas e mudanças que ainda precisam ser realizadas para uma inclusão plena de pessoas com deficiência.
Conta com painéis interativos que trazem conteúdo acessível sobre os direitos básicos, de moradia, justiça, trabalho, participação, saúde, equidade, educação, cultura e segurança, a partir de jogos infantis adaptados para o acesso de todos.
Nome da exposição: Direitos humanos para quê?
Data: de 13 de dezembro de 2018 a 31 de janeiro de 2019
Horário: Segunda a Sexta, das 10h às 18h.
Sábados das 13h às 17h (exceto feriados e pontos facultativos).
Local: Memorial da Inclusão – na sede da Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência
(Avenida Auro Soares de Moura Andrade, 564, Portão 10 – Barra Funda – São Paulo).
Informações: (11) 5212-3727
Entrada: Gratuita
Centro de Memória Dorina Nowill
Fundado em 2002 é o primeiro museu brasileiro a considerar a cultura da deficiência visual como patrimônio histórico. O Centro de Memória Dorina Nowill organiza e dissemina informações preservando a história da luta das pessoas com deficiência visual no mundo.
O acervo conta com exposição em formato acessível e é composto por objetos como máquinas braille, regletes e sorobans, além de recursos textuais, iconográficos (fotografias); audiovisual (reportagens) e depoimentos orais. Também tem esculturas e objetos disponíveis ao toque.
Nome da exposição: Acervo permanente
Local: Centro de Memória Dorina Nowill
(Rua Doutor Diogo de Faria, 558 – Vila Clementina – São Paulo).
Informações: (11) 5087-0955 ou centrodememoria@fundacaodorina.org.br
Biblioteca Pública Municipal Louis Braille
Idealizada por Dorina Nowill, a Biblioteca Pública Municipal Louis Braille completou 70 anos e é abrigada no Centro Cultural São Paulo. Planejada e equipada para atender pessoas com deficiência visual, conta com 5.000 títulos, entre livros em braille e audiolivros, além de computadores e scanners com programas específicos para acessibilidade.
É possível fazer empréstimos se inscrevendo na biblioteca pessoalmente ou por meio dos Correios, que envia o material solicitado para qualquer cidade do Brasil. A solicitação deve ser feita por telefone ou e-mail.
Nome: Biblioteca Pública Municipal Louis Braille
Horário: Terça a sexta, das 10h às 19h. Sábados, das 10h às 18h.
Fechada aos domingos, feriados e pontos facultativos. A entrada é permitida até 30 minutos antes do fechamento.
Local: Centro Cultural São Paulo
(Rua Vergueiro, 1.000 – Paraíso – São Paulo).
Informações: (11) 3397-4088 ou bibliotecabraille@prefeitura.sp.gov.br
Além da capital paulistana
Os recursos de acessibilidade ainda estão concentrados em museus de capitais no Brasil, especialmente na região Sudeste. Mas aos poucos, chegam a instituições do interior do país.
O Museu Indígena India Vanuire, da cidade de Tupã-SP, por exemplo, tem maquetes táteis, réplicas de objetos, reproduções de mapas e fotos em relevo, aplicativos multimídia para vídeos com audiodescrição e janela de Libras.
Engrossam essa lista o Museu Cândido Portinari, em Brodowski-SP, além do Museu Histórico e do Museu de Sorocaba de Arte Contemporânea, localizados na cidade de Sorocaba-SP.
Fora de São Paulo, são boas opções o Espaço Cultural Contemporâneo, de Brasília-DF, e o Museu de Ciências Morfológicas da Universidade de Minas Gerais, em Belo Horizonte-MG.