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Dia do Professor: educador de origem indígena transforma as aulas em um meio de inclusão cultural e difusão de tradições

#Educação#Educadores#EducaréIncluir

Imagem mostra o professor indígena Tiago Honório dos Santos. Ele é moreno, tem cabelos curtos e usa uma camisa xadrez.

O professor Tiago Honório dos Santos, ou Karai Tataendy – seu nome em Guarani -, nasceu em uma aldeia próxima ao litoral paulista, mas cresceu na Terra Indígena Tenondé Porã, no extremo sul da cidade de São Paulo. Na infância, questionava as razões de estar em um ambiente para aprender coisas distantes da sua realidade.

Incomodado com o olhar da educação tradicional para suas tradições, não aceitava a desvalorização da sua cultura e a autonomia da instituição localizada em um território indígena.

Aos 19 anos, quando concluiu o Ensino Médio, resolveu colaborar com a transformação da Escola Estadual Indígena Guarani Gwyra Pepó, a mesma em que estudou. Ele introduziu aulas em tupi-guarani. Hoje, aos 26 anos, é professor do Ensino Fundamental e leciona sua língua materna e cultura étnica.

Tiago comenta que a sua tomada de consciência ocorreu, principalmente, devido à falta de identificação com o que era ensinado.

“Nós, das primeiras turmas da aldeia, estudamos quase todo tempo com educadores não-indígenas que, muitas vezes, traziam uma grande influência da cultura dominante. A ideia de ‘se tornar alguém’ feriu nosso pensamento, porque já somos alguém desde a barriga de nossas mães. Isso estava promovendo um choque de cultura, mas sendo encarado como algo bom. Terminei o Ensino Médio tendo pensamentos contraditórios sobre mim e meu povo, e comecei a pensar sobre como ser alguém”.

Resgate cultural indígena pela educação

A aldeia Tenondé Porã, localizada em um território de 16 mil hectares, abrange parte dos municípios de Mongaguá, São Bernardo do Campo e São Vicente. Seus moradores se alimentam do que cultivam, vivem em casas de sapê e obtêm recursos do trabalho em instituições locais e da venda de artesanatos.

Cerca de 800 indígenas Guarani que habitam a aldeia lutam para manter vivos o idioma e as culturas ancestrais, apesar das adaptações causadas pela expansão das áreas urbanas.

A jovem Kerexu’i, 19, ex-aluna da Escola Guarani Gwyra Pepói, reforça a importância do trabalho do professor Tiago e da presença de educadores indígenas.

Imagem mostra a jovem ex-aluna. Ela uma uma blusa com listras nas cores rosa, preta e cinza. Está de touca e com a mão direita apoiada na cintura. Ela está em um ambiente que parece ser sua casa.

“Desde criança, quando entrei na escola, tive professores indígenas. Acho muito bom porque você aprende sobre a cultura e não só as matérias como português ou matemática, mas também Guarani. A gente aprende a escrever nossa própria língua e a fazer atividades como cantar e armadilhas no mato. Acho importante a gente estudar o que vem de fora, mas também fortalecer o conhecimento Guarani e a nossa identidade”, afirma.

O engajamento dos alunos pela representatividade indígena

É fundamental que os alunos se sintam próximos dos conteúdos que estão sendo apresentados para que possam assimilá-los com mais facilidade. Para além disso, é necessário que se vejam incluídos e capazes de alcançar seus objetivos educacionais.

“É muito importante ter professores indígenas na escola, porque ao mesmo tempo que eles são professores, eles são liderança. E acho que mais importante que isso é a gente se reconhecer como indígena e a importância da luta”, completa a jovem Kerexu’i.

Por isso, ter aulas na sua língua nativa, lições sobre as tradições e atividades próximas do cotidiano é essencial. Não somente para a autoestima dos alunos, como também para a conquista da sua autonomia.

Quando o estudante vê sua cultura e comunidade sendo valorizadas, ele conquista a segurança necessária para seguir seus planos sendo quem é. Sem a necessidade de ter que abrir mão dos seus costumes para chegar a algum lugar.

 

Políticas públicas e o respeito à diversidade cultural

Apesar de existirem políticas públicas sobre respeito à diversidade e implementação de escolas inclusivas, essas nem sempre são respeitadas. E isso contribui para a manutenção de métodos de ensino limitados e obsoletos.

Tiago ressalta que precisou mergulhar no mundo das políticas e das leis para adaptar o ensino às realidades dos seus alunos;

“Fui entendendo todo o sistema da escola, da burocracia e das dificuldades. Ao mesmo tempo em que ministrava aula, atendia às demandas do Estado de distribuição de material didático. E me orientava com professores mais antigos sobre o que poderia ser ensinado. Depois de alguns anos, me engajei forte na minha cultura, nos direitos e entendi o que é uma escola diferenciada. Está na Constituição Federal, nas leis estaduais e nos decretos. A partir daí, fui valorizando a minha cultura, o ser que somos e o quão importante é a defesa dessa cultura.”

 

Lições em tupi-guarani: professor promove resgate cultural em sala de aula
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