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Os empreendedores Diego e Diogo, que cresceram na periferia de Guarulhos (SP), tinham o sonho de democratizar o ensino da língua inglesa para outros jovens da quebrada. Foi assim que surgiu o negócio social PLT4Way

#Acredita#Estudantes

Jovens popularizam o ensino do inglês para estudantes das periferias

Nascido em Santo André, no ABC paulista, mas criado na zona periférica de Guarulhos, região metropolitana de São Paulo, Diego Ramos sempre foi ensinado a correr atrás daquilo que desejava. “Eu nunca tive pais que estavam ali com recursos para dar aquilo o que eu queria, na hora que queria. Eu tive uma infância muito conturbada e a única saída que a gente vê para sair daquela realidade é através do conhecimento, do desenvolvimento pessoal”, compartilha ele.

Hoje, Diego tem 27 anos e é um dos cofundadores do negócio social PLT4Way, uma escola de inglês que a cada três alunos pagantes concede bolsa de estudos a estudantes vindos de comunidades periféricas. Através deste financiamento cruzado, a escola já apoiou mais de 100 jovens da periferia a se desenvolverem na língua.

O sócio de Diego é Diogo Bezerra, de 28 anos. Também de Guarulhos, além de CEO da PLT4Way, ele é fundador da escola de programação +1Code e membro do programa da Embaixada dos Estados Unidos “Young Leaders of America Iniciative 2020”.

Desde pequeno, o desejo de empreender fez parte da trajetória de Diogo. “Quando os meus amigos e familiares perguntavam o que eu queria ser quando crescer, eu sempre respondia que queria ser empresário”, lembra. Diego, compartilhava do mesmo sonho. Ao ver a sua família empreendendo, seu pai como pintor e sua mãe trancista, imaginava ter o próprio negócio. “Queria ter algo físico, bem estruturado, daqueles que eu via na TV”, conta.

Os dois jovens cresceram sem ter acesso a cursos de línguas estrangeiras por serem caros e inacessíveis. No entanto, ao exercerem um trabalho voluntário da igreja que frequentavam os dois tiveram contato com o inglês. Eles tinham 18 anos e moravam com estudantes de diversas partes do mundo. Na convivência do dia a dia, acabaram desenvolvendo fluência na língua. “Um aprendeu Inglês na Bahia e o outro em Portugal, parece até mentira, né?”, brinca Diogo.

Com o fim desta experiência, e Diogo já de volta ao Brasil, eles começaram a ter acesso a diversas oportunidades de emprego, inclusive em empresas multinacionais, por conta da fluência em língua inglesa. “Eu consegui um emprego que me pagava o triplo do que eu ganhava antes de ter ido”, conta Diogo. “Consegui construir uma casa para minha mãe dentro da favela, e fiz uma viagem internacional por conta própria para a Inglaterra”, comemora.

Esta realidade abriu os olhos de Diego para o quanto o aprendizado da língua proporcionou transformação social na vida deles. “Me deu um estalo de proporcionar esta mesma oportunidade para jovens, principalmente aqueles de onde eu tinha vindo e que não teriam a mesma oportunidade que eu”, afirma. Deste desejo surgiu a empresa PLT4Way.

Os dois sócios participaram do Pense Grande Incubação, iniciativa da Fundação Telefônica Vivo que apoiou jovens de periferia a transformarem suas ideias em negócios sociais. Esta experiência permitiu a eles modelar sua proposta de negócio.

“Duas coisas essenciais para fazer o projeto foi a vontade de ajudar o próximo, combinado ao conhecimento. Juntando a vontade e os aprendizados não tinha como não sair do papel”, afirma Diego.

 

Qual é a importância das juventudes terem domínio de outros idiomas? 

DIOGO: Hoje nós vivemos em um mundo global, por isso não tem como você ter uma ascensão se não souber falar inglês. Se a pessoa não souber se conectar com o mundo, ela vai perder diversas oportunidades, sejam elas educacionais ou profissionais. É super importante desenvolver uma nova língua.

Diego Ramos
Diego Ramos

DIEGO: O aprendizado de um novo idioma expande os seus horizontes, ele abre a sua mente para que você tenha acesso a mais conteúdos de formação e conhecimento. Essa foi a primeira coisa que eu percebi quando aprendi a falar inglês. Comecei a pesquisar em inglês no Google e encontrei outras fontes de conhecimento. Foi muito legal aprender com outros tipos de recursos que eu não teria contato somente estudando em português.

Acho que o principal impacto que a 4way tem é trazer este conhecimento para a quebrada de uma forma humilde e igualitária. Sem ficarmos em um pedestal e as pessoas acharem que é impossível chegar aonde a gente chegou. Trazemos o conhecimento de uma forma que elas consigam se identificar e queiram transformar o seu futuro.

 

O quanto a educação foi importante na trajetória de vocês para chegarem até aqui?

DIOGO: Eu acredito que não há outro meio de real transformação se não for através da educação. Educação é poder. Eu adoro partilhar conhecimento que trás poder na vida das pessoas: poder de escolha, poder de ser quem você quer ser…

Diogo Bezerra
Diogo Bezerra

DIEGO: A educação fez com que pudéssemos sair da periferia de São Paulo e alcançar o Brasil inteiro com conhecimento e oportunidade. Em 2021, por exemplo, eu fui reconhecido como uma das lideranças negras em um programa da Nubank, onde pude mentorear e ajudar outros jovens. Mas eu ainda quero chegar mais longe! Estou finalizando a minha segunda graduação em Direito e quero criar outros projetos, não só aqueles que tratam sobre idiomas, mas que abordem o desenvolvimento psicológico dos jovens de periferia. Quero fazer com que a periferia seja uma máquina de mentes pensantes, que vão mudar o mundo.

 

Quais conselhos dariam para jovens que estão no Ensino Médio neste momento de pandemia e enfrentam desafios e questionamentos sobre o futuro?

DIOGO: Aproveitem o momento que nós estamos. As pessoas estão mais propícias a terem negócio, e outras estão mais propícias a comprarem mais coisas no mundo digital. Para nós, jovens, é mais natural mexer nas ferramentas tecnológicas e a gente pode sair na frente. Então, se a sua família está passando por dificuldades, você tem a capacidade de gerar renda através de processos tecnológicos simples que nós dominamos.

DIEGO: A primeira coisa é se conhecer. Entender o que você gosta, o que quer para o futuro e o que espera realizar. Se visualize no futuro, como gostaria de estar, e use isto como motivação para abrir as portas do conhecimento. Se você sabe qual a direção que quer ter para a sua vida, vai te ajudar a ter mais clareza nas decisões.

Outra dica que eu dou é que aproveitem todas as oportunidades. Cursinhos, façam provas, teste de vestibulares, ocupem os lugares, principalmente os lugares que vão trazer conhecimento e abrir a mente. Visitem locais importantes da história periférica, da história negra e do povo brasileiro.

 

Para vocês, acreditar em educação é…?

DIOGO: É ter a mente ativa e liberta do controle social sistemático que o mundo impõe.

DIEGO: Desenvolver a crença de que as coisas podem ser melhores. Só a educação abre o caminho para que a gente possa sair de uma situação ruim para outra melhor.  É preciso também entender o conceito de responsabilidade social: querer o bem do próximo, querer o bem de nós mesmo, desenvolver o nosso país, os nossos amigos, a nossa família, as pessoas que estão à nossa volta.

 

Acreditar em si mesmo é…?

DIOGO: É um sinal de resistência àquilo o que possa ter te prejudicado por você ter vindo de uma família ou de um local menos privilegiado.

DIEGO: É libertador. Depois que eu comecei a acreditar nos meus sonhos, na minha capacidade, eu me senti muito mais livre para mostrar quem eu sou de verdade. Me senti mais livre para exercer os cargos e as oportunidades que vieram. Acreditar em si mesmo permitirá que esteja preparado para as oportunidades que aparecerão.

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