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Juliana Muller criou os projetos “Além dos Muros”, que engaja estudantes em ações de cidadania, e o "HISTORIAR-TE!", que produz vídeos educacionais de História.

#Educação#Estudantes

Aos 19 anos, Juliana Pinho Muller questiona o modelo de educação tradicional. Para ela, as escolas não incentivam o pensamento crítico e o protagonismo jovem, e, consequentemente, eles não se veem em posição de propor soluções para os problemas globais. “O sistema de ensino não reconhece habilidades e talentos individuais ao comparar os alunos com os mesmos exemplos e critérios a partir de testes padronizados”, provoca.

Nascida em Cabo Frio, no Rio de Janeiro, a jovem mora, desde 2014 em Macaé, no mesmo estado. Ela fez uma parte do Ensino Médio em um internato internacional de Tel-Aviv, em Israel, onde ganhou uma bolsa de estudos.

Ao lado das amigas, criou o projeto “Além dos Muros”, que engaja estudantes em ações de cidadania. Depois, tirou do papel o HISTORIAR-TE!, iniciativa em que produz vídeos educacionais de história. Recentemente, foi considerada uma #JovemTransformadora da rede Ashoka, organização que identifica adolescentes entre 13 e 20 anos que lideram causas, projetos e ações de impacto social positivo no Brasil.

O estudo de História na escola, quando era mais nova, possibilitou a Juliana compreender questões sociais e econômicas do Brasil: a origem das desigualdades, o racismo estrutural e as oligarquias políticas. Ela passou a entender seus privilégios, inclusive comparados aos membros de sua família, que não tiveram o mesmo acesso à educação que ela. “A desigualdade entre o ensino público e o particular sempre me incomodou” desabafa.

O descontentamento foi motivador para a fluminense buscar alternativas e dividir seus interesses e conhecimentos com outros jovens, com o desejo que o aprendizado fosse acessível a todos.

 

Além dos Muros da escola 

“O Além dos Muros é meu xodó!”, brinca Juliana. Tudo começou no final de 2017, quando ela e mais cinco amigas se reuniram para discutir como levar a educação para fora das salas de aula. “Esse é um projeto social realizado totalmente por jovens, com objetivo de fazer os participantes saírem de suas bolhas sociais e conhecerem outras realidades, que, apesar de tão próximas, são tão excluídas na nossa sociedade atual, sendo alvos de ódio e desinformação popular”, explica.

Uma das primeiras ações das estudantes foi ouvir histórias dos moradores em situação de rua. “Lembro que uma moça chegou a se emocionar quando sentamos na calçada, ao seu lado, onde vendia balinhas”, conta. Ela se sentia invisível e isso trouxe grande aprendizado às garotas: a importância de dar visibilidade e condições dignas a mulheres em situações parecidas.

As meninas visitaram instituições sociais de Macaé e organizaram coletas de doação, promoveram palestras, debates e encontros. Falaram sobre a integração de moradores de rua, inclusão de Pessoas com Deficiência, igualdade de gênero, preservação do meio ambiente, combate ao racismo e à homofobia. “Queríamos incentivar a empatia e o respeito no meio da polaridade e intolerância que vive o Brasil. Para isso, precisamos antes estabelecer um diálogo”, defende.

Com o projeto “Além dos Muros”, Juliana descobriu o poder de transformação do jovem. “Nunca pensei que poderíamos mobilizar tanta gente em prol de tantas causas, de trazer atenção a pautas extremamente importantes e pouco discutidas. Ao final de cada encontro e cada evento, eu ia para casa com o melhor sentimento do mundo: de que estava ajudando a criar um futuro, se não melhor, pelo menos diferente, com uma juventude ativa e consciente!”

Com a pandemia, o projeto ficou parado e está voltando aos poucos este ano com algumas ações, como a parceria na campanha nacional Livres para Menstruar, em que arrecada absorventes para organizações que atendem meninas e mulheres em situação de vulnerabilidade. Os pontos de doações podem ser encontrados neste mapa.

 

Democratizando o conhecimento 

Em 2018, Juliana cruzou o Atlântico e o Mar Mediterrâneo para completar seus estudos em Israel. “Sempre tive o sonho de explorar o mundo, conhecer diferentes culturas e aprender por meio de experiências”, conta.

Foi nesse mesmo ano que nasceu o seu segundo projeto, o HISTORIAR-TE. A secundarista queria democratizar o acesso ao conhecimento de história para explicar eventos mundiais, provocar reflexões e oferecer um material de estudo para vestibulandos. Tudo isso de maneira informal e inclusiva, sem uma linguagem acadêmica que afastasse as pessoas.

“A ideia veio de uma conversa com minha avó. Por muito tempo, ela não teve a oportunidade de estudar. Isso me fez refletir sobre como o ensino ainda é exclusivo, o que aumenta a desigualdade educacional e faz com que cada vez mais jovens desistam dos estudos por sentirem que não se encaixam ou que não são capazes”.

Ela começou a criar uma série de vídeos animados com uma linguagem acessível, com imagens, músicas, mapas mentais e humor. Todos estes artifícios eram utilizados para que o conteúdo também fosse de fácil compreensão a pessoas neurodivergentes, com déficit de atenção ou dislexia, por exemplo.

O HISTORIAR-TE aborda conteúdos pedidos no Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem e oferece aos alunos de Ensino Médio novas formas de estudo. Nesse momento de pandemia. Juliana conta, orgulhosa, que os “Resumos Desenhados”, produzidos por ela, foram utilizados por educadores e alunos de diferentes pontos do Brasil, assim como pelo Centro de Mídias da Educação de São Paulo e canais regionais de televisão.

Cerca de 130 mil estudantes acompanham o canal e as visualizações nos vídeos somam 3 milhões. “O que me traz mais realização é receber comentários de alunos do país inteiro agradecendo o conteúdo e relatando que nunca gostaram de história mas, por causa dos vídeos, estavam mais interessados. Eles foram capazes de aprender melhor, passaram no Enem e estão prestes a realizar um sonho. Saber que eu tenho um impacto mínimo na vida dessas pessoas já retribui todas as horas investidas escrevendo roteiros, narrando, animando e editando cada vídeo”, conta feliz.

Perspectivas futuras 

A jovem terminou o segundo grau e retornou ao Brasil. Está animada por continuar focando em projetos de impacto educacional e otimista para o futuro. Como exemplo, ela compartilha o perfil Acadêmicos e Inspira Sonho, plataformas que divulgam maneiras de se engajar em projetos sociais.

“Se depender desses jovens e das iniciativas maravilhosas que a nossa geração está carregando, o futuro traz muita esperança e eu vejo a transformação chegando cada vez mais perto”, afirma.

Os planos de futuro de Juliana ainda são incertos, mas ela está segura de que suas decisões precisam estar alinhadas ao propósito de “fazer o jovem não desistir dos estudos, reconhecer seu potencial e se apaixonar por aprender.”

Jovem quer democratizar o conhecimento com o ensino de História
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