Conheça o livro infantil que foi grafitado em um muro na capital do país para facilitar o acesso à leitura
Quem nunca sonhou em se tornar invisível nas brincadeiras da infância? Pois esse é exatamente o superpoder de Mino na história de O Menino Invisível. Mas será que é tão legal assim não ser visto pelos outros? Essa é uma das reflexões trazidas ao longo das páginas do livro infantil. Mas esse não é um livro comum: antes de ilustrar páginas de papel, a publicação foi estampada ao longo de um muro em Brasília (DF), capital do país.
“Você já passou por mim (passou) / E nem olhou pra mim / Acha que eu não chamo atenção (acha) / Engana o seu coração”. A letra de Invisível, do grupo Baiana System, aponta para a insensibilidade cotidiana com os grupos mais vulneráveis. Da mesma forma, o autor Hugo Barros, de 42 anos, quis lançar luz sobre as crianças em situação de risco. Se há certa liberdade em não ser notado, a invisibilidade pode ser uma grande desvantagem. A história se propõe a falar disso de uma forma sensível para outras crianças.
“Desde que comecei a escrever para crianças, me comprometi a falar também de temas menos abordados nos livros, séries, filmes e outros materiais destinados a elas. Não sei dizer exatamente de onde surgiu o Mino, mas uma situação me marcou muito. Certa vez, ao pararmos com o carro em um sinal de trânsito, minha filha perguntou por que aquela criança estava ali no sol, vendendo chicletes”, relata Hugo sobre a origem da história.
O Menino Invisível só ganhou o formato tradicional, impresso em papel, em junho de 2020. Desde 2018 estampa os tijolos do endereço SQS 413, na Asa Sul da capital federal, por meio do projeto Livro de Rua. A carreira no mundo publicitário do escritor ajuda a entender como a iniciativa foi tomando forma e sendo construída.
Trabalhando com comunicação de marcas, na área de criação, escrever roteiros era parte de seu cotidiano. “Com o nascimento de minhas sobrinhas e, depois, de minha filha, comecei a me interessar também pelo universo infantil. Quando percebi, já estava escrevendo para crianças”, conta o autor, que hoje cursa mestrado em literatura infanto-juvenil pela Universidade de Brasília (UnB).
Mas o impulso para criar um livro a céu aberto veio mesmo da dificuldade em encontrar editoras, que se negavam a publicar a história por conta da crise no mercado. Foi revisitando o roteiro sobre a saga de Mino que veio a ideia. E, assim, a literatura se uniu à arte de rua.
“Sempre digo que foi a história que me levou a querer grafitar o livro e não o contrário. Se o personagem vive e dorme ali, no meio da rua, por que não imprimir a história lá?”, indagou Hugo Barros.
Potencializando e democratizando o acesso a livros
Segundo a 5ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, entre 2015 e 2019, a porcentagem de leitores no Brasil caiu de 56% para 52%, o que corresponde a uma perda de mais de 4,6 milhões de leitores no período.
Para Hugo, não é uma verdade absoluta dizer que as crianças brasileiras não têm acesso algum aos livros. Muitas cidades têm bibliotecas públicas, assim como as escolas. Contudo, a oferta ainda é pequena e esses espaços tendem a ser excludentes e pouco convidativos.
“Você pode passar em frente a uma biblioteca com seu filho que, se já não há o hábito de ler, ele não vai pedir para entrar. Se você também não tem esse hábito, não vai convidá-lo a entrar. Mas é diferente quando a gente está andando na rua e se depara com um livro gigante pintado no muro ou no chão”, afirma o autor.
Com 3 metros de altura e 80 metros de comprimento, ocupando o muro de um posto de gasolina, a obra que conta a trajetória de O Menino Invisível convida as pessoas para a leitura com um princípio parecido com o da propaganda.
“Por que você acha que as marcas fazem propaganda em outdoors? Essa é uma forma de despertarmos nas crianças a vontade de lerem livros. A arte do grafite é, sem dúvida, uma ferramenta importante nesse processo. As pessoas admiram o grafite, que enfeita as cidades. E, no caso do Livro de Rua, o grafite enriquece e torna as histórias mais atrativas”, conta Hugo Barros.
A muralista e grafiteira Camila Santos, mais conhecida como Siren, foi a encarregada de dar formas e cores a Mino, o personagem criado por Hugo Barros.
A muralista e grafiteira Camila Santos, mais conhecida como Siren, foi a encarregada de dar formas e cores a Mino, o personagem criado por Hugo Barros.
A muralista e grafiteira Camila Santos, mais conhecida como Siren, foi a encarregada de dar formas e cores a Mino, o personagem criado por Hugo Barros.
A muralista e grafiteira Camila Santos, mais conhecida como Siren, foi a encarregada de dar formas e cores a Mino, o personagem criado por Hugo Barros.
A muralista e grafiteira Camila Santos, mais conhecida como Siren, foi a encarregada de dar formas e cores a Mino, o personagem criado por Hugo Barros.
A muralista e grafiteira Camila Santos, mais conhecida como Siren, foi a encarregada de dar formas e cores a Mino, o personagem criado por Hugo Barros.
A muralista e grafiteira Camila Santos, mais conhecida como Siren, foi a encarregada de dar formas e cores a Mino, o personagem criado por Hugo Barros.
A muralista e grafiteira Camila Santos, mais conhecida como Siren, foi a encarregada de dar formas e cores a Mino, o personagem criado por Hugo Barros.
Planos para o mundo pós-pandemia
O projeto Livro de Rua já conta com apoio financeiro de um edital de cultura do Distrito Federal para garantir mais três novas histórias, que já estão prontas para irem paras as ruas da capital. No entanto, devido à epidemia causada pela Covid-19, foi preciso mudar os planos. Se a recomendação de “quem puder, fique em casa” ainda é necessária, não é possível incentivar os leitores a saírem de casa, ainda que seja a céu aberto.
“Assim que sentirmos que é seguro para as crianças e famílias, nós retomaremos o projeto e publicaremos as novas histórias. Não temos uma data definida para isso, infelizmente. Também é nosso desejo levar o projeto e os livros para outras cidades e Estados. “Estamos ansiosos pela vacina! Não apenas porque poderemos voltar a publicar histórias, mas, principalmente, porque estaremos livres dessa doença”, projeta o autor.