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Especialistas renomados em educação e tecnologia compartilharam experiências e impressões sobre o assunto no evento dos 25 anos da Fundação Telefônica Vivo - Transformação digital na educação: desafios e tendências

A inteligência artificial é aliada educação, dizem especialistas
Christian Gebara, CEO da Vivo e Presidente do Conselho da Fundação Telefônica Vivo, fazendo a abertura do evento

A Inteligência Artificial permeou as discussões de duas mesas no evento que comemorou os 25 anos da Fundação Telefônica Vivo, em 1 outubro, em São Paulo: “Como repensar a educação básica na era digital” e “Inteligência Artificial na sala de aula: o que muda na profissão professor”. Especialistas e educadores veem a inteligência artificial como aliada da educação. O consenso foi claro: a IA não é um obstáculo e já é essencial na busca por soluções inovadoras para a educação.

Os especialistas também abordaram outros temas importantes e que são urgentes na educação, como formação de professores, defasagem dos currículos, e a falta de infraestrutura adequada nas escolas.

Como repensar a educação básica na era digital?

A primeira mesa, chamada “Como repensar a educação básica na era digital”, contou com a mediação de Renato Gasparetto, vice-presidente de Relações Institucionais e Sustentabilidade da Vivo.

Renato Gasparetto, Priscila Cruz, Frederico Amancio (no telão e Ivan Siqueira

Gasparetto conduziu as perguntas aos convidados Frederico Amancio, Secretário de Educação de Recife (PE), Ivan Siqueira, professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), pesquisador nos temas de educação, inteligência artificial e políticas públicas, além de relator no Conselho Nacional de Educação (CNE) sobre a BNCC Computação, e Priscila Cruz, presidente e cofundadora do Todos pela Educação. Os participantes concordaram que não existe soluções simples e que a IA não é a “bala de prata” que irá solucionar os desafios da educação pública, mas é uma ferramenta que deve ser adotada por gestores, professores e estudantes.

Priscila Cruz destacou que a IA tem de fazer parte de “uma visão sistêmica” capaz de diagnosticar e ajudar a solucionar problemas, inclusive em sala de aula. “A Inteligência Artificial pode ser um grande drive para novos conhecimentos, novas brincadeiras na primeira infância, mas ainda precisamos desenvolver isso adequadamente”. Ela também explica que “a Inteligência Artificial vai ser aquele amigo inteligente que o estudante pode consultar, mas que não está sempre certo, e ele pode discordar, inclusive”

Falando da sua experiência como professor, Siqueira mencionou que a qualidade acadêmica de seus estudantes melhorou cerca de 70% depois que aprenderam a usar as ferramentas de IA. “Se colocarmos um fragmento de texto e fizermos um prompt razoável, a IA vai dizer o que falta no trabalho, mesmo com todas as limitações que o modelo atual da inteligência generativa tem”, afirmou.

Apesar dos benefícios observados em alguns usos didáticos, um dos principais obstáculos para a IA é a falta de infraestrutura em muitas escolas públicas brasileiras.

Com larga experiência no setor público, Frederico Amancio disse que só a infraestrutura não basta, que é preciso investir na qualificação dos docentes. Para ele, “é importante aprender sobre e com tecnologia”, indicando que o letramento digital dos professores para a prática pedagógica é essencial para que os benefícios da IA impactem os estudantes de forma eficaz e responsável. Pegando o gancho da importância dos docentes, Priscila Cruz, brincou que já cogitou mudar o nome da organização que preside para “todos pelo professor”. Segundo ela, “não conseguimos que o professor seja a grande obsessão do país”, e essa desvalorização da carreira é um empecilho a ser superado.

Inteligência Artificial na sala de aula: o que muda na profissão professor?

O uso das IA mediado por professores em sala de aula foi o tema central da segunda mesa: “Inteligência Artificial na sala de aula: o que muda na profissão professor”. As discussões foram conduzidas por Lia Glaz, diretora-presidente da Fundação Telefônica Vivo, que dividiu o palco com Barbara Born, diretora do Instituto Singularidades, Seiji Isotani, professor de Ciência da Computação na USP, e Lourdes Pereira, professora de Matemática da rede estadual de São Paulo e mestre em educação matemática.

Lia Glaz, Barbara Born, Seiji Isotani e Lourdes Pereira

Bárbara Born destacou que o atraso na adoção de tecnologias na educação brasileira traz, ao menos, um aspecto favorável: “Uma coisa positiva nesse cenário é que ele nos força a reavaliar um currículo que já apresentava carências”, afirmou, ressaltando a urgência de uma reforma curricular que integre aspectos mais atuais.

Para ela, a tecnologia e a IA são ferramentas poderosas que podem potencializar a aprendizagem, permitindo que os estudantes expressem seu melhor para a sala de aula e que os professores gerenciem seu tempo de forma mais eficaz, atendendo às diferenças.

A professora Lourdes Pereira também ressaltou a importância e urgência em discutir o tema “A IA está aí, na nossa porta, mas também não podemos acreditar que essa transição vai acontecer de uma hora para outra. Nós temos que olhar todos os aspectos, e programar uma transição de onde estamos para podermos chegar em algum lugar, com objetivos factíveis, de curto, médio e longo prazo, para não nos perdermos nas transições que vamos viver daqui para a frente”.

Segundo ela, o bom uso de ferramentas tecnológicas e IA auxiliam na montagem de planos de aulas interdisciplinares e colaborativos. Além disso, a IA pode ajudar na personalização do ensino, oferecendo conteúdos específicos para cada estudante, conforme suas necessidades. “Temos uma diversidade enorme de crianças e não podemos nos esquecer dos conhecimentos prévios que elas possuem” — disse.  “Para a aprendizagem fazer sentido, é preciso conectar o que aluno já sabe com o que ele precisa melhorar”, completou.

O professor e pesquisador Seiji Isotani mencionou que voltou há pouco da Coreia do Sul e ficou impressionado com o avanço da incorporação de tecnologias nas escolas de lá. Embora existam diferenças culturais, sociais e econômicas, ele crê que o Brasil pode aprender com experiências bem-sucedidas em outros países. “O Brasil tem um potencial gigantesco de desenvolver tecnologias. A gente consegue não só resolver o problema [de tecnologia] do país, mas o problema do Sul Global, que são mais de 70% da população mundial. Se a gente resolve o nosso problema, está resolvendo o problema de muitas pessoas”.

Em sua busca por transformar a educação, ele e sua equipe na Universidade de São Paulo apresentaram uma proposta que promete mudar o jogo nas salas de aula: ferramentas tecnológicas que funcionam off-line, que ele chama de “inteligência artificial desplugada”. Essa abordagem nasceu do cruzamento de dados do IBGE e do Censo Escolar, revelando que mais de 90% das escolas em áreas carentes têm pelo menos um aluno com um bom celular em sala de aula, e muitas delas também possuem acesso à internet nas proximidades.

“Uma das soluções que pensamos foi sobre como ajudar o professor na correção de textos e redações”, disse. “Uma foto do texto com o celular é mandada para a mágica da Inteligência Artificial, que retorna com um relatório para o professor”. Com esse material em mãos, o professor pode ajudar cada aluno em suas carências específicas, dinamizando e personalizando o processo de ensino e aprendizagem. “É uma tecnologia que funciona para aquele lugar carente, para solucionar algum desafio que o professor tem”.

Na era digital, a Inteligência Artificial surge como aliada de estudantes e professores
Na era digital, a Inteligência Artificial surge como aliada de estudantes e professores