Esse conjunto de práticas desconstrói formas de pensar e agir naturalizadas na relação entre pessoas negras e brancas. Entenda como a escola pode contribuir para uma educação antirracista
![Imagem mostra uma jovem negra fixando em uma parede um cartaz contra o racismo](https://www.fundacaotelefonicavivo.org.br/wp-content/webp-express/webp-images/uploads/2021/11/letramento-racial-1200px.jpg.webp?x68836)
Os códigos de uma língua modificam-se constantemente para atender à necessidade de expressar ideias e sentimentos. Isso faz com que o letramento – o uso competente de leitura e escrita nas práticas sociais – esteja ligado às relações estabelecidas entre os cidadãos que convivem em sociedade. Pensando nesse sentido, o que a linguagem tem a ver com o racismo?
Desde o período colonial, sobretudo com o processo de escravização de povos indígenas e africanos, criou-se uma restrição ao acesso dessa parcela da população à educação, ao mercado de trabalho e ao território. A sociedade brasileira também se apropriou dessa lógica.
“Através da linguagem, você replica esse processo estrutural e reforça a superioridade de um grupo em detrimento de outro. Dessa forma, a sociedade vai moldando padrões estéticos e culturais, bem como o próprio entendimento de cidadania”, explica Juarez Tadeu de Paula Xavier, doutor em Comunicação e Cultura.
Nesse sentido, o letramento racial é apresentado pelo ativismo social negro como o ponto de partida de uma educação antirracista. O conceito foi utilizado pela primeira vez pela socióloga afro-americana France Winddance Twine, em 2003. No Brasil, o racial literacy foi traduzido para o português pela psicóloga Lia Vainer Schucman.
Ambas as pesquisadoras defendem o letramento racial como um conjunto de práticas para ensinar crianças e adultos a desconstruir formas de pensar e agir. Sendo que todas foram naturalizadas na relação entre pessoas negras e brancas.
Segundo a pesquisadora Lia Vainer Schucman, existem alguns passos para colocar em prática o letramento racial. São eles:
![Os 5 fundamentos do letramento racial](https://www.fundacaotelefonicavivo.org.br/wp-content/webp-express/webp-images/uploads/2021/11/letramento-racial-00.jpg.webp?x68836)
![1. Reconhecimento da branquitude > Embora representem a menor parcela da população brasileira, as pessoas brancas são beneficiadas pela falsa ideia de superioridade reforçada desde os tempos da colonização. Isso faz com que esse grupo ocupe posições privilegiadas, que facilitam o acesso à espaços de decisão.](https://www.fundacaotelefonicavivo.org.br/wp-content/webp-express/webp-images/uploads/2021/11/letramento-racial-carrossel-01.jpg.webp?x68836)
![2. Racismo não está no passado > Estatísticas e dados comprovam que a população negra continua a predominar nos índices de vulnerabilidade social. Ainda que os movimentos sociais tenham garantido maior debate sobre a questão racial. Por isso, políticas públicas e ações afirmativas são importantes para construir alternativas para esse cenário de desigualdades.](https://www.fundacaotelefonicavivo.org.br/wp-content/webp-express/webp-images/uploads/2021/11/letramento-racial-carrossel-02.jpg.webp?x68836)
![3. Racismo é aprendido > Uma criança não nasce dominando uma linguagem, ela passa por um processo de alfabetização e letramento para assimilá-la. O mesmo acontece com o racismo, que é reforçado através de códigos e relações aprendidas por nós ao longo da vida.](https://www.fundacaotelefonicavivo.org.br/wp-content/webp-express/webp-images/uploads/2021/11/letramento-racial-carrossel-03.jpg.webp?x68836)
![4. Vocabulário racial > Expressões como “inveja branca” e “a coisa tá preta” são exemplos de estereótipos associados a pessoas brancas e negras, que perpetuam discursos racistas através da língua. A primeira é associada à bondade, enquanto a segunda traz uma conotação negativa. Ao substituí-las por sinônimos, o próprio vocabulário rompe esse ciclo.](https://www.fundacaotelefonicavivo.org.br/wp-content/webp-express/webp-images/uploads/2021/11/letramento-racial-04.jpg.webp?x68836)
![5. Interpretação de códigos racistas > Uma vez desconstruído o mito da democracia racial, interpretar códigos racistas em diversos contextos fica mais fácil. Dessa forma, pessoas negras e brancas serão capazes de pensar soluções que contemplem as necessidades de todos os cidadãos.](https://www.fundacaotelefonicavivo.org.br/wp-content/webp-express/webp-images/uploads/2021/11/letramento-racial-carrossel-05.jpg.webp?x68836)
![Os 5 fundamentos do letramento racial](https://www.fundacaotelefonicavivo.org.br/wp-content/webp-express/webp-images/uploads/2021/11/letramento-racial-00.jpg.webp?x68836)
![1. Reconhecimento da branquitude > Embora representem a menor parcela da população brasileira, as pessoas brancas são beneficiadas pela falsa ideia de superioridade reforçada desde os tempos da colonização. Isso faz com que esse grupo ocupe posições privilegiadas, que facilitam o acesso à espaços de decisão.](https://www.fundacaotelefonicavivo.org.br/wp-content/webp-express/webp-images/uploads/2021/11/letramento-racial-carrossel-01.jpg.webp?x68836)
![2. Racismo não está no passado > Estatísticas e dados comprovam que a população negra continua a predominar nos índices de vulnerabilidade social. Ainda que os movimentos sociais tenham garantido maior debate sobre a questão racial. Por isso, políticas públicas e ações afirmativas são importantes para construir alternativas para esse cenário de desigualdades.](https://www.fundacaotelefonicavivo.org.br/wp-content/webp-express/webp-images/uploads/2021/11/letramento-racial-carrossel-02.jpg.webp?x68836)
![3. Racismo é aprendido > Uma criança não nasce dominando uma linguagem, ela passa por um processo de alfabetização e letramento para assimilá-la. O mesmo acontece com o racismo, que é reforçado através de códigos e relações aprendidas por nós ao longo da vida.](https://www.fundacaotelefonicavivo.org.br/wp-content/webp-express/webp-images/uploads/2021/11/letramento-racial-carrossel-03.jpg.webp?x68836)
![4. Vocabulário racial > Expressões como “inveja branca” e “a coisa tá preta” são exemplos de estereótipos associados a pessoas brancas e negras, que perpetuam discursos racistas através da língua. A primeira é associada à bondade, enquanto a segunda traz uma conotação negativa. Ao substituí-las por sinônimos, o próprio vocabulário rompe esse ciclo.](https://www.fundacaotelefonicavivo.org.br/wp-content/webp-express/webp-images/uploads/2021/11/letramento-racial-04.jpg.webp?x68836)
![5. Interpretação de códigos racistas > Uma vez desconstruído o mito da democracia racial, interpretar códigos racistas em diversos contextos fica mais fácil. Dessa forma, pessoas negras e brancas serão capazes de pensar soluções que contemplem as necessidades de todos os cidadãos.](https://www.fundacaotelefonicavivo.org.br/wp-content/webp-express/webp-images/uploads/2021/11/letramento-racial-carrossel-05.jpg.webp?x68836)
Políticas afirmativas na educação
Sendo o racismo uma construção estrutural, o papel das instituições de ensino é central na redução de desigualdades sociais. Sabendo que o quadro de professores ainda não reflete a diversidade brasileira, a formação do corpo docente e a revisão do material didático-pedagógico são fundamentais para uma educação antirracista.
“Por isso as políticas afirmativas de acesso à Educação Superior foram consideradas conquistas relevantes. Assumir um compromisso ético de combate ao racismo exige revisitar bases pedagógicas e reinventá-las sob uma nova perspectiva”, afirma Juarez Tadeu, que também coordena o Programa Institucional de Educação pela Diversidade da Universidade Estadual Paulista (UNESP).
O especialista reforça que, mesmo na esfera cotidiana dos educadores, é possível fazer a diferença. É no ambiente escolar que as relações sociais começam a se desenvolver. Portanto, mediar esse processo com ajuda da comunidade escolar pode ser uma ferramenta potente para adotar práticas antirracistas.
“Isso pode ser feito através da troca de saberes entre a escola e organizações, coletivos e movimentos sociais que já trabalhem o letramento racial. Convidar essas pessoas para o espaço escolar é uma oportunidade de aprendizado tanto para os estudantes, quanto para os profissionais da educação”, recomenda.
Conquistas afirmativas nas políticas públicas
1988 → A Constituição Federal reconhece a discriminação racial como crime no Brasil.
1989 → A Lei Caó especificou o racismo, de forma geral, como um crime constitucional.
1996 → Atualização na Lei de Diretrizes e Bases para a Educação (LDB) passa a considerar o debate étnico-racial no ensino básico.
2003 → A lei 10.639 estabelece diretrizes e bases da educação nacional para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”.
2008 → A Lei 11.645 acrescenta o ensino de História e Cultura Indígena nas diretrizes curriculares.
2012 → A Lei de Cotas passou a destinar 50% das vagas em cursos de Ensino Superior para pessoas negras e estudantes de escolas públicas.
Letramento racial: da escola para a sociedade
O movimento também pode ser feito de dentro para fora. Foi assim com a turma de Educação Infantil da professora Marina Bittencourt, que decidiu organizar uma passeata para trazer a comunidade escolar como aliada no combate ao racismo. A mobilização aconteceu em 2018 e partiu de um estudo sobre Nelson Mandela.
“Tínhamos acabado de ler o livro ‘Madiba, o menino Africano’ e estávamos estudando sobre a luta por uma sociedade igualitária. Então, a Karoline, uma das minhas estudantes, sugeriu que fossemos às ruas ‘igual ao Mandela’ para ensinar que ‘racismo não era bom’”, relembra a educadora, que leciona há seis anos na EMEI Nelson Mandela.
Localizada na zona norte de São Paulo, a escola é considerada uma referência na educação em cultura da paz. Marina conta que passou por uma formação continuada, oferecida ao corpo docente, para entender como o racismo estrutural afeta os brasileiros desde a primeira infância.
“É muito comum ver desenhos de crianças de pele branca nas paredes de escolas infantis, isso também é letramento. Desconstruir esses estereótipos, valorizar a diversidade e entender o impacto dessas representações na autoestima das crianças, garante que elas sejam livres para construir soluções melhores para a sociedade no futuro”, finaliza a pedagoga.
Fundação Telefônica Vivo por uma educação antirracista
O curso Escola para Todos: Promovendo uma Educação Antirracista apresenta aos educadores opções de abordagens pedagógicas transformadoras para a construção de uma nova ambiência racial na escola. Com foco no combate à discriminação e no respeito às diferenças.
Disponível na plataforma Escolas Conectadas – parte do programa global de educação ProFuturo, iniciativa da Fundação Telefônica Vivo e da Fundação “la Caixa” -, a formação oferece um espaço formativo para o debate e reflexão do fazer pedagógico de modo a tornar a ação dos educadores cada vez mais antirracista.
Clique aqui e faça a sua inscrição!
Aproveite para conhecer a publicação Escola para Todos: Promovendo uma Educação Antirracista, que propõe uma jornada prática, guiada por exemplos reais e adaptáveis à realidade de cada educador. O intuito é que toda ação antirracista seja também uma intervenção no mundo e na vida dos estudantes e promova resultados promissores para a sociedade.
Clique aqui e baixe gratuitamente.