Último painel do circuito R.I.A 2016 discute empreendedorismo sobre a perspectiva de ferramentas digitais e da ressignificação do que é sucesso.
Um é renomado cineasta e roteirista. O outro, viajante do mundo que resolveu transformar sua paixão em um negócio rentável. O terceiro, um jovem escritor e diretor de curtas-metragens. O que os três participantes do último painel do Circuito R.I.A 2016 tem em comum? Eles são empreendedores criativos e compartilham um tempo em que as tecnologias e desafios do cenário político e social exigem muito de quem tem uma ideia e um sonho de negócio. Mediados pela diretora-executiva do Social Good Brasil, Carolina de Andrade, os três foram palestrantes do painel Juventude Conectada: Luz, câmera a ação!
Luiz Bolognesi, da Buriti Filmes, foi a mente criativa por trás da série Juventude Conectada, baseada na pesquisa homônima realizada pela Fundação Telefônica Vivo. O cineasta disse que a experiência de filmar oito projetos inovadores desenvolvidos por jovens brasileiros lhe deu a perspectiva de como a juventude atual difere da dele, e como ela usa com potência as tecnologias disponíveis. “Podemos traduzir empreendedorismo como ‘correr atrás’, e o documentário Juventude Conectada mostra que as ferramentas surgidas na era digital podem fazer com que pessoas realizam seus objetivos com mais eficácia”.
Foi navegando não somente nas redes como em sofás e camas de mais de 50 países que Riq Lima percebeu que seu gosto por viagens poderia se tornar um empreendimento rentável e que o fizesse feliz – o que não acontecia na vida como economista. Ele é fundador do WorldPackers, um site que conecta pessoas que queiram viajar com lugares no mundo dispostos a hospeda-las em troca de trabalho. Ainda que pareça o empreendimento dos sonhos, Riq garante que só foi possível com muito trabalho e coragem, mas não necessariamente um capital significativo. “Viajar é a forma mais pura de educação. Você deixa de ser carneiro, trilha caminhos diferentes e escolhe o seu próprio modelo de vida”.
Para Ricardo Terto, os empreendimentos passados e não bem-sucedidos foram insumo para que criasse coragem de escrever e aventurar-se como empreendedor na área de seu interesse: a da linguagem e escrita. Ele usa de uma analogia de videogames, universo que adora, para falar sobre o que o empreendedor de baixa renda têm que enfrentar. “Os donos de fliperama modificam as máquinas para que ela fique no nível mais alto e o jogador tenha que gastar muitas fichas. Quando o cara que não tem renda vai empreender, ele joga contra essa máquina que está programada para ter uma vantagem. E tem uma ficha só”.
Ricardo acredita piamente que o empreendedorismo só é possível quando há empatia, mais no sentido de uma inteligência social do que colocar-se no lugar do outro. “E também uma generosidade consigo próprio, para que o ciclo de empatia se torne completo”, conclui. Enquanto a mediadora falava de começar negócios com profunda empatia, Luiz Bolognesi adicionou que essa deve ser uma empatia ética: os negócios devem vir do desejo genuíno de seus empreendedores, mas desejos que respeitem o outro e sejam construídos na base da dignidade e honestidade.
No aspecto de empreendedorismo como um caminho de protagonismo, os participantes falaram de tecnologias digitais como ferramentas de democratização: o acesso às redes é também o acesso a informações. Quando Luiz citou a movimentação dos estudantes secundaristas e das ocupações nas escolas como exemplo de articulação que nasce do protagonismo digital engajado, os três palestrantes discutiram a necessidade de que as pessoas se tornem responsáveis pela mudança que desejam ver na política e na sociedade, realizando empreendimentos sociais dentro de suas casas, bairros e municípios.
As perguntas dos internautas provocaram os participantes a repensar sobre o que é sucesso à luz de um mundo que tem desafiado cada vez mais os moldes tradicionais de trabalho. Ricardo comenta sobre o sucesso como uma existência plena, não necessariamente uma carreira financeiramente rentável; Riq concordou com seu ponto de vista, adicionando que o sucesso tem a ver com a alegria do realizável, de estar engajado em algo e constantemente se questionando se aquilo é que se quer da vida. O cineasta Luiz arrematou o debate com uma provocação para ressignificação: “O sucesso pode ser uma armadilha, como o fracasso também pode ser uma boa oportunidade de aprendizagem”.