Dos clássicos aos contemporâneos, descubra alguns livros infantojuvenis que impactam a literatura nacional
Quem não gosta de boas indicações de livros da literatura infantojuvenil?
Desde a poesia lúdica de Cecília Meireles (Ou Isto ou Aquilo), o olhar crítico de Ruth Rocha (Marcelo, Marmelo, Martelo), até os carismáticos personagens de Ziraldo (O Menino Maluquinho), o universo infantojuvenil brasileiro passa por constante transformação, ganhando novas cores e contornos à medida que acompanha o imaginário de cada época.
Por isso, de tempos em tempos, é importante abrir novas portas para a imaginação e adicionar outros formatos e ideias ao seleto hall dos livros infantojuvenis considerados clássicos.
“Clássicos são aqueles que a gente precisa conhecer e reconhecer! Escrever para crianças é muito difícil, pois você precisa traduzir em poucas palavras a mensagem que quer passar, cativando e trazendo um entendimento ao mesclar forma e conteúdo”, acrescenta a jornalista Aryane Cararo, que também é escritora e especialista em literatura e livros infantojuvenis.
Além de Cararo, consultamos Ilan Brenman, autor de livros infantis, e Cristiane Rogerio, jornalista da revista Crescer, para listar livros que, independente do status no cenário literário, impactam e contribuem para a formação integral de crianças e jovens. A intenção é traçar um paralelo entre livros considerados clássicos nacionais e obras ilustradas contemporâneas que também alcançaram notoriedade. Confira a seguir:
Livros infantojuvenis: obras contemporâneas
Drufs – Eva Furnari
Eva Furnari, autora do clássico A Bruxinha Atrapalhada, trabalha a experimentação no título Drufs, ganhador do prêmio Jabuti 2017. A história gira em torno do universo dos Drufs, mas o que surpreende mesmo é o projeto gráfico e de criação desses personagens, feitos a partir de fotografias divertidas dos dedos das mãos.
As famílias de crianças drufs apresentam as mais diversas configurações e problemas variados, ensinando importantes lições sobre respeito.
A Raiva – Blandina Franco e José Carlos Lollo
Escrito por Blandina Franco e ilustrado por José Carlos Lollo (Quem soltou o Pum?), o livro ganhou o Prêmio Jabuti 2015 e traz A Raiva como personagem principal. Todas as crianças (e adultos!) conhecem esse sentimento, mas nesta obra podem observar como ela se comporta, começando pequenininha e tomando proporções imensas até explodir!
De uma forma divertida, o livro conduz os leitores através das próprias emoções e traz uma reflexão importante sobre a maneira que lidamos com elas.
Até as Princesas Soltam Pum – Ilan Brenman
Indicado por Aryane Cararo e Cristiane Rogerio, o livro de Brenman vem para quebrar o estereótipo de princesas sempre delicadas e perfeitas.
Até as Princesas Soltam Pum parte de um questionamento de Laura, a protagonista do livro. Com a ajuda do pai, a menina descobre um livro secreto que revela uma série de segredos sobre o código de conduta das princesas clássicas e as aproxima da nossa realidade.
Armazém do Folclore – Ricardo Azevedo
Com ilustrações que lembram a técnica do cordel, Ricardo Azevedo reúne em uma única obra diversos formatos para traduzir os contos e mitos brasileiros, usando poesia, ilustrações, adivinhações, receitas, trava-línguas, frases e ditados, sem jamais deixar de lado a interatividade com o leitor.
Vencedor do prêmio Jabuti 2000, Armazém do Folclore de fato carrega o conhecimento do autor sobre a cultura brasileira. De uma forma cativante mergulha os leitores na diversidade e riqueza de nossas próprias histórias.
Bárbaro – Renato Marconi.
Bárbaro, livro ilustrado de Renato Marconi publicado pela Companhia das Letrinhas, conquistou um Jabuti e surpreende pela experiência que traz ao universo infantojuvenil. A história é contada sem o auxílio de textos: as imagens constroem, por meio da disposição nas páginas, uma bela narrativa.
Vemos um guerreiro determinado montado em seu cavalo que enfrenta uma série de perigos, mas em nenhum momento muda a expressão ou deixa de seguir na direção que quer. Quando a luta atinge o ápice, viramos a página e nos surpreendemos com o poder da imaginação! Com delicadeza Marconi traça um paralelo entre o mundo real e o da fantasia.
O Reizinho Mandão – Ruth Rocha
Publicado em 1973, o humor crítico de Ruth Rocha foi impresso nas páginas de O Reizinho Mandão. A história fala de um menino, que também era Rei, mas não sabia se expressar. O reizinho mandava todos calarem a boca. De tanto calar, seus súditos desaprenderam a falar. A partir disso, ele parte em uma jornada na tentativa de reverter essa situação assustadora.
Com uma linguagem fácil, recursos de narrativa cativantes e de forma didática, a autora consegue trazer reflexões sobre democracia, liberdade e relações de poder.
Flicts – Ziraldo
O ilustrador, escritor e cartunista Ziraldo, muito reconhecido pelo livro O Menino Maluquinho, escreveu, em 1969, outra obra que se tornou conceituada entre os clássicos. Flicts conta a história de uma cor que não se encaixa, não tem espaço no arco-íris, não tem o reconhecimento das outras cores, como o Vermelho, o Amarelo e o Azul.
À medida que a narrativa avança, a busca de Flicts se torna a busca de todos nós por um lugar no mundo, e deixa claro que o respeito às diferenças nos tornam fortes, mostrando que tudo e todos têm um propósito. Ótima indicação de livro infantojuvenil.
Bisa Bia Bisa Bel – Ana Maria Machado
A história de Bel, uma menina curiosa e inquieta de 10 anos, foi publicada em 1981, mas continua a refletir os tempos atuais. Ana Maria Machado narrou o momento em que sua personagem encontra a foto da bisavó, Bia, e começa a se interessar pelo papel dessa figura na família e a se aventurar pelas descobertas dos antepassados.
Ela então cria uma bisneta imaginária e traça um paralelo entre passado, presente e futuro. Com uma linguagem solta e informal, Bisa Bia Bisa Bel envolve o jovem leitor no autoconhecimento de Bel em uma fase importante da vida: a passagem para adolescência. Sem dúvida, um dos livros infantojuvenil para todas as idades.
Bolsa Amarela – Lygia Bojunga
O universo das vontades é trabalhado com maestria por Lygia Bojunga em Bolsa Amarela. Narra a história de uma menina que esconde três coisas: a vontade de ser escritora, de crescer logo e de ser um garoto.
Tudo isso é guardado em uma bolsa amarela, que será rejeitada pela família despreparada para lidar com os desejos dessa criança. Buscando refúgio em um mundo de imaginação e fantasia, o livro infantojuvenil mescla situações do cotidiano com linguagem lúdica para guiar a personagem e o leitor a uma viagem de autoconhecimento.
Além das sugestões dos especialistas, vale a pena acompanhar as obras do premiado ator, cineasta e apresentador Lázaro Ramos, que escreveu dois livros infantis baseados nos diálogos cotidianos travados com seus filhos João e Maria. Os livros foram lançados pela editora Pallas e trazem ilustrações de Mauricio Negro.
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