A Jornada de Aprendizagem da Heroína é um modelo de narrativas que estimula mulheres e meninas nas áreas de Ciência e Tecnologia. Saiba mais!
O que a Mulher Maravilha e Ada Lovelace têm em comum? Embora a primeira seja uma personagem fictícia e a segunda uma figura histórica, ambas superaram uma longa jornada de desafios antes de alcançarem seus objetivos. Sob o mesmo ponto de vista, a iniciativa Jornada de Aprendizagem da Heroína (Heroic’s Learning Journey) busca aplicar a estrutura narrativa da Jornada do Herói para incentivar meninas e mulheres, de 15 a 20 anos, a seguirem nas áreas STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática).
“Criamos um modelo pedagógico que pode ser adaptado para qualquer curso STEM”, explica Luis Felipe Costa, pesquisador do Instituto Alberto Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ).
A ideia surgiu a partir do doutorado do pesquisador, sob orientação da professora Ana Moura Santos, do Instituto Superior Técnico (IST) de Lisboa.
“Antes de mais nada, o objetivo era estudar as narrativas heróicas para aplicá-las na Engenharia da Computação. Conforme as pesquisas foram avançando, a professora Ana Moura me desafiou a relacioná-las com a trajetória de acesso e permanência das mulheres nas áreas de Ciência e Tecnologia”, conta Luís.
Posteriormente, as pesquisas passaram a integrar a iniciativa europeia FOSTWOM – Conectando Mulheres e STEM.
No que consiste a Jornada de Aprendizagem da Heroína?
Após cinco anos de estudos, em 2021, pesquisadores do Laboratório de Ludologia, Engenharia e Simulação (Ludes) e do Laboratório do Futuro da UFRJ, em parceria com o IST de Lisboa, lançaram uma plataforma digital disponibilizando a estrutura da Jornada de Aprendizagem da Heroína.
Para montá-la, a equipe levou em consideração metodologias educacionais e motivacionais, como autorregulagem da aprendizagem, sala de aula invertida, teoria de metas e autodeterminação.
“Cada um dos 12 estágios da jornada funcionam como uma narrativa de identificação que impulsiona as jovens ao longo do percurso formativo. Ou seja, qualquer curso técnico STEM pode se encaixar dentro da Jornada de Aprendizagem da Heroína”, explica Luís Felipe Costa.
Por exemplo, a etapa “Enfrentando a Tempestade” é sobre o desafio de ter que lidar com conceitos estatísticos e matemáticos até então desconhecidos. Assim sendo, as jovens recebem um chamado para enfrentar a narrativa que construíram sobre suas próprias habilidades.
“Uma vez superado o desafio épico, a próxima etapa se dedica a apresentar trajetórias de mulheres do passado e do presente que também enfrentaram obstáculos ao longo do caminho.”, exemplifica Luís.
Jornada de Aprendizagem da Heroína: como acessar o conteúdo pedagógico?
O primeiro curso aplicado na estrutura da jornada é sobre Machine Learning, Matemática e Ética. Ele está disponível gratuitamente na plataforma pela Universidade de Lisboa, que fez a integração tecnológica com a plataforma digital do projeto. Qualquer pessoa pode participar do curso e não é preciso ter experiência anterior em programação.
Entretanto, outras instituições ou educadores também podem incluir recursos pedagógicos em um dos estágios da jornada. Para isso, é preciso ter conhecimento prévio em informática. Porque a inclusão é feita através de um código aberto disponibilizado pelos pesquisadores. Após adicionar os conteúdos, a própria plataforma gera um PDF com a estrutura integrada da formação.
“Ainda que o código da plataforma esteja disponível para qualquer instituição, esse processo exige algum conhecimento técnico em tecnologia. Por isso, estamos pensando em uma capacitação para os interessados em desenhar a experiência por conta própria”, conta Luís Felipe.
Contudo, o trabalho dos pesquisadores ainda é voluntário. Sendo assim, a equipe está em busca de parcerias para rentabilizar e escalar a proposta formativa baseada em narrativas heróicas.
“A Jornada de Aprendizagem da Heroína é apenas o primeiro recorte de muitos modelos pedagógicos que pretendemos disponibilizar. Mas foi importante começar por ela, sobretudo para romper o estereótipo que nos impede de diversificar soluções”, conclui o pesquisador.
Inspiração com heroínas reais
Segundo a estudante de Ciência da Computação, Larissa Galeno, a falta de referências femininas nas áreas STEM é uma das principais dificuldades para que uma nova geração de mulheres ingresse no mercado de trabalho.
A jovem de 24 anos sempre soube que queria trabalhar com tecnologia, apesar das estatísticas. Embora fosse “ruim em matemática”, Larissa era fascinada pelos jogos de videogame e estava determinada a entender mais sobre como eles são desenvolvidos.
Em 2018, Larissa decidiu mobilizar outras estudantes do curso na Universidade Federal do Rio de Janeiro para criar o projeto Minerv@s Digitais. A ideia é organizar eventos e propostas educativas para incentivar meninas e mulheres na área de Tecnologia.
Por estar alinhada com o propósito da Jornada de Aprendizagem da Heroína, a estudante foi convidada pelo professor Luís Felipe Costa para integrar a equipe consultiva da iniciativa internacional.
“Meu papel é integrar essa rede de apoio como tutora, oferecendo suporte técnico. Além disso, representarei uma aliada nessa curva de aprendizagem. A jornada existe justamente para reforçar que existem outras mulheres passando pelo mesmo processo. Não estamos sozinhas”, conclui Larissa.
Conheça a 42 São Paulo!
Assim como a Jornada de Aprendizagem da Heroína, a 42 São Paulo aposta em um modelo disruptivo que apoia mulheres na área de tecnologia. Além disso, a formação é gratuita e já é aplicada em mais de 20 países.
Mantida com a ajuda de empresas parceiras como a Fundação Telefônica Vivo — a primeira a investir na metodologia francesa —, a iniciativa foca em colocar códigos para trabalhar a favor da colaboração e da diversidade. Saiba mais sobre como funciona a 42 na prática!