Plataformas permitem a professores e gestores entenderem as dificuldades dos alunos, das turmas e até da rede inteira
Quando você usa sua voz para buscar um endereço no Google Maps, está usando inteligência artificial (IA). Quando configura seu WhatsApp Business ou interage com um chat automático, a inteligência artificial também está presente. A medicina utiliza IA para monitorar pacientes. O judiciário já define muitas sentenças a partir de decisões de softwares. E quando o Facebook entende o que você gosta e faz ofertas personalizadas, isso também é inteligência artificial. A capacidade de processar dados e aprender com esses dados também já começa a ser usada para apoiar a educação.
A inteligência artificial na educação
Um bom exemplo da inteligência artificial na sala de aula é o uso de plataformas digitais que ajudam os professores de redação a acompanharem a evolução de seus alunos.
Ferramentas digitais como o Cira (Corretor Inteligente de Redações Automático) e a Letrus, entre outras, são capazes de identificar as falhas e acertos dos textos dos alunos e apresentá-las para a análise do professor. Além disso, essas informações podem ser de cada aluno individualmente ou de toda a turma. Assim, o educador pode dar atenção especial para um aluno com uma dificuldade específica, ou entender quais as fragilidades comuns à turma toda.
Como um sistema de inteligência artificial é construído
Luís Junqueira, cofundador da Letrus, explica que a plataforma nasceu de uma necessidade percebida em sala de aula. “Além de empreendedor, sou professor de língua portuguesa. Imagina o professor que vai fazer uma atividade de escrita com seus alunos. Um conto livre, por exemplo. Daí você aplica esse trabalho em todas as suas turmas, uns 150 alunos. Então essas obras de 150 autores voltam literalmente pra sua casa no final de semana. É um trabalho muito pesado.”
Ele também explica que utilizou milhares de redações de alunos do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e identificados padrões para desenvolver a Letrus. Então, a partir deles, um modelo pedagógico com capacidade de reconhecimento de ortografias e pontuação, mas também de tom, de formalidade e de adequação ao tema. Além disso, a plataforma consegue reconhecer o repertório lexical dos alunos. Todas essas informações chegam ao professor quase ao mesmo tempo em que os estudantes escrevem seus textos.
A inteligência artificial pode qualificar o trabalho do professor
Alfredo Carvalho Sampaio é professor de língua portuguesa na rede estadual de Educação do Espírito Santo. Ele também diz que é muito cansativo para o professor avaliar de forma adequada 100 ou até 200 redações. “Avaliamos as primeiras com muita atenção, mas a fadiga dificulta este mesmo cuidado com as últimas”, diz. Ele explica que, ao usar IA, o professor libera tempo para identificar as dificuldades individuais e coletivas, e assim dedicar-se a essas dificuldades. Para ele, isso qualifica o trabalho do educador ao reduzir a parte exaustiva e valorizar a parte criativa do processo.
A inteligência artificial na educação é sempre sistêmica
No Espírito Santo, a Letrus é utilizada em 283 escolas e por 470 professores. Sampaio também é coordenador das atividades com a plataforma na rede estadual. Nesta posição, ele afirma que a inteligência artificial também permite aos gestores acompanharem o processo de perto. Isso acontece porque eles têm acesso aos dados de evolução de todos os alunos da rede, uma base sólida para tomar decisões.
Ao mesmo tempo, a Unesco tem dedicado muita atenção ao avanço da inteligência artificial na educação. Parte dessa preocupação está em fazer os gestores de políticas públicas entenderem que a aplicação da IA é sempre sistêmica. Portanto, o uso de IA para ajudar o professor de redação vai muito além da sala de aula. Pois assim dados que podem ser usados por diversos atores e em diferentes tomadas de decisão são extraídos.